O FC Porto levanta Rodrigo Mora e Rodrigo Mora levanta o Dragão
JOSE COELHO
Foi já nos últimos minutos do jogo que o FC Porto desamarrou o empate que parecia certo contra o Estrela Vermelha, batendo os sérvios por 2-1. Rodrigo Mora marcou o golo da vitória, levado em ombros pelos colegas, que sabem bem que o miúdo genial precisava deste momento. E isto também é o FC Porto de Farioli
Quando a adrenalina atravessa o corpo e rebenta nas terminações nervosas, o festejo explode. Festejam-se golos, mas também se celebram cortes. Não estará nos cânones das regras não escritas do saber estar em campo, mas também, deus nos perdoe, se festejam erros alheios.
Quando, já nos descontos, Rodrigo Mora viu, mesmo diante dos seus olhos, um jogador do Estrela Vermelha a deixar fugir uma bola fácil já no último terço, festejou como se de um título se tratasse. Rodrigo a levantar o Dragão, pela segunda vez em meros instantes.
Foi uma espécie de pagamento em géneros do pequeno génio, antes ele próprio levantado pela sua equipa, metafórica e literalmente. Levantou-o construindo-lhe um golo, o seu primeiro da época, levantou-o depois em ombros, sabendo da importância daquela bola a seguir baliza dentro para alguém que, esta temporada, está a aprender os caminhos que as escadas rolantes do futebol têm para oferecer.
O FC Porto de Francesco Farioli também é uma equipa de sacrifício, nota-se mais na Europa do que dentro de portas, uma equipa de celebrações retumbantes, chamem-lhes exageradas face ao dealbar da época, mas a tal adrenalina tantas vezes não se explica. Vive-se, enquanto fizer sentido que se viva. E este FC Porto, até agora, não tem razões para a viver.
Na Liga Europa são duas vitórias difíceis, a namoriscar com o apito para o final do prélio, em exibições talvez dentro do satisfaz para uma temporada que tem sido quase sempre de satisfaz bastante. É também a vitória de uma estratégia de Farioli, a apostar numa equipa vestida de segundas linhas, sem pejo de dizer que, no fim de semana, há um jogo mais decisivo e importante, contra outra equipa vermelha.
William Gomes, o homem dos golos bonitos, tentou mais uns quantos esta noite no Dragão, mas só conseguiria marcar da forma mais prosaica possível (todos contam, todos contam), num penálti sem sacarina, só osso. Remate rasteiro, a enganar o guarda-redes. Ainda nem se contavam 10 minutos no relógio e a folha de encargos já parecia completa. Deniz Gul, um homem renovado desde a chegada do italiano e que já tinha sido o ladrão do penálti, continuou a sua senda pelo aproveitamento de oportunidades, uma ataque à profundidade de cada vez. Aos 15’, rematou ainda bem longe, para defesa de Matheus, ex-SC Braga. O FC Porto parecia não com a corda toda, mas com fio mais do que suficiente para amarrar os sérvios, mais tenrinhos fora de casa do que no Marakana de Belgrado.
Assim parecia, não fosse Ivanic, atacante com número 4 na camisola, interessante escolha, quase aproveitar um arrependimento de Diogo Costa e uma falta de atenção de Martim Fernandes. Não muito depois, num livre direto, o FC Porto permitiu que Veljkovic ganhasse o lance e, depois, Alarcón esqueceu-se de acompanhar Kostov, a rematar em jeito, de primeira, para um golo cheio de pequenos trivias para contar: foi o primeiro golo sofrido pelo FC Porto marcado por um adversário (o primeiro foi um auto-golo) e a primeira vez que este FC Porto se viu com uma vantagem anulada.
JOSE COELHO
Se há algo digno de nota a vermelho neste jogo para Farioli será mesmo a forma como a sua equipa reagiu a esta excentricidade que é perder a mão. Os espasmos de passes falhados, faltas, ideias soltas, só foram estancados com a entrada da cavalaria pesada lá para dentro. Froholdt só teve direito a meia parte de descanso, entrariam também Alberto Costa, Borja Sainz, Pepê e Gabri Veiga entre os habituais titulares de Farioli, que teria ficado bem mais descansado se nenhum deles tivesse tido a necessidade de entrar.
Com eles, a equipa melhorou, ainda que dando, aqui e ali, motivos para o Estrela Vermelha sonhar. Arnautovic e Bruno Duarte, ex-Vitória, cheiraram o golo. Rodrigo Mora, num momento de experimentalismo a jogar a falso nove, obrigou Matheus a dar uso às falangetas para salvar um remate venenoso, oferecido por Borja. Froholdt, aparentemente desesperado, quase sempre calmo, tentava o que nem sempre parecia possível: guardar a bola para a sua equipa. Os inúmeros lances perdidos por Zaidu não ajudavam.
Foi nesta toada de jogo partido, taticamente indisciplinado e a caminhar para um empate esteticamente nada digno de nota, que Gabri Veiga viu Pepê sozinho na direita e arqueou de primeira uma bola até ao brasileiro que, nada egoísta, sabendo muito bem que, para certos jogadores, um golo pode ser bem mais do que um golo, deu o docinho a Rodrigo Mora. O miúdo, até aí algo errático, mas nunca desligado do jogo, encostou para um golo que selou mais uma vitória do FC Porto, que só sabe o que é ganhar esta temporada.
Os colegas levantaram Rodrigo em ombros, Samu, o seu amigo Samu, pegou nele com a facilidade com que um gigante pega numa criança. Com mais ou menos cor, Dragão é um parque de diversões. No domingo pode tornar-se em terreno ainda mais encantado.