Entre forças de bloqueio e os ferros, as estratégias de FC Porto e Benfica não deram em golo
Octavio Passos
O Benfica não quis perder o jogo, o FC Porto acabou a conformar-se com a ideia de não arriscar ser surpreendido. No final, o nulo foi uma consequência lógica, ainda que os ferros tenham roubado golos a um Clássico pouco entusiasmante, mas onde, ainda assim, os dragões foram mais perigosos
O taticismo faz parte do futebol e é difícil qualificar de “inesperada” a estratégia de Mourinho no Dragão. Há muito que o treinador português se tornou num general na arte de anular, bem menos quando o assunto é criar. Linhas de passe bloqueadas, marcações ao homem, Enzo em cima de Victor Froholdt, Richard Ríos como cão de guarda de Alan Varela, a evitar que o argentino jogasse de frente para o jogo. Outros já o fizeram esta temporada, lá fora principalmente, e foi precisamente nesses jogos que o FC Porto de Farioli mais tremeu. Mourinho fez o seu trabalho de casa de forma competente, isso ninguém lhe pode tirar.
O Benfica não podia perder este jogo, admitiu o treinador português no final do jogo, nem precisava desse assomo de honestidade, porque admitia-o a realidade. E foi com esse complexo panorama em mente que os encarnados entraram no Dragão. Há quem lhe chame riqueza tática, na verdade pode ser só instinto de sobrevivência. O nulo final no Clássico da 8.ª jornada agradará, por isso, mais ao Benfica, ainda que não faça grande espécie ao FC Porto de Farioli, que percebeu cedo as intenções do adversário e também não se expôs em demasia.
Octavio Passos
Ainda assim, respeitinho que é muito bonito à parte, a intensidade do FC Porto foi encontrando os seus espaços para respirar na 1.ª parte, esgueirando-se aqui e ali das amarras do Benfica, que ofensivamente abdicou de qualquer risco.
Gabri Veiga, aos 18’, quase marcava de calcanhar, após cruzamento de Froholdt, atrapalhando-se na sua própria tentativa de malabarismo. Com o metro quadrado a preços altamente especulativos, Pepê desaproveitou uma súbita clareira na área do Benfica, depois de Samu ganhar na marra, rematando demasiado em jeito, demasiado por cima. Ainda antes do intervalo, Gabri ganhou a frente a Richard Ríos e Borja Sainz deu de calcanhar para a entrada de Francisco Moura na ala esquerda, numa das jogadas-tipo deste FC Porto. Desta vez, o remate embateu em António Silva. Trubin travou a recarga.
Com os jogadores do Benfica a respirar no pescoço de cada adversário, Bednarek tentava passes longos, progressivos, sem grande sucesso. Para o Benfica, apenas um remate na 1.ª parte, um livre direto de Sudakov que Diogo Costa defendeu com segurança. As intenções dificilmente se escondiam, o zero-zero era uma consequência, que penalizava o FC Porto.
Terá resultado a força de bloqueio encarnada, azucrinando a paciência e a resistência do FC Porto. Viu-se mais a frustração, talvez o cansaço, na 2.ª parte, onde a qualidade de jogo baixou. Os encarnados viraram a hora de jogo sem mais remates, a equipa de Farioli deixou de ter a frieza para encontrar os poucos espaços disponíveis. A melhor oportunidade do Benfica saiu do pé torto de Kiwior, que enviou um corte para a sua própria barra. Com a fadiga a acumular-se nas pernas portistas, Dedić tentou um par de arrancadas, inconsequentes.
Octavio Passos
A entrada de William Gomes trouxe alguma imprevisibilidade, mas desta vez não houve o proverbial grande golo do brasileiro que, depois de um primeiro remate perigoso, perdeu-se em iniciativas individuais pouco eficazes. Samu, com um jogo difícil, terá saído demasiado tarde, o jogo pedia a capacidade de Gül a jogar em apoio e passou pelo internacional turco o lance que podia ter rebentado o Dragão. Apanhando o Benfica desposicionado, num raro contra-ataque, Gül foi afoito a encontrar Rodrigo Mora - outro que chegou demasiado tarde ao jogo - na área. A meio da semana, o miúdo resolveu nos últimos suspiros frente ao Estrela Vermelha. Este domingo foi a barra a travar a explosão nas bancadas.
E terminou assim um fim de semana atípico, em que as quatro principais equipa do campeonato se travaram mutuamente, como que optando conscientemente em manter o status quo. Soube a pouco para quem pouco se anima com estratégias pragmáticas, para quem se agarra em demasia à realidade. Numa fase tão prematura da época, difícil ser de outra forma. Que lá mais para a frente o risco seja outro.