Crónica de Jogo

A Hungria serviu o desgosto que Portugal já andava a merecer

A Hungria serviu o desgosto que Portugal já andava a merecer
Soccrates Images

Em mais um jogo em que não foi brilhante, a seleção nacional sofreu um golo aos 90+1’ e empatou contra a Hungria (2-2). Sem o fator sorte que tanto tem ajudado noutras ocasiões, Portugal viu expostas as suas debilidades e adiou o apuramento para o Mundial

Aos 90 minutos, Portugal tinha o apuramento na mão. Estava a ganhar à Hungria e a Arménia ia perdendo contra a Irlanda, condições necessárias para que as contas da qualificação para o Mundial 2026 ficassem fechadas. Quando Dominik Szoboszlai empatou o jogo, a seleção nacional foi recordada de que aquela vitória não estava garantida.

Os sinais enviados para o interior do campo podem estar relacionados com a atitude tépida. Após os 60 minutos, Roberto Martínez deu início à ronda de substituições. Francisco Trincão, que desbloqueou o difícil jogo contra a Irlanda, não entrou para que Francisco Conceição o pudesse fazer. A gestão robótica do plantel, alheia a fatores que conciliem o mérito com o contexto, deu por encerrado um encontro que não o estava.

O selecionador que tanto pede aos adeptos que desfrutem de uma equipa que joga “muito e bem” provocou-lhes uma grande desilusão. Mais tarde ou mais cedo, Portugal vai conseguir a qualificação para o Mundial, mas é preocupante a frequência com que se expõe à sorte e ao azar. Desta vez, calhou o lado mais nocivo da moeda.

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A inicial impaciência de Portugal foi paga com a desvantagem. Vitinha abria os braços entediado com o facto de ninguém desejar receber a bola tanto como ele. Os piscas não assinalavam grandes mudanças de via. Assim que um corredor era escolhido, as ideias encravavam. Apesar de tudo, a porta em formato 4x4x2 da Hungria tapava apenas metade do sítio pelo qual era possível passar.

O canto de Szoboszlai chegou da esquina do campo até à pequena área com intenção. Previa-se que fizesse paragem na área de jurisdição de Diogo Costa. Em vez disso, foi diretamente ter com Attila Szalai, que cabeceou sem que se pudesse dizer que o namoro entre os pés e o chão tenha passado a ser à distância e os magiares puseram-se na frente.

Os níveis de competitividade estavam pouco ventilados. Nuno Mendes até cobrou um livre em direção de si próprio. Antes do bis de Cristiano Ronaldo vir momentaneamente apaziguar tudo isto, Bendegúz Bolla animava as esperanças da Hungria superdimensionar o peso no marcador. O elemento mais ofensivo da ala direita apareceu sozinho para chutar de primeira uma bola que lhe chegou via aérea. De seguida, o jogador do Rapid Viena ganhou a linha para cruzar. Desperdiçou Roland Sallai.

Na história, Cristiano Ronaldo atirou a boia a Portugal em muitas situações de aperto. A idade do capitão fez a dependência desaparecer. No entanto, há algo para o qual a seleção ainda não encontrou substituto. Aos 40 anos, continua a ser alvo de stalk por parte das nuvens de gritos que podem já não ser tributo a um jogador de topo, mas ajustam-se a uma figura lendária. Podem vir DJ’s, animadores e toda a artificialidade que rodeia um jogo de futebol. Nada bate a aproximação de CR7 e a sua doação de alegria.

Escondido no ângulo morto dos centrais, o jogador do Al Nassr concretizou o golo 40 em fases de qualificação e tornou-se no melhor marcador de sempre em preâmbulos de Mundiais. Logo a seguir ao 40, veio o 41, uma enxurrada da dimensão das ondas que surgiram na bancada por causa dele.

Gualter Fatia

A seleção está habituada a andar às cambalhotas com a Hungria. Portugal e começar jogos a perder contra os magiares é uma união de factos repetida. A visita a Budapeste teve um capítulo inaugural semelhante àquilo que se passou em Alvalade. Nessa ocasião, em setembro, a equipa de Roberto Martínez completou a reviravolta apenas nos últimos minutos do encontro, experiência inversa àquela pela qual passou um mês depois.

Marco Rossi e Roberto Martínez honraram o dia mundial dos carecas com calvas presenças em ambos os bancos. Se o pudessem fazer, teriam perdido cabelo com a quantidade de vezes que o jogo se partiu, situação que justificava que Pedro Neto pouco recuasse da linha do meio-campo.

João Félix entrou para protagonizar uma demonstração de pouca eficácia perante o serviço de Francisco Conceição. Os postes prestaram um serviço relevante na definição do resultado. Rúben Dias e Bruno Fernandes acertaram no ferro da baliza de Balázs Tóth no espaço de segundos. Ainda assim, não convinha a Portugal queixar-se dos limites da baliza. A seleção era incapaz de estancar cedo as iniciativas dos húngaros que, mesmo sem enorme fluidez, iam progredindo. Às tantas, Milos Kerkez levantou para Szalai ver a barra negar-lhe o empate, algo de que Dominik Szoboszlai se viria a encarregar de fazer.

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