Crónica de Jogo

Quando não há quem pense fora da caixa, Pavlidis pensa fora da área e assim o Benfica segue na Taça de Portugal

Quando não há quem pense fora da caixa, Pavlidis pensa fora da área e assim o Benfica segue na Taça de Portugal
PEDRO SARMENTO COSTA

Foi a guerra de um grego contra os transmontanos. O bis de Pavlidis colocou o Benfica na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. A vitória frente ao GD Chaves (0-2) não ficou isenta de uma complexidade pouco esperada frente a um adversário de escalão inferior que não se comportou como tal

O Benfica parece estar numa permanente luta contra a lógica, tendo as vitórias que lhe serem imposta perante a tamanha vontade demonstrada pelos encarnados em combaterem a ordem natural das coisas.

Os primeiros minutos da estreia dos encarnados na Taça de Portugal mostraram o filme que conhecemos: um conjunto da Primeira Liga a dominar um da Segunda, encostando-a às cordas. Sem revoluções num onze inicial a precisar de rotinas, o previsível era que a insistência se mantivesse. Porém, a matriz pouco competitiva da equipa de José Mourinho permitiu que esta competição que esbate hierarquias fizesse das suas. Um GD Chaves vigoroso fez peito ao Benfica mesmo que, no final, o espetáculo de um só homem tenha impedido os transmontanos de serem premiados.

Podia parecer cedo demais para se pensar na terceira parte do encontro. Entenda-se que, em região onde o fumeiro faz um conhecido trabalho, Pavlidis encheu-se de coragem, mas o gesto que executou foi um anti-chouriço. O grego fez uma rotunda por fora dos centrais e o remate ao canto da baliza do GD Chaves gerou um rasto de purpurinas. Um avançado que não deixa notas de elegância, deixa blocos inteiros. Perdoem-lhe a ameaça que causou à fauna voadora de Trás-os-Montes ao finalizar por cima um lance em que apareceu numa posição lateral que, em condições normais, não o impediria de visar a baliza.

Samuel Soares terá sido um dos maiores lesados pela saída de Bruno Lage. O ex-treinador do Benfica fez do internacional jovem português um segundo guarda-redes mais ativo do que o habitual. Com José Mourinho, o vencedor da Youth League em 2021/22 ainda não se tinha estreado. A desabituação ao jogo fê-lo não ter carapaça para a intranquilidade.

PEDRO SARMENTO COSTA

As luvas untadas deixaram escapar a bola para o molho de jogadores que, num canto, o GD Chaves colocou na pequena área a tentarem tramar o pioneiro guardião. Aquilo que se lhe pedia, aliviar a bola, não foi totalmente conseguido. Pelo menos, esta também não ficou totalmente ao alcance de Paulo Victor que foi vencido pela inércia do corpo e errou a deserta baliza.

O imperdoável desperdício de Lukebakio, isolado face a Marko Gudzulic, fez ricochete e atingiu o Benfica com uma substância anestesiante. O GD Chaves passou os primeiros minutos a ser dominado, mas começou a explorar as brechas. Kiko Pereira foi criterioso no cruzamento e o equivocado corte da defesa das águias aterrou em Paulo Victor que desperdiçou de novo.

A determinado momento José Mourinho pareceu querer proteger o Benfica de um novo arraso reputacional e defendeu-se ao retirar do campo aquele que seria o alvo mais fácil numa eventual emboscada de críticos. João Rego foi titular nos encarnados, condição que tinha tido unicamente na passada edição da Taça de Portugal.

PEDRO SARMENTO COSTA

Não foi por encurtar uma rara oportunidade dada ao médio de 20 anos que o Benfica cresceu. A equipa da Luz continuava a ter pouca noção de ritmo e era incapaz de ser egoísta, partilhando com os jogadores de Filipe Martins as interações com a bola.

Samuel Soares, em nova ação atabalhoada, evitou que o chapéu de Carraça o sobrevoasse por completo em novo sinal de vivacidade do GD Chaves. O Benfica estava a precisar de alguém que pensasse fora da caixa. Fora da caixa ou fora da área. De posições remotas, Pavlidis aumentou a vantagem num golo em que voltou a valer por si. A margem mais dilatada serviu para o Benfica dar ilusórias oportunidades a João Veloso e Ivan Lima.

José Mourinho bem queria que nesta 3.ª eliminatória da Taça de Portugal lhe tivesse calhado o Águias da Musgueira, o Oriental ou o Cultural da Pontinha, mas saiu-lhe o GD Chaves. Uma viagem ao topo do mapa pode causar questões logísticas, mas há problemas, nomeadamente os futebolísticos, que o Benfica leva para onde quer que vá.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: fsmartins@expresso.impresa.pt