O Sporting meteu-se em trabalhos e precisou de horas extraordinárias para bater o Paços de Ferreira
MANUEL FERNANDO ARAUJO
O detentor do troféu teve de dar a volta ao resultado por duas vezes e foi obrigado a ir a prolongamento para bater o Paços, antepenúltimo da II Liga (3-2). Num jogo em que tremeu defensivamente, só um auto-golo resolveu a eliminatória para a equipa de Rui Borges
Numa era de calendários carregados, qualquer minuto adicional moi, causa mossa. E o Sporting, por displicência e passividade, jogou mais meia-hora em Paços de Ferreira, equipa que é antepenúltima na II Liga, onde ainda não ganhou qualquer jogo, e que ainda assim obrigou o detentor do título a correr atrás do prejuízo por duas vezes.
A vitória por 3-2, conseguida apenas no prolongamento, permite ao Sporting avançar para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, mas carrega de mais dúvidas um leão que foi para a paragem das seleções já prestes a sentar-se no divã. Há jogadores em sub-rendimento (Quaresma), outros que talvez não rendam mais do que isto (Mangas, Alisson) e mais alguns com lapsos esquisitos de concentração (Hjulmand). E ainda que ofensivamente o Sporting mostre bons pormenores, atrás treme quando não tem os seus melhores.
A entrada desligada do Sporting teve consequências, que não serviram de lição ao longo do jogo. João Caiado avisou logo aos 3 minutos, depois de um disparate de Hjulmand em zona onde não convém cometer disparates. E ainda antes dos 20 minutos, nova sucessão de erros no corredor central foi um convite que o Paços não podia recusar: Alisson perdeu a meio-campo, Quaresma falhou a abordagem e João Victor e Ronaldo Lumungo ficaram livres para ligarem. O santomense com nome de craque rematou para o golo. Os passes falhados e as perdas de bola dos primeiros minutos tiveram a sua fatura.
MANUEL FERNANDO ARAUJO
Reagiu ainda assim bem o Sporting, marcando nem cinco minutos depois, com Pedro Gonçalves a rematar com a souplesse que já lhe é conhecida com o pé esquerdo à entrada da área, quase repetindo a gracinha uns minutos depois. Aí, já o jogo corria melhor aos leões, a crescer ofensivamente, com bons pormenores de ligação rápida, em poucos toques, que não farejariam, no entanto, o caminho para a baliza. Só que, no outro topo, no jogo que marcou o regresso de Diomande ao eixo da defesa, o Sporting tremia a cada ataque rápido do Paços. Controlar o desenrolar do filme parecia um trabalho impossível para a equipa de Rui Borges.
E tremeu bem logo nos primeiros minutos da 2.ª parte, passivamente a assistir à cavalgada de Miguel Mota pela direita, permitindo a Lumungo de novo envolver-se no ataque, ultrapassar Mangas e cruzar para o golo de João Victor. Frente a uma equipa que este ano anda de costas voltadas para as vitórias, o Sporting via-se, de novo, a ter de reagir.
Rui Borges lançou então Trincão e Fresneda, procurando mais talento e potência. O Paços fechava-se, com naturalidade, adivinhando sempre que possível os ataques rápidos, perante uma defesa do Sporting visivelmente intranquila, mas ainda assim a conseguir, de forma geralmente atabalhoada, resolver os lances mais bicudos.
Mais gente no ataque significou volume para o Sporting, mas poucas vezes acerto. Trincão, vindo de uma semana com algum destaque na seleção, entrou mal, somando passes desastrados e remates calamitosos. Alisson mantinha-se em campo de forma incompreensível. As boas intenções individuais foram quase sempre entraves ao jogo coletivo dos leões. O empate surgiria, assim, de bola parada, com Ioannidis a mostrar novamente inata capacidade para se desmarcar, respondendo com uma impulsão poderosa a um canto marcado por Quenda.
Num encontro que seria ideal para descansar, Luis Suárez foi obrigado a ir a jogo, engordando a presença do Sporting na área do Paços: mesmo antes do apito final, teve nos pés a melhor oportunidade do leão para evitar o prolongamento, rematando ao lado após cruzamento de Geny.
MANUEL FERNANDO ARAUJO
No prolongamento, o volume ofensivo do Sporting voltou a não ser sinónimo de precisão, ainda que Pote tenha estado novamente perto de marcar, e teria de ser um jogador de camisola amarela a encontrar a baliza. Aos 104 minutos, num momento infeliz, Tiago Ferreira, que tão bem tinha estado ao longo de todo o jogo, cortou na direção da sua baliza um cruzamento de Fresneda. Pela primeira vez em quase duas horas, o Sporting sabia o que era estar a ganhar neste jogo e não mais sairia dessa posição, ainda que, nos minutos finais, o Paços ainda tenha dado novas provas de vida, com alguns remates de longe que exigiram, pelo menos, a atenção de João Virgínia.
Anadia e Marinhense, entre estes dois, que se encontram no domingo, estará o adversário do Sporting na próxima fase da Taça de Portugal. E, na estreia, já houve susto e horas extraordinárias.