Um Forest mais crente foi abençoado por Jesus e o FC Porto pagou pelos pecados capitais
Nick Potts - PA Images
Dois erros daqueles que saem caro levaram às grandes penalidades que impuseram ao FC Porto a primeira derrota da época. O deslize na terceira jornada da Liga Europa, frente ao Nottingham Forest (2-0), serviu de aviso a uma equipa que nem sempre pode ir contra a parede e esperar que esta se parta
Mesmo que quisesse fazer o trabalho de casa, Francesco Farioli não tinha o livro de exercícios. Ange Postecoglou sucedeu a Nuno Espírito Santo, mas aguentou apenas 39 dias como treinador do Nottingham Forest. Na sequência do tumultuoso momento dos antepenúltimos classificados da Premier League, Sean Dyche foi apresentado apenas dois dias antes do FC Porto se deslocar ao City Ground. Tudo o que o técnico azul e branco pudesse preparar seria obra da sua intuição.
Bem-vindo! Aqui tem uma prenda! Foi mais ou menos assim que o FC Porto apadrinhou a estreia do técnico inglês, responsável por um triunfo que o Forest apenas tinha conseguido uma vez esta temporada e para o campeonato.
O Nottingham Forest é um clube com pergaminhos. Apesar de estar a matar uma fome de 30 anos das aventuras internacionais, as tricky trees venceram a Taça dos Campeões Europeus aka Liga dos Campeões duas vezes consecutivas, em 1978/79 e 1979/80, patamar atualmente longínquo para infortúnio de Evangelos Marinakis, o seu peculiar dono com poltrona reservada na bancada. Neste momento, trata-se de uma ex-equipa sensação frustrada, cuja derrocada os portugueses atenuaram graças a uma exibição competitiva, mas sem ideias.
Inicialmente, a alegria não penetrou em excesso no espírito de Marinakis, comedido, como raramente o vemos, nos festejos do penálti marcado por Morgan Gibbs-White. O jogo tilintava entre as duas áreas. Com Alan Varela arrochado aos centrais, o FC Porto mantinha-se equilibrado. Ainda assim, Hudson-Odoi fazia muito com pouco. Farioli não sabia o que esperar do adversário e, lá está, o perigo vem de onde menos se adivinha. Jan Bednarek manuseou um cruzamento, no qual foi legalmente importunado por Igor Jesus, justificação para o árbitro assinalar castigo máximo.
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A sonolência apoderou-se do encontro. Alan Varela tentou o abanão com um remate de longa distância travado por Matz Sels. A produtividade era curta. O FC Porto tentava atrair a pressão ao lateralizar os médios, mas o Nottingham Forest mantinha-se estruturado. As tentativas de ligação eram caçadas por Elliot Anderson e, sobretudo, por um Douglas Luiz disposto até a abraçar os adversários que ameaçassem enquadrar-se com o sentido da baliza.
Não é inédito o desconforto pelo qual o FC Porto passa quando a intensidade do opositor é semelhante à dos dragões. Quando se pede que a minúcia seja o fator distintivo, o desempenho da equipa de Farioli acanha-se.
Os portistas cobraram sempre os cantos como se estivessem a fugir à polícia, geralmente de forma curta. A desorganização do Forest foi aproveitada. Francisco Moura cruzou e Kiwior ganhou a primeira disputa. A bola ficou prensada e Bednarek quase deu com o pé o que tirou com a mão. O empate chegou a subir ao marcador, mas a posição irregular de Samu fez tudo voltar ao ponto em que estava.
De qualquer modo, a bola deixou de demorar tanto a ir dos pés de um jogador de azul e branco para outro. Gabri Veiga, numa rara presença no banco de suplentes, entrou para tentar dar ainda mais ímpeto à circulação. Pablo Rosario, a surpresa no onze, recuou. Porém, o falso golo congelou a reação sentida no início da segunda parte.
Nick Potts - PA Images
As tentativas de aceleração, de procurar o espaço, esbarraram em passes equivocados ou no solidário tampão do Nottingham Forest. Hudson-Odoi não deixava de procurar fazer do contra-ataque o meio para aumentar a vantagem. No entanto, não foi preciso ser extremamente original, pois seria de grande penalidade que o Nottingham Forest viria a alcançar o segundo golo. A equipa mais crente acabaria por ter Igor Jesus a abençoar o triunfo.
Ao 12.º jogo, o FC Porto somou a primeira derrota da época. A invencibilidade foi-se, mas ficou o alerta para Farioli: nem sempre a parede se vai partir e, por vezes, é preciso ir à volta. O desafio dos dragões é, de há uns tempos para cá, a multidimensionalidade, urgência que ainda não foi atendida.