Dilúvio no céu, dilúvio de Pote, vitória do Sporting
Gualter Fatia
Médio leonino marcou e fez assistência para Ioannidis na vitória do Sporting por 2-0 frente ao Alverca, numa noite de chuva forte e em que, mais uma vez, os leões atacaram muito mas lutaram contra a falta de eficácia. Os golos surgiram apenas na 2.ª parte
Às tantas, a meio da 2.ª parte, muito boa gente em Alvalade já se perguntava onde andavam os miúdos que, três dias antes, haviam arrumado com requinte aquele mesmo Alverca na Taça da Liga.
Porque na terça-feira, com uma equipa de segundas linhas e carregada de juventude, o Sporting conseguiu ser aquilo que, no campeonato, lhe está a custar conseguir: ser uma equipa tremendamente eficaz. Marcou cinco golos, talvez até pudesse ter marcado mais, mas fazendo as contas aproveitou quase sempre o que foi criando. No campeonato, o Sporting vive um momento de grande inspiração coletiva, na construção do seu jogo, no casamento de dinâmicas, na ligação entre jogadores. Mas as oportunidades vão saindo caras. Se na semana passada há que culpar Bernardo Fontes, o guarda-redes do Tondela, nesta 10.ª jornada foi mesmo muita falta de mira.
Os golos, assim, só surgiram na 2.ª parte, já depois de Rui Borges mexer nas peças, com um dilúvio bíblico a abater-se sobre Alvalade. O dilúvio de ataque que se via no relvado não resultou em temporal de golos mas, por sorte para o Sporting, houve dilúvio de classe de Pote, mais uma vez decisivo para a equipa que igualou, à condição, o FC Porto, que esta jornada recebe o SC Braga.
MANUEL DE ALMEIDA
Numa primeira parte em que perdeu Fresneda cedo, por lesão, o Sporting conseguiu com facilidade sacudir a proposta ribatejana: meia bola em Marezi e força. As arrancadas do avançado sérvio foram a única gota de perigo, chamemos-lhe assim, ainda que tal seja injusto para o jogo de Diomande, sempre impositivo a travar os ímpetos do rival.
Na sua área ofensiva, o Sporting ia, na sua tónica habitual, desperdiçando: Suárez logo aos 2’, por exemplo, após passe de Pedro Gonçalves, e Geny aos 18’, a atirar ao poste após uma jogada em que os leões saíram bem da pressão e Suárez encontrou o moçambicano com espaço na direita. Suárez, em dia de algum desatino, viu Meupiyou roubar-lhe o doce a dois tempos já depois da meia-hora de jogo, altura em que o Casio vintage de Rui Borges já via os minutos a passar de forma tão nervosa quanto os ânimos nas bancadas. A pontaria estava para lá de descalibrada.
A 1.ª parte terminaria com nova oportunidade abardinada pelo Sporting, com João Simões, na área, a perder o timing do remate após bom entendimento entre Pote e Trincão na esquerda. O Sporting ia para o intervalo com 15 tiros, ainda que apenas quatro deles entre os postes. O golo anulado a Suárez aos 50’, com a fita métrica do VAR a medir oito centímetros de adiantamento, levantava no ar, com a ajuda do vento que aumentava de intensidade, uma ligeira inquietação em campo.
Precisava de mudar o Sporting e Rui Borges acusou o toque. Arriscou: Geny saiu para entrar Quenda, a mais estandardizada das substituições do treinador de Mirandela, mas Ioannidis substituiu João Simões. O Sporting desguarnecia ainda assim pouco o meio-campo, com Pote a baixar, e dava mais poder de fogo a um ataque que bramia por mais soluções.
E essa solução viria de canto, momento do jogo em que os leões não têm sido brilhantes esta temporada. Suárez, tal como Gyökeres, diga-se, não é um exímio cabeceador. Mas Ioannidis é. Mais uma vez, o grego mostrou os seus dotes de dançarino na área, numa movimentação simples e eficaz, para encontrar a sua cabeça com a bola que Pote lançou. Aos 68’, descansava Alvalade.
Gualter Fatia
E descansou ainda mais quando o médio internacional português, percebendo talvez que a 2.ª parte havia trazido um Sporting menos capaz a explorar o corredor central em ataque organizado, tentou a sorte de longe. Aos 74’, o pé direito de Pote arrumava a questão: o remate nem saiu particularmente ao ângulo, mas foi com tal força que era como se André Gomes tentasse travar um tufão com as mãos. No faqueiro de Pedro Gonçalves, há talheres para tudo, sejam eles para trinchar passes para a baliza como para garfadas de bombas para as redes.
Com 2-0, o Sporting baixou os níveis do volume, geriu com e sem bola, sem nunca deixar de visar a baliza. Houve gente uns furos abaixo (Geny, Quenda também, depois de ter sido um dos heróis de terça-feira), talvez alguém tenha sentido saudades de Salvador Blopa a correr pela direita, mas há que dar tempo ao tempo. Os miúdos que brilharam no início da semana viram os mais velhos a desembaraçarem-se de um resultado que chegou a ter laivos de problema. E terão, se dos deuses do futebol quiserem, aprendido uma coisa ou outra com Pote.