A vitória do Benfica em Guimarães foi daquelas que só José Mourinho pode explicar
HUGO DELGADO
A saída de Prestianni ao intervalo seria merecedora de, pelo menos, algum debate. No entanto, como em tantas outras vezes, José Mourinho estava a ver algo diferente e, por sinal, mais proveitoso para o Benfica. O arranque da segunda parte, com dois golos e um cartão vermelho para o Vitória SC, marcou um jogo que se podia ter complicado, mas que acabou numa goleada encarnada no Estádio D. Afonso Henriques (3-0)
Dígamos que no tempo que corta a primeira parte e a segunda, José Mourinho deve ter usado aquele comando que só ele tem para fazer subir o volume de jogo do Benfica. Por isso dizem que é especial. O Vitória SC não estava a dar guloseimas nenhumas até ao intervalo. Insatisfeitos, os encarnados cumpriram a tradição. Não receberam doces, fizeram travessuras.
Por incongruência, foram os mais maduros a brincarem com os petizes. Ser uma montra de diamantes tem aumentado o risco de roubo para o Vitória SC. O onze apresentado contra o Benfica tinha uma média de idades de 23,5 anos, juventude que pode justificar o facto da equipa de Luís Pinto já ter deixado tantos pontos por mãos alheias.
Não querendo com isto dizer que a idade compactua com um melhor desempenho, Telmo Arcanjo era o único elemento do ataque a não ter acesso ao passe de transportes gratuito nos principais pontos do país. Por coincidência, foi o guia para a baliza de Trubin.
Não foi nada recomendável o tempo que Prestianni deu ao cabo-verdiano para desenhar o cruzamento. Oumar Camara, menino de 18 anos que é, deixou-se apanhar pela armadilha do fora de jogo, inviabilizando que os seus dois remates levassem real perigo. Pelo menos, serviu para que Enzo Barrenechea prestasse mais atenção ao auxílio que tinha que dar àquela zona.
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O Benfica espraiou os seus extremos, um convite a que Ríos e Sudakov se envolvessem no meio das quatro teclas do piano da defesa do Vitória SC. Pavlidis exibia-se no meio-campo enquanto, como consequência do contramovimento, outros tentavam ofender a última linha dos vimaranenses. Mas abrir as plumas em leque não foi suficiente para funcionar como intermediador. A operação é simples: menos Pavlidis, menos Benfica.
O Mundial sub-20 fez Prestianni experimentar a preponderância. Dele regressou a querer transpor para o Benfica esse relevo. Inesperado era que, na segunda titularidade consecutiva para o campeonato, os encarnados não conseguissem viver de outro recurso que não as guinadas do argentino. O jovem de poucas polegadas acertou uma vez na baliza de Juan Castillo e quando não o fez ficou lá perto.
Naquela ala, a mais longe dos bancos, Prestianni e Telmo Arcanjo meteram-se num vaivém atrás um do outro. A certo ponto, até por ali houve uma escaramuça entre quem foi advogar que a entrada de Sudakov sobre Samu era para vermelho e quem argumentou que a pisadela não foi assim tão dura.
Tão estranho como ter deixado ir ao Mundial sub-20 alguém que, pelos vistos, tem importância no Benfica, foi José Mourinho retirar ao intervalo a sua única fonte de rendimento até aí. Surgiu então Schjelderup que não fez pior.
Mais do que os cromos dispostos no relvado, o Benfica mudou a postura. A bola ficou mais tonta de tanto rodar de pé para pé, rápido como tem de ser. O tal espaço para os médios interiores começou a ser explorado com chegadas ameaçadoras de Ríos e Leandro Barreiro, também lançado para a segunda parte. Juan Castillo e a sorte protegeram o Vitória SC.
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A reação do futebol dos encarnados aos suplementos vitamínicos tomados durante o intervalo, manifestou-se igualmente em Lukebakio. A afinação da bota esquerda do belga colocou o Benfica a evidenciar-se em cruzamentos e nas bolas paradas. A invulgar tensão colocada nos pontapés, sem que estes percam a precisão, fez um canto ir parar à cabeça de Tomás Araújo, que desviou ao primeiro poste.
Os minutos que se seguiram ao golo anotado pelo central (54’) foram definidores do encontro. Fabio Blanco enganchou os pitons nos calções de Leandro Barreiro, numa entrada que se tornou aparatosa pelo puxão ao tecido, e foi expulso (56’). Atazanado, o Vitória SC só conseguiu estabilizar quando Samuel Dahl já tinha feito o segundo golo (62’).
Guimarães é uma cidade escorregadia, assim o disse Mourinho com medo de eventuais acidentes. Uma visita hiper cautelosa ao Estádio D. Afonso Henriques acabou de forma descomplexada. Enzo Barrenechea também alinhou no aumento de preponderância dos médios e foi lá à frente tentar remates de longe. Num desses casos, João Rego apareceu a fazer o 3-0 na reciclagem do lance. Com o trabalho feito, o Special One ainda permitiu a Henrique Araújo e a João Veloso que sentissem um relvado que, como se viu, teve aderência suficiente.
Durante metade do tempo, a exibição do Benfica foi prazerosa. José Mourinho degustou o desempenho que o fez conseguir, pela primeira vez desde que chegou à Luz, duas vitórias consecutivas para o campeonato e, em simultâneo, tornar-se no primeiro treinador a vencer em Guimarães esta época.