Anísio Cabral foi o trunfo de uma seleção que vai continuar a jogar com o baralho todo no Mundial sub-17
Chris Ricco - FIFA
Os minutos que antecederam o intervalo resumiram o primeiro jogo a eliminar de Portugal no Mundial sub-17. A seleção nacional venceu a Bélgica (2-1) com um bis de Anísio Cabral e nos oitavos de final o adversário será a Argentina ou o México
O objeto que Bino Maçães entregou ao quarto árbitro parecia mesmo uma carta saída do baralho. O selecionador nacional jogou-o quando René Mitongo pregou a chuteira no tornozelo de José Neto. O trunfo permite ao treinador solicitar ao árbitro que reveja o lance no monitor posto ao lado do relvado. Aconselhado por quem no banco assistia à transmissão, indicou ao juiz que fosse ao ecrã verificar se havia motivo para expulsão. Nenhuma imagem convenceu Marian Alexandru Barbu a mudar a decisão de manter o belga em campo.
O treinador da Bélgica, Bob Browaeys, também o fez em lances que podiam ter valido a Rafael Quintas e a Bernardo Lima uma sanção mais gravosa do que o cartão amarelo. Afinal, estava tudo em discussão nos 16-avos-de-final do Mundial sub-17, o primeiro jogo a eliminar da equipa portuguesa que terminou o grupo B em segundo lugar. De nada servia guardar challenges como recordação da ida ao Catar.
No entanto, o verdadeiro trunfo foi Anísio Cabral. Com apego à oportunidade, foi rentável ao ponto de ter completado um bis antes do intervalo. A primeira parte aparentou ser algo atravancada e o acesso às balizas esteve vedado até perto do final. Daí que condenar os erros contrários tenha sido tão proveitoso. Mas se é de uma equiparação de forças que falamos, nada como recorrer ao inquebrável Daniel Banjaqui para fazer cruzamentos atrasados pela direita.
Chris Ricco - FIFA
Portugal abraçou um contagiante espírito de missão que se sobrepôs. A crença fez Stevan Manuel perseguir com afinco a construção da Bélgica e recuperar uma bola que sobrou para Anísio Cabral rematar enquanto levitava. No segundo golo da sua autoria, o próprio ponta de lança sentiu que o guarda-redes estava com queda para o disparate. Assim que Lucca Brughmans arriscou picar a bola por cima do jogador do Benfica, o avançado roubou-lha e usufruiu de uma baliza deserta.
A Aspire Zone é um prado dividido com oito campos de futebol. No número 3, Portugal exibiu qualidade técnica de uma ponta à outra. Mesmo com as limitações físicas de Mateus Mide, a seleção jogou com o baralho todo. É que há jogadores que apenas dizem “bom dia” e “boa tarde” à bola. Outros ouvem-na e são seus confidentes. Incumbir a cobrança de livres e cantos a Mauro Furtado é um sublinhado à excelente relação que o defesa tem com ela, desconstruindo a ideia de que os centrais são frios no trato.
Entre os 38 minutos e 45+5’ foram marcados três golos. A Bélgica, equipada à Tintim, contou com a colocação do livre de Noah Fernandez para reduzir. A distância entre as mãos de Romário Cunha e o poste foi pouco maior que o diâmetro da bola.
Chris Ricco - FIFA
A partir do momento em que vimos os treinadores usarem todas as artimanhas à disposição, notou-se uma queda para o calculismo. Tão pouca idade têm os jogadores deste escalão e tão matreiros conseguem ser numa eliminatória. Era conveniente para Portugal que a sua estrutura defensiva se notasse mais na segunda parte para engasgar uma Bélgica sem argumentos em espaços curtos.
Os arrebites de Portugal foram entregues a Stevan Manuel, cuja violência de um remate de fora de área ficou estampada nas luvas de Lucca Brughmans. Mesmo tendo abdicado da posse, a seleção nacional acabou o jogo nas redondezas da baliza contrária. Argentina ou México, possíveis adversários nos oitavos de final, ficam a saber que vão ter pela frente um oponente camaleónico.