Crónica de Jogo

O Benfica sobreviveu ao embaraço que o sufocante Atlético lhe causou

O Benfica sobreviveu ao embaraço que o sufocante Atlético lhe causou
Gualter Fatia

Os encarnados fizeram uma exibição sofrível na 4ª eliminatória da Taça de Portugal, sendo assustados pela ousadia de um adversário da Liga 3. O primeiro golo de Richard Ríos em 22 jogos pelo Benfica veio no momento certo. A partir daí, tudo pareceu mais fácil do que realmente foi (2-0)

Em tempos, o Atlético foi um cliente habitual da Primeira Liga, mas desde 1977 que se chateou com a forma como foi servido e não mais lá pôs os pés. Hoje em dia, é o clube que nos vem à cabeça quando atravessamos a Ponte 25 de Abril no sentido Lisboa devido ao cartaz com vasta audiência que tem no seu estádio.

A Taça de Portugal é diferente do que era quando o Benfica e o emblema de Alcântara se defrontaram pela última vez, em 1982, e, por isso, o Atlético não recebeu os encarnados na Tapadinha. O local escolhido para a equipa da Liga 3 sujar as camisolas que tão bem divulga nas redes sociais foi o Restelo.

José Mourinho não levou a Belém a barba com que se apresentou na conferência de imprensa de antevisão, traço que evidenciaria ainda mais a diferença de idade face ao seu homólogo. Com 29 anos, Pedro D’Oliveira desenvolveu um plano de jogo de que se deve orgulhar.

A postura arrebitada do Atlético fez muitas cócegas ao Benfica. Na tentativa de progressão, os encarnados perderam uma série de bolas como a que Joãozinho rematou para demonstrar aquilo que a ousadia na pressão podia gerar.

Enquanto isso, as águias expuseram-se ao embaraço, mostrando dificuldade até em executar princípios básicos como passar a bola a jogadores vestidos da mesma cor. Não parecia um encontro da 4ª eliminatória da Taça de Portugal, apenas um duelo da fase regular da Liga 3 entre adversário de nível semelhante.

As perdas constantes da posse por parte do Benfica dirigiam o Atlético à baliza de Samuel Soares com uma assiduidade constrangedora. O clube da Luz era incapaz de se impor frente a uma equipa que está a realizar a pior época em termos pontuais desde que, em 2023/24, ingressou no terceiro escalão do futebol nacional.

MIGUEL A. LOPES

Não é sinal de saúde que a perspetiva de ausência prolongada de Lukebakio obrigue a tão profunda reformulação tática frente aos sétimos classificados da Série B da Liga 3. Apesar de tentar bater a pressão com quatro jogadores atrás, o Benfica organizava-se posteriormente com três centrais para que Amar Dedic e Rodrigo Rêgo se projetassem.

O lateral esquerdo em estreia foi o melhor em campo até ao intervalo, dado revelador da epidemia de marasmo que afeta o plantel principal e ainda não chegou ao jovem de 20 anos oriundo da equipa B. Os restantes colegas recebiam quase sempre de costas e, quando superavam essa dificuldade, o Atlético fazia faltas úteis.

Post Malone não foi o único a não conseguir encher o Restelo. Quem foi até ao estádio viu José Mourinho praticamente esvaziar o banco de suplentes ao intervalo. Saíram Tomás Araújo, Barrenechea, João Rêgo e Ivanovic. Com alterações em todos os setores, o Benfica passou a enfrentar um adversário mais recuado, mas igualmente eficaz na resolução das abordagens do conjunto da I Liga.

A única real oportunidade do Benfica vinha ainda da primeira parte, quando Dedic rematou para defesa de Rodrigo Dias. Foi preciso algo altamente incomum para o Benfica se colocar em vantagem. Richard Ríos demorou 22 jogos a marcar o primeiro golo em Portugal. Afastou a macumba num momento oportuno. O canto aberto de Aursnes foi o princípio do desbloqueio da aflição.

Gualter Fatia

Caleb ainda tentou esticões que trouxessem os restantes jogadores do Atlético atrás. Honrada a participação na Taça de Portugal, a equipa da Tapadinha perdeu ímpeto, mas nunca atitude. Na altura de fazer a última substituição, Pedro D’Oliveira cumprimentou todos os jogadores que não teve oportunidade de lançar.

Foi num lance desenhado por gente que passou os primeiros 45 minutos sentada que o Benfica chegou ao segundo golo. Andreas Schjelderup, no primeiro jogo com cadastro, infiltrou a bola na área e Leandro Barreiro arrancou uma grande penalidade a Paulinho. Pavlidis foi à pinta branca confirmar o castigo.

Rodrigo Dias tinha ficado perto de defender o remate do grego. No entanto, na segunda vez que o Benfica dispôs de uma grande penalidade depois de António Silva ter sofrido falta de Duarte Henriques, o guarda-redes conseguiu mesmo a defesa que fará dele protagonista no resumo do jogo e de Otamendi um ser infeliz.

Os festejos da passagem do Benfica aos oitavos de final da Taça de Portugal parecem parabenizar a quantidade de erros que há para corrigir. Qualquer gesto de contentamento é tempo perdido no processo de desenvolvimento.

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