Crónica de Jogo

Portugal não confundiu gato com lebre e vai estar pela primeira vez nas meias-finais do Mundial sub-17

Portugal não confundiu gato com lebre e vai estar pela primeira vez nas meias-finais do Mundial sub-17
Jurij Kodrun - FIFA

Se a seleção não foi para casa, também não será agora que vai regressar. Portugal já sabe que tem, pelo menos, uma das quatro melhores equipas do planeta em sub-17. Os jogadores de Bino Maçães superaram a Suíça nos quartos de final (2-0) e terão mais dois encontros pela frente no Mundial da categoria. Espera-se que um deles seja o da final

Há três anos, o Mundial dos graúdos tinha início do Catar. Foi um torneio particular pelo momento da época em que se realizou e pela curta distância a separar os estádios. Quem quisesse assistir a mais do que um jogo no mesmo dia estava plenamente capacitado para tal. O país do Médio Oriente fez um esforço para limpar a sua imagem, mas a seleção A de Portugal acabou escorraçada por Marrocos nos quartos de final. Antes disso, a equipa nacional goleou a Suíça por 6-1.

Algum tempo depois, as cores portuguesas regressaram a Doha para voltarem a vasculhar por um lugar entre as quatro melhores seleções de um torneio. Os sub-17 também se cruzaram com os helvéticos, neste caso, na eliminatória de acesso às meias-finais. Era uma fase em que os jovens de Portugal nunca tinham estado desde que a competição deixou de integrar equipas sub-16. Por isso, o duelo que aí vem, fruto da vitória por 2-0 contra os suíços, será uma degustação do fator novidade.

Se a competição sénior parecia ter todos os estádios no mesmo bairro, a competição dos mais novos tem realmente todos os campos no mesmo complexo. Algum descuido no controlo da direção e lá vai a bola parar ao relvado do lado ou até mesmo ao prédio com vidros interativos a pavonear-se excentricamente nas redondezas da Aspire Zone.

Essa ameaça esteve presente quando Stevan Manuel rematou por cima. A oportunidade desperdiçada serviu de fronteira entre o momento em que Portugal dividiu o jogo e a fase em que o dominou, ascensão que coincidiu com o desamarrar de Daniel Banjaqui. O lateral do Benfica, que iniciava a construção em zonas baixas do terreno, aumentou a omnipresença proporcionada por invulgares capacidades físicas que lhe permitem caçar os adversários, quando defende, e batê-los, quando ataca.

Jurij Kodrun - FIFA

Daniel Banjaqui olhou para o cartão amarelo aliviado com a cor que o árbitro lhe mostrou após uma falta dura. O início do encontro não foi afirmativo. Portugal cometeu alguns erros na primeira fase de construção e parecia atordoado. Por um lado, era natural. Marco Correia Lopes Lebre estava a usar um equipamento diferente, mas, se fosse pelo nome, os portugueses tinham justificação para se baralharem com o lateral da Suíça.

Era importante não confundir gato com lebre para que Romário Cunha não tivesse que brilhar tanto como na hora de travar Sandro Wyss. Em certos momentos, Bino Maçães pareceu sacrificar Daniel Banjaqui, mas logo se percebeu que o recuo poderia trazer benefícios que não apenas o controlo das transições helvéticas. A bola longa que dirigiu ao ataque permitiu a Anísio Cabral iludir os defesas quanto à presença de Mateus Mide, marcador do golo inaugural que surgiu como a verdadeira ameaça. O jogador do FC Porto apareceu num papel diferente do que teve ao longo do jogo. Na maior parte do tempo, esteve ocupado a descobrir linhas de passe que só 1% dos médios julga existir.

Esta seleção é bem capaz de deter o recorde nacional de equipa que mais se balança enquanto toca o hino. Neste caso, importava continuar a fazer com que a Suíça continuasse a correr de um lado para o outro até porque Portugal tem soluções em todas as frentes. José Neto apresenta argumentos para se escapulir de espaços curtos, logo, assim que o deixaram parar, escutar e olhar, acabou por ser ainda mais aproveitador. O pé esquerdo raciocinou e chegou à conclusão que o remate cruzado era a escolha mais lógica para colocar Portugal a vencer por 2-0.       

Jurij Kodrun - FIFA

Bino Maçães usufruiu do trabalho terminado antes do tempo para fazer meticulosas substituições. Daniel Banjaqui, uma das figuras principais na convocatória e do futuro do futebol português, foi poupado a uma eventual expulsão. Mesmo no meio deste comodismo, Tomás Soares, um dos elementos a saltar do banco, viu Noah Brogli negar-lhe a hipótese de assinar o melhor momento da noite no Catar.

Teremos pelo menos mais dois jogos para usufruir desta seleção. O apuramento para as meias-finais assegura que Portugal, no mínimo, vai fazer parte do jogo de atribuição da medalha de bronze. Mas que há motivos para pensar em algo maior, lá isso há. Como diz Anísio Cabral: “Ninguém vai para casa.”

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