Crónica de Jogo

Uma dura e nem sempre bonita batalha, uma decisão emotiva: Portugal elimina Brasil e está na final do Mundial sub-17

Uma dura e nem sempre bonita batalha, uma decisão emotiva: Portugal elimina Brasil e está na final do Mundial sub-17
Mohamed Farag - FIFA

Nos 90 minutos houve mais luta do que futebol e foi na longa série de penáltis que Portugal encontrou a calma, depois do nulo no marcador. Pela primeira vez na história, a seleção nacional está na final do competição. Na quinta-feira, o adversário é a surpreendente Áustria

Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude. A frase, sabemos, é de Rui Borges, treinador do Sporting, emprestada seguramente pro bono para esta meia-final do Mundial sub-17. Ao contrário de outros momentos neste Campeonato do Mundo, Portugal não foi a equipa cheia de soluções, capaz de se adaptar ao momento e ofensivamente rica, porque a solenidade da ocasião levou o encontro para o campo de batalha. No final, depois do nulo que cedo se adivinhou, sobrou não só a atitude mas a cabeça fria deste grupo de meninos, que num momento de grande tensão sobe cerrar os dentes e, nos penáltis, errar menos que o Brasil, avançando para uma inédita final para o futebol português jovem.

Na quinta-feira (16h, 11), frente à surpreendente Áustria, esta geração trabalhada por Bino Maçães, sem uma estrela óbvia, mas coletivamente muito coesa, vai tentar juntar o título europeu ao Mundial do escalão.  

Tempos longínquos esses em que Portugal era o Brasil da Europa, tratado como um pequenino do futebol, num misto de erros próprios, muitos erros próprios, mas também falta de horizontes de outros. Neste momento Portugal e Brasil são dois gigantes no futebol jovem e sénior, sem necessidade de olhar de cima para baixo um para o outro. Quem viu o jogo desta segunda-feira terá, no entretanto, sentido saudades da fantasia que fazia das suas equipas também irmãs em campo: estando uma final em jogo, o jogo tornou-se agressivo, quezilento, uma batalha muito pouco bela e um duelo de nervos. Portugal foi encontrar a calma quando o jogo seguiu para penáltis, ainda que a série tenha parecido, a tempos, interminável. 

Mohamed Farag - FIFA

Só ao sétimo remate do Brasil, de Angelo, se encontrou um vencedor, já depois de Romário Cunha, guarda-redes de Portugal, ter falhado um remate, o quinto, com resposta na mesma moeda por parte de Ruan Pablo (remata ao poste), que a seleção nacional agradeceu.

Até aí, nos 90 minutos, houve mais guerra que futebol, num jogo que foi paulatinamente piorando. Começou com pouco risco de parte a parte, ainda que com Portugal com mais bola. Anísio Cabral teve um primeiro lance de perigo aos 11’, mas rematou contra um defesa, prelúdio de uma tarde desinspirada a nível técnico. Da parte do Brasil, a resposta chegou de longe, por Zé Lucas, antes da canarinha entrar no seu período mais perigoso. Aos 20’, Mauro Furtado falhou a abordagem defensiva, deixando Dell frente a frente com Romário Cunha. O guarda-redes defendeu o primeiro remate e, na recarga, Chelmik salvou na linha. 

A partir da meia-hora o encontro desorganizou-se definivamente, tornou-se partido e duro, demasiado duro. A condução do árbitro grego não terá também ajudado a acalmar os ânimos, deixando passar algumas entradas à margem das leis de ambas as equipas. Sem ninguém a assumir a tentativa de controlar, a 2.ª parte não foi diferente. 

Do lado português, Mateus Mide era a consciência, tentando, com a sua técnica, velocidade e explosão, levar a equipa para a frente. Aos 79’ surgiu um único momento de perigo para Portugal, numa jogada bem conduzida por João Aragão, a encontrar um espaço no corredor central que quase nunca existiu ao longo do jogo, com Anísio Cabral, com área e tempo para fazer melhor, a rematar por cima. Do Brasil, o único lance de algum frisson aconteceu aos 87’, num tiro acrobático à entrada da área por Zé Lucas. 

Mohamed Farag - FIFA

A decisão foi, assim, sem surpresas, para os penáltis, um castigo merecido para duas equipas que nunca encontraram o seu futebol ao longo dos 90 minutos. José Neto, o lateral esquerdo goleador, fez o remate decisivo para Portugal. O falhanço de Angelo confirmou a passagem à final. 

A história já está feita e o talento desta seleção não precisa desta meia-final para ficar validado. Vencer, sabe-se, não garante nada a estes rapazes, mas pode ajudar muito. Quinta-feira Portugal é favorito e terá de lidar com essa pressão. E, até agora, não se pode dizer que não tenha corrido lindamente.

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