Crónica de Jogo

Frente ao Club Brugge, um Sporting culto e adulto

Frente ao Club Brugge, um Sporting culto e adulto
Carlos Rodrigues

Exibição quase sem mácula do Sporting frente ao Club Brugge, com a vitória por 3-0 a abrir as portas ao apuramento para a fase seguinte da Liga dos Campeões. Os leões conseguiram sempre ludibriar as ideias do adversário e matar o jogo no único período de dificuldade, no arranque da 2.ª parte

Na Champions, estar preparado é meio caminho andado. E o Sporting de Rui Borges estava mais do que preparado para o que seria, certamente, o jogo-chave para a qualificação. Não está garantida ainda a ida ao playoff, mas está encaminhada: a vitória por 3-0 deixa o Sporting muito perto de repetir o feito da época passada, num encontro adulto dos leões, que souberam afastar as primeiras dificuldades para logo ferir os belgas com uma admirável leitura dos acontecimentos, eficácia, simplicidade e esmero no futebol jogado, com pormenores técnicos de nota alta.

Lidando com uma equipa com argumentos para jogar tanto em ataque posicional como na expectativa, o Sporting aguentou os primeiros minutos de forte pressão ao dono da bola. A equipa pareceu, sempre, avisada, adaptando-se rapidamente, avançado com poucos toques na tentativa de se desenvencilhar do adversário. Onyedika era uma lapa agarrada a Quenda, Siquet seguia Luis Suárez para todo o lado. A marcação individualizada, tão pouco em voga por estes dias, seria, mais tarde, bem aproveitada pelo Sporting.

O susto do vermelho depois revertido a Hjulmand, ainda dentro dos primeiros 10 minutos, foi o início de um raro período de intromissão no estado zen leonino. Pouco depois, Inácio errou, permitindo a Carlos Forbs um cruzamento ao qual Tzolis respondeu com um remate contra Diomande, num momento de perigo que o Club Brugge não repetiria na 1ª parte.

Soccrates Images

O Sporting jogou então com o embalo que os belgas julgaram ter: deu-lhes a bola e para o Brugge foi como receber kriptonita nos pés. As marcações começaram a falhar, os espaços a surgir. Atrás, o Sporting estava sólido, tapando os caminhos para Vanaken, desaparecido no relvado de Alvalade. Aos 23’, Luis Suárez deu o primeiro sinal, à entrada da área, um minuto depois, num lance rápido, os leões abriam o marcador: Inácio, recuperado do erro, matou linhas com um passe de longo alcance, que Trincão deixou passar a meio-campo com uma simulação que desequilibrou a resposta do Brugge. A bola chegou ao outro lado, a Geny Catamo, que partiu para cima do adversário antes de rematar. Jackers defendeu, mas Quenda estava para a recarga.

Equipa com soluções variadas, o Club Brugge perdeu-se em campo, fosse na pressão que o Sporting soube quase sempre ludibriar, fosse na transição defensiva ou no posicionamento. Abriram-se avenidas a meio-campo, onde o Sporting viajou. Aos 31’, mais uma vez foi Inácio no início da jogada a lançar Geny que, vendo pelo espelho retrovisor Luis Suárez sem marcação, ofereceu um espectacular passe à meia volta que estilhaçou definitivamente uma defesa do Club Brugge que já estava em apuros sérios. O colombiano, com classe, picou por cima de Jackers.

Carlos Rodrigues

Não deixou de ser o Sporting a equipa mais perigosa, face a um adversário com dificuldades em saber o que fazer com bola e mais ainda sem ela. Com grande mobilidade, o jogo do Sporting tornou-se um terror para a abordagem conservadora do adversário. Trincão esteve perto do terceiro aos 39’ e a 1.ª parte terminou com uma sensação inesperada de superioridade, num jogo que se antevia equilibrado e desafiante para Rui Borges, obrigado a preparar vários momentos de jogo.

Soube prepará-los quase todos bem. Só o início da 2.ª parte trouxe algumas fissuras na coesão leonina: em organização defensiva, o Sporting sofreu, talvez ainda abananado com o 3-0 que Suárez teve nos pés corria o minuto 49’, recreando-se em demasia quando estava isolado frente à baliza dos belgas. Tresoldi, de quem se esperava a titularidade, teve aos 64’ oportunidade de ouro para reabrir o jogo, mas Rui Silva fez bem a mancha e a bola saiu ao lado. A partir daí, o Sporting acusou o toque, organizou-se, tornou-se mais agressivo na recuperação, afastando o Brugge da área. E não tardou a marcar.

Faltando 20 minutos para jogar, uma boa combinação na esquerda entre Maxi e Quenda - excelente no papel de Pote - permitiu cruzamento atrasado que Trincão transformou num golo que já buscava no primeiro tempo. Terminava aí a reação belga, deu até para Rui Borges lançar Salvador Blopa para a estreia na Champions. Errou aqui e ali o jovem, com atrasos perigosos, mas não foi mau dia para errar: o Sporting foi a equipa mais inteligente e coesa em campo, teve até momentos de interessante nota artística, soube matar o jogo no momento certo e ainda mostrou solidariedade na hora de limpar os pequenos nervosismos de quem se via pela primeira vez a jogar na liga milionária.

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