O papa-títulos Danilo foi lá acima tirar a Libertadores a Abel
Rodrigo Valle
Um golo do ex-FC Porto deu a vitória (1-0) ao Flamengo contra o Palmeiras, decidindo a principal competição da América do Sul. O defesa chegou aos 23 títulos na carreira, seis deles internacionais, e impediu que Abel Ferreira chegasse ao tri na prova
Um canto, um cruzamento, um remate em voo, um golo. Simples, decisivo.
Foi assim que o Flamengo chegou à quarta Libertadores da sua história, primeiro clube brasileiro a consegui-lo. A taça chegou nas asas de Danilo, o experiente defesa ex-FC Porto, o muito titulado jogador. Vencedor da Liga dos Campeões, campeão em Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra, herói na Libertadores. Entra na mesa onde se sentavam Zico e Gabigol.
Flamengo 1-0 Palmeiras. O sonho do tri de Abel Ferreira na prova continental caiu, impedindo que o português se isole como o técnico mais titulado na história dos paulistas.
Foi uma final disputada como tantas, tensa, de poucas balizas, com o aroma a 1-0 ou prolongamento desde o arranque. Na sétima edição da Libertadores vencida por brasileiros de forma consecutiva, a quinta por Flamengo ou Palmeiras, o projeto Filipe Luís consagra-se, quase de certeza dias antes de juntar a esta taça o Brasileirão. Não foi Abel a festejar, mas também há sotaque português, já que José Boto é o diretor de futebol dos cariocas.
As montanhas que repousam atrás do estádio Monumental de Lima foram escaladas por vários adeptos que, lá do alto, arranjaram uma forma de ver o que sucedia no relvado. Quando Danilo marcou, terá saltado até perto deles. Num clássico destas finais, o apito inicial foi atrasado 15 minutos, porque o trânsito da capital peruana gerou constrangimentos na chegada ao recinto.
Danilo cabeceia para o 1-0
Hector Vivas
A primeira parte pareceu, por vezes, uma exibição dos padrões e processos do Flamengo, uma dança moderna e sofisticada, feita de construção e desconstrução, superioridades, linhas quebradas e restante futebolês. A experiência de Danilo, Alex Sandro ou Jorginho — 52 títulos entre os três — ajudava a montar as bases da criação de jogo dos cariocas.
A fechar os primeiros 15’, Samuel Lino e Bruno Henrique estiveram perto de abrir o marcador para a equipa de Filipe Luís. O Palmeiras estava incómodo, não conseguindo pressionar nem sair com perigo. No entanto, com o avançar dos relógios, Abel, sempre a berrar na linha lateral como um polícia muito zeloso, foi conseguindo ajustar e mitigar o ímpeto do Fla.
A meio do primeiro tempo, as clássicas confusões, cartões amarelos e paragens de jogo entraram em cena. A quebra de ritmo beneficiou o Palmeiras, que ainda assim viu Bruno Henrique, em cima do descanso, ficar muito perto do 1-0.
Adeptos assistem à final no topo das montanhas que se situam atrás do estádio de Lima
Rodrigo Valle
No recomeço, um enorme erro de Murilo abriu uma janela de oportunidade para Bruno Henrique, mas Gustavo Gómez emendou o equívoco do seu colega. A final foi-se mantendo em contornos de impasse, com o Flamengo parecendo melhor, mas com pouca continuidade na criação de ocasiões de perigo, enquanto o Palmeiras, exceção feita a um ou outro drible de Allan, fazia da inexistência de jogo parte do objetivo do seu jogo.
Entre a expetativa, 1-0. De bola parada, uma arma do Palmeiras feita virtude do opositor. Canto da direita, salto imponente de Danilo, golo. Para quem tem tantos troféus nas vitrinas, para quem anda há uma década e meia em conjuntos altamente vencedores, o pináculo na carreira chega aos 34 anos.
A partir do golo, o Palmeiras ativou o modo catapulta. Bola longa, bola longa, bola longa, cruzamento. Posicionando os centrais quase sempre na área adversária, a equipa de Abel tentou o 1-1 recorrendo à sua força área. Gerou caos na defesa adversária, mas poucas vezes teve ocasiões claras, exceção feita a um lance de Vítor Roque já perto dos 90'.
A glória é do Flamengo, clube que soube consolidar-se e cimentar-se para ganhar regularmente. A terceira escapou das mãos de Abel, que certamente será, agora, bombardeado com questões sobre o seu futuro.