Os mal-amados de Mourinho resgataram o Benfica na Choupana
HOMEM DE GOUVEIA
O Benfica chegou aos 89' a perder contra o Nacional, mas Prestianni empatou, Schjelderup assistiu Pavlidis e, com dois golos em seis minutos, as águias triunfaram por 2-1. Antes do dérbi, os criativos nem sempre utilizados foram decisivos
Talvez a via Leandro Barreiro não seja a mais sustentável a longo prazo. Quiçá olhar para o banco e ver o talento possa não ser má ideia. Eventualmente, a capacidade de pressão, a agressividade e a energia não são argumentos suficientes para contrariar a escassez de qualidade.
E eis que surgiram Gianluca Prestianni e Andreas Schjelderup. O argentino, suplente não utilizado contra Atlético e Ajax, o norueguês, suplente não utilizado contra o Ajax e na derradeira jornada do campeonato, diante do Casa Pia. José Mourinho tem-se empenhado em dizer e mostrar que o plantel não lhe enche as medidas, mas, como diria Gerard Piqué, es lo que hay. É o que se tem. Mais vale usá-lo.
Rui Costa já fazia a sua cara de derrota nas bancadas na Madeira. Semblante sério, mão a tapar os olhos. Mas o talento que vem sendo olhado com desconfiança surgiu ao resgate.
Um golaço de Prestianni aos 89'. Um trabalho de Schjelderup aos 95', combinando com Otamendi, resistindo à tentação de fazer o 37.º cruzamento do Benfica no desafio (números reais, não uma hipérbole). Da derrota para a vitória. De problemas antes do dérbi para um triunfo galvanizador.
HOMEM DE GOUVEIA
Ao contrário do que sucedeu na visita do Benfica à Choupana na época passada, o nevoeiro não fez uma das suas clássicas aparições. Na verdade, o apito inicial ouviu-se quando o céu mostrava um fim de dia de postal, com uma imponente palete de cores.
A 623 metros de altitude, lá na serra, os visitantes entraram a encostar os locais à sua baliza. Muita posse — acima dos 70% na primeira meia-hora —, apetência para rematar (14 tiros até ao descanso, ainda que só quatro enquadrados), reação agressiva à perda. Ainda assim, esta equipa que tem Leandro Barreiro, o segundo avançado que é tanto mais útil quanto menos tocar na bola, não é exatamente o pináculo da criatividade. Sudakov parecia um turista sem ligação ao Google Maps, perdido na esquerda, Rodrigo Rêgo, em estreia no campeonato, não conseguiu desequilibrar e, apesar de muita insistência, faltavam as luzes da inspiração à equipa de Mourinho.
Kaique respondeu com competência a finalizações de Barreiro e Pavlidis, mas o Benfica teve poucas situações de claro perigo na primeira parte. O jogo ofensivo traduzia a opção por Leandro Barreiro como homem mais próximo de Pavlidis: agitação, movimentação, energia, mas escasso controlo, pouca produtividade, difícil criação com eficácia.
O altamente competente Nacional de Tiago Margarido, ilha de estabilidade na I Liga do entra e sai nos bancos, arrancou encolhido, quase não saindo do seu meio-campo. Com o aproximar do intervalo, os insulares, que aplicaram a recorrente fórmula de ter Matheus Dias a juntar-se à linha defensiva quando o adversário tinha posse, foram adquirindo algum conforto com bola. Se o Nacional, que só teve o primeiro remate aos 53', apenas trocou a bola nove vezes com êxito no terço defensivo do Benfica nos primeiros 30’, fê-lo em 17 ocasiões nos 15’ até ao intervalo.
No recomeço surgiu a primeira chance para a equipa de Margarido. Chuchu Ramiréz trabalhou bem na entrada da área, obrigando Trubin a defesa apertada. Na resposta, Barreiro, servido por Sudakov, não conseguiu rematar quando estava em excelente posição.
HOMEM DE GOUVEIA
Pairava a hipótese da surpresa. E esta adensou-se aos 60', quando a pressão do Nacional levou Otamendi ao erro. Paulinho Bóia assistiu Ramírez para o atacante apontar o sétimo golo do Nacional na prova, influência impressionante num conjunto que tem o total de 12 festejos.
O Benfica tentou reagir através da excelência de Pavlidis, que tirou vários adversários do caminho e disparou para boa defesa de Kaique. Aursnes, de longe, também ficou perto do empate, enquanto José Mourinho ia fazendo entrar vários semi-proscritos, como Ivanovic e Schjelderup. O croata teve duas bolas de golo na cabeça, mas não seria ele o pouco utilizado a ser decisivo.
Perante o anti-jogo do Nacional, José Mourinho, de sobretudo, ia sorrindo ironicamente, desenhando a sua clássica expressão de "vocês sabem em que é que eu estou a pensar". O sorriso de vilão de James Bond daria lugar à euforia em poucos minutos de glória movida a talento anti-Barreiro.
Prestianni arrancou pela direita. Podia pensar-se que iria cruzar, que faria o burocrático. Ousou o remate, 1-1 aos 89'. Schjelderup teve a bola na área. Tempo de descontos, igualdade no marcador. Apostou no talento, na tabela, na finta. Pavlidis e 2-1. Eles podem não andar freneticamente a correr pelo campo como um funcionário atrasado para o serviço, mas desbloqueiam problemas.