Crónica de Jogo

No show das poderosas, Portugal ficou só a ver o Brasil divertir-se

No show das poderosas, Portugal ficou só a ver o Brasil divertir-se
Octavio Passos

A seleção nacional não mostrou ordem nem progresso e perdeu o jogo particular contra as vice-campeãs olímpicas (5-0). Portugal, para quem sofrer cedo parece um problema crónico, já estava a perder ao fim de um minuto e nunca mais se reergueu num encontro onde não contou com Kika Nazareth. Inês Meninas e Raquel Fernandes somaram a primeira internacionalização

Isto funciona da mesma forma que os spoilers: quando sabemos o final cedo demais, a história deixa de ter graça. A experiência de ver Portugal tem sido constantemente arruinada por algo que se resolvia com um mero aviso. Tendo como premissa o facto de que vamos saber o desfecho antes do fim, talvez nos possamos poupar ao aborrecimento.

Nos últimos 11 jogos, a seleção nacional sofreu nos primeiros cinco minutos em sete ocasiões. A contagem inclui o golo de Gabi Zanotti que fez a equipa de Francisco Neto derrapar quando o ponteiro dos segundos ainda nem tinha completado uma volta. Contra as vice-campeãs olímpicas e outras equiparáveis seleções, é difícil competir com tão pouca velocidade de reação ao tiro de partida e, em Aveiro, o Brasil não poupou Portugal (5-0).

A noite tenebrosa de Diana Gomes tinha acabado de começar quando Dudinha aproveitou o espaço entre a central e Catarina Amado para cruzar. Quando se comete um erro uma vez, é verosímil que a solução possa ser começar o aquecimento mais cedo de modo a que, no momento em que soa o apito, a desenvoltura já seja outra. Neste caso, tantas vezes aquele espaço à esquerda foi massacrado, que o defeito tem que ser de fabrico.

Octavio Passos

Portugal é uma equipa à deriva por várias razões. Uma delas é a inconsistência tática. Mesmo quando parece ser no 4x4x2 losango que as jogadoras melhor se comportam, existe sempre um impulso de as castigar com uma linha de cinco defesas. Há um motivo que tem cabimento. Na ausência de Kika Nazareth – saiu lesionada contra os Países Baixos –, não há quem a consiga substituir no meio-campo.

A rotineira troca na baliza levou Inês Pereira a ocupar o posto. Uma ótima ocasião para lembrar que a presença de Thaís Lima no banco de suplentes foi como se o Brasil esfregasse na cara de Portugal as consequências do seu atraso. A jovem guarda-redes do Benfica representou a seleção nacional no Euro sub-19, em junho, mas optou pela canarinha e talvez não mereça julgamento. Inês Pereira também não ajudou a conter os danos. Enquanto tentava adivinhar um cruzamento de Ludmila, que nunca chegou a acontecer, deixou a bola entrar ao primeiro poste.

A fulgurante Ludmila voltou a causar arrelia a Diana Gomes, assim como a toda a gente que encontrou pela frente. No entanto, a central foi deixada numa ilha pelos problemas defensivos de Portugal e lá foi a jogadora das Chicago Stars assistir Dudinha. Os problemas para a central do Benfica estavam a ser tantos que o selecionador nacional trocou-a de lado com a homóloga Carolina Correia.

Octavio Passos

Francisco Neto utilizou a pouca importância do encontro, característica por algumas internacionais portuguesas levada demasiado a peito, para voltar a expor a linha recuada a um posicionamento altíssimo e para obrigar uma das pontas de lança a comprometer-se defensivamente junto da linha média. Começou por ser Carolina Santiago a fazer esta tarefa antes das substituições programadas levarem Ana Capeta a desenvolver essa função.

Ofensivamente, houve pouco a registar. O lance mais perigoso da seleção nacional acabou por não ser finalizado. Andreia Jacinto desdobrou-se na frente e o cruzamento ficou sem resposta por parte de Ana Capeta, apesar do esforço.  

A não menos elétrica Tainá Maranhão fez concorrência a Ludmila na exuberância difundida. Escaparam-lhe algumas definições, mas nem por isso a equipa de Arthur Elias deixou de marcar novamente. Num dia em que todos os defeitos de Portugal se notaram, de canto, lá surgiu Belinha a fazer nova desfeita. A comemoração, com Vitória Yaya, demonstrava que o Brasil se ia divertindo com o que estava a fazer e mais feliz ficou  quando Bia Zaneratto, de penálti, se juntou à festa.

Após o Europeu, onde expectativas ficaram por cumprir, Portugal embarcou numa subtil renovação e estreou quatro jogadoras – Alice Marques, Carolina Santiago, Maísa Correia e Érica Cancelinha –, sendo que três participaram no mais recente Euro sub-19, no qual a seleção atingiu as meias-finais. Para lá dos 90 minutos, surgiu o momento que, numa janela com dois amigáveis, se esperava que acontecesse a qualquer momento. Assim, Inês Meninas e Raquel Fernandes, as únicas convocadas que nunca tinham usado a camisola das Navegadoras, somaram a primeira internacionalização. Ao menos, alguém leva este jogo na memória.

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