Sim, vamos estar no Mundial do Qatar, acredita Bruno Vieira Amaral. E, uma vez lá chegados, Portugal passará a primeira fase e, depois, assim que enfrentar uma seleção decentemente organizada, como o Uruguai, a Bélgica ou a Sérvia, será recambiado para Lisboa, não sem ter direito, pelo meio, aos devaneios místico-supersticiosos do selecionador que ainda no domingo, à pergunta concreta sobre os motivos pelos quais fruta de tanta qualidade dá um sumo tão amargo, fez um silêncio pinteriano, encolheu os ombros, torceu os lábios e respondeu com uma pergunta: “o que é que eu vou responder?”
Estádio da Luz, 2037, apuramento para o Mundial do Tibete, Portugal enfrenta a poderosa seleção de Andorra na luta pelo último lugar de acesso à competição. No banco, com água pelos joelhos devido às alterações climáticas, Fernando Santos dá indicações a Cristiano Ronaldo para pressionar os defesas contrários. CR77 esbraceja, atira a braçadeira para o lago e, após o empate que afasta Portugal do Mundial, entra no iate que o aguarda à saída do estádio e segue para a Madeira. Na conferência de imprensa, questionado pelos jornalistas, o selecionador lembra a gesta de Paris, o golo de Éder, o único grande título da seleção e queixa-se de ainda não ter tido tempo de implementar as suas ideias. A Federação Portuguesa de Futebol renova-lhe o contrato.
Concedo que seja um cenário fantasioso, mas nunca se sabe. O futebol português é pródigo em situações inverosímeis. E a continuidade eterna de Fernando Santos à frente da seleção graças aos créditos acumulados naquele mês em França nem seria das coisas mais estranhas se atendermos à tolerância de que o selecionador goza não junto dos adeptos, que ontem lhe acenaram com lenços e máscaras descartáveis, mas junto de quem decide e manifestamente tem tanta fé em Santos como Santos tem nas suas fezadas.
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