A expressão “grit” invadiu a literatura científica na área da motivação (com aplicações muito precisas no segmento empresarial) através do trabalho que Angela Duckworth (e colegas) desenvolveu na última década acerca do papel da “coragem” na prossecução de objetivos de longo termo e/ou face a circunstâncias adversas ou de elevada dificuldade.
Segundo a autora em questão, tratar-se-á de um traço de personalidade positivo que cruzaria a paixão e a capacidade de manter a perseverança e o esforço por um tempo prolongado ou face à adversidade – esta “mistura explosiva” justificaria, segundo Duckworth, uma probabilidade maior de sucesso, nomeadamente quando comparada com a capacidade intelectual.
Por outras palavras, a capacidade em nos mantermos afetivamente comprometidos com a concretização de um objetivo, independentemente dos possíveis insucessos e percalços que possam surgir no caminho ou a dimensão das dificuldades percebidas, será sempre um factor de amplificação da probabilidade de sucesso.
Uma questão de Razão ou Emoção?
Na passada sexta-feira, o que de facto foi observado foi a mestria com que um treinador soube preparar a sua equipa para as adversidades previsíveis de um embate de “gigantes”.
Em boa verdade, “grit” também pode ser traduzido por “coragem” e essa foi a atitude que se observou numa equipa momentaneamente fragilizada pela ausência de algumas das suas figuras “âncora”, impossibilitadas de jogar. Curiosamente, estiveram impossibilitadas de jogar, mas não de participar – e assim o fizeram na momentos chave pré e pós jogo.
Em causa não está (nunca esteve e nunca estará) o domínio técnico-científico do que envolve a prática de futebol, uma vez que, para além do domínio do conhecimento cognitivo muito pesa a capacidade de agregar um grupo de homens numa direção só.
E este, foi, sem dúvida mais um momento onde pudemos observar o lado exímio de Rúben Amorim a conduzir este grupo, fazendo sempre sentir a preponderância da responsabilidade individual no resultado da equipa, delegando confiança e responsabilidade nas capacidades dos atletas para resolver as adversidades que pudessem ir surgindo no decorrer do jogo.
“Os jogadores têm todo o mérito (...) surpreendem-me todos os dias”, referiu na sua flash interview imediatamente a seguir ao jogo e, naturalmente, quem reconhece genuinamente, também genuinamente acaba reconhecido.
Sexta-feira passada venceu o orgulho de pertença, a noção de que todos contribuímos para um fim comum, de que todos somos importantes no desenlace final (quem joga e quem “participa”), da humildade de um grupo que se supera quando se sente fragilizado e a voz de um líder que coloca os seus no centro da equação que conduz ao sucesso - e fá-lo, pura e simplesmente, porque confia, porque acredita verdadeiramente na capacidade dos “seus”.
E o resultado final não poderia ter sido mais claro:
“Grit” para uns... e “gritos” para outros.
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