Na mesma altura, Nápoles perdeu três ídolos. “Ciro” Mertens saiu como o melhor marcador de sempre, Lorenzo Insigne abraçou o desafio da MLS e deixou o clube que ama. Koulibaly, que fez muito pela cidade, decidiu experimentar a Premier League pela primeira vez. Era um representante à altura de uma instituição e de uma região tantas vezes discriminada, também ele vítima de racismo ao longo dos tempos na Serie A. Sem o mesmo peso, partiu ainda o talentoso Fabián Ruiz. Por quem iria cantar o Diego Armando Maradona, órfão de um líder espiritual e de uma figura que possa manter a esperança de um futuro risonho? Khvicha Kvaratskhelia chegou-se à frente.
Certamente não seria o primeiro nome a vir à cabeça dos napolitanos quando pensaram na constituição do plantel para a nova temporada. Alguns ainda estarão a encontrar a forma mais fácil de falar do georgiano. Para se perceber o impacto do médio ofensivo no futebol italiano, há quem simplifique: Kvaradona para os amigos. As comparações com Maradona são perfeitamente exageradas, mas o sonho dos adeptos está lá. E isso é o mais importante. O resto cabe à equipa de Luciano Spalletti, indiscutivelmente uma das mais vistosas da Europa.
A goleada ao Liverpool serve de exemplo para validar esse estatuto. Na primeira parte, sobretudo, a equipa de Klopp não sabia como nem onde pressionar e a velocidade do ataque napolitano fez estragos sucessivamente. Essa é a base do modelo coletivo partenopei. Atrair, elaborar em zonas de construção, bater a pressão de forma apoiada e aproveitar as aberturas no meio-campo contrário. Um jogo paciente para chamar o adversário e uma fome insaciável assim que a bola entra nos desequilibradores. Kvaratskhelia passou por cima de Alexander-Arnold. Tem feito o mesmo a qualquer lateral-direito que enfrenta.
Spalletti é um treinador que vai contribuindo para a transformação estilística na Serie A dos últimos anos. Falamos de um dos campeonatos mais ricos do ponto de vista tático, por ideias e execução, embora a qualidade individual não seja a de outras alturas. Quem procura entender tendências não pode tirar a atenção do que se vai fazendo em Itália. O Nápoles, que se organiza em 4-2-3-1, sai normalmente com os laterais baixos e os dois médios à procura do espaço nas costas da primeira pressão. Lobotka é o farol da equipa – identifica espaços, lê a intenção do adversário e recebe com o corpo orientado – Anguissa ganha metros e Zielinski combina desmarcações de apoio e de rutura. Osimhen usa o físico para trabalhar de costas para a baliza e é feroz a atacar espaços. Um dos avançados mais perigosos do mundo.
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