Crónica

No hino, também eu me arrepiei bastante, porque me sinto parte deste percurso, deste projeto. O país deve estar orgulhoso da seleção

No hino, também eu me arrepiei bastante, porque me sinto parte deste percurso, deste projeto. O país deve estar orgulhoso da seleção

Edite Fernandes

Antiga internacional de futebol

Edite Fernandes, antiga internacional por Portugal, escreve sobre o jogo com os Países Baixos, a estreia da seleção nacional em Mundiais e a emoção das jogadoras durante o hino, uma emoção partilhada por quem, ao longo destes anos, contribuiu para o crescimento do futebol feminino no nosso país

Portugal não teve uma estreia muito feliz, no sentido de não ter vencido o jogo, até um empate seria um resultado positivo, tendo em conta que tinha pela frente a vice-campeã do mundo e campeã da Europa de 2017.

De qualquer das formas, Portugal entrou bem no jogo, nos primeiros minutos esteve bem, mas, com o decorrer da primeira parte, os Países Baixos foram assumindo e criando situações de perigo. Acabou por encostar a seleção portuguesa ao seu meio-campo. Portugal, defensivamente, esteve muito bem organizado, as jogadoras estavam solidárias umas com as outras e acabaram por conter esse poder ofensivo dos Países Baixos.

Acabaram por sofrer de bola parada, as bolas paradas continuam a ser o Calcanhar de Aquiles para a seleção. Já no último Campeonato da Europa, Portugal teve dificuldades nestas situações. Na segunda parte é um jogo completamente diferente: Portugal entra melhor, assume o jogo, consegue ter mais gente na zona do meio-campo e acaba por fazer o que faz sempre bem: ter controlo da posse de bola, ter qualidade no jogo. Conseguiu criar algumas situações, não claras, mas teve muito mais posse de bola na segunda parte. Esteve bastante melhor.

As substituições acabaram por surtir efeito, com a entrada da Kika. É uma jogadora criativa que vem dar mais posse de bola e criatividade ao jogo de Portugal, mais qualidade no último passe, acaba por assumir aqui um papel bastante importante quando está em jogo. Depois, a Telma Encarnação também veio dar um poder ofensivo maior, ela tem qualidades diferentes de Diana Silva, mas veio acrescentar.

Não há vitórias morais, mas Portugal fez um jogo muito bom. Agora é procurar melhorar o que de menos bom foi feito e levar esta segunda parte para o próximo jogo, daqui a três dias, contra o Vietname. De qualquer das formas, devemo-nos sentir orgulhosos por todo o trabalho que foi feito por esta seleção. É o primeiro jogo, há muita emoção, nervosismo, ansiedade, mas acho que o país deve estar orgulhoso pelo trabalho que foi feito no primeiro jogo. Têm de dar continuidade, de sentir que podem fazer coisas melhores. O segundo jogo terá características diferentes. Elas querem ir para o último jogo a depender delas. Este jogo acabou por ser positivo em algumas situações, apesar da derrota.

E o maior respeito que os Países Baixos tiveram em relação a Portugal foi, nos últimos minutos, terem sido uma seleção que perdeu tempo, tentou ganhar vantagem com isso, sabendo da superioridade de Portugal na segunda parte deste jogo.

Notou-se algum nervosismo e ansiedade destas jogadoras. Depois de ter conquistado este feito inédito, depois da qualificação que fez, devemos estar todos orgulhosos desta seleção. Agora, é desfrutar deste Campeonato do Mundo, desfrutar deste momento único. No fundo, é o que muitas vezes se fala: elas estão a viver o sonho de muitas gerações, que foi tornado realidade agora, elas próprias reconhecem isso, que é o sonho de muitas que fizeram parte deste percurso e lutaram e abriram caminhos para que elas pudessem desfrutar deste momento único.

Queria destacar um momento impactante: quando foi tocado o hino. A imagem das nossas jogadoras emocionadas e a viver aquilo como ninguém, um sonho tornado realidade, acho que todos os portugueses se arrepiaram com este momento. Eu também me arrepiei bastante, porque me sinto parte deste percurso, deste projeto, deste momento que estão a viver. Aquele momento do hino e toda a emoção do hino transmitida para todo o Portugal, para todo o mundo. Elas estavam ali, depois de muito, acabou por ser um momento impactante, são imagens que vão percorrer o mundo.

Estas miúdas merecem muito estar ali, por tudo, também é sinal de que este crescimento e este desenvolvimento da modalidade é a prova disso: estão ali a representar todo um país, uma geração e todo o futebol feminino. Só têm de me deixar orgulhosa a mim e a todos os portugueses, elas são fantásticas e merecem estar a viver este momento.

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