Entrevistas Tribuna

João Alves: “Estamos cada vez mais dependentes de Ronaldo”

João Alves treinou os suíços do Servette durante quatro épocas e não tem dúvidas de que a seleção helvética vai ser um osso duro de roer. A receita para a vitória passa por Ronaldo e cuidados redobrados com o contra-ataque

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Depois da muito suada vitória por 2-0 frente a Andorra, que nos permitiu continuar na luta pelo apuramento direto para o Mundial da Rússia 2018, o selecionador nacional não vai arriscar sentar novamente Cristiano Ronaldo no banco de suplentes. Esta terça-feira, o jogo frente à Suíça é decisivo, como foi Ronaldo frente a Andorra. Os suíços lideram o Grupo B, com mais três pontos do que Portugal, que precisa da vitória para conquistar o sétimo apuramento para fases finais de Mundiais, o quinto consecutivo. O antigo Luvas Pretas conhece bem as mais valias da seleção helvética, depois de quatro anos à frente do Servette, e deixa alguns avisos.

A treinar para enfrentar os suiços...
EPA

Portugal consegue vencer a Suíça esta terça-feira?
Para já somos os detentores do título europeu. Agora, é cada vez mais visível que estamos cada vez mais dependentes de um jogador que faz a diferença, o Cristiano Ronaldo. Se o Ronaldo não pudesse jogar eu colocava a questão com 50% de hipótese para cada lado. Com o Ronaldo, ficamos com alguma percentagem a nosso favor. Portugal tem excelentes jogadores, alguns deles a jogar em clubes de primeiro plano europeu, mas os suíços também.

Quem são os melhores jogadores desta seleção suíça?
Os jogadores de apoio ao avançado, o Shaqiri, o Frei, o XhaKa e o Zuber fazem um meio campo com muita qualidade. Depois tem um guarda redes de grande classe, dos melhores da Europa. No centro da defesa é onde me parece que a Suíça é mais vulnerável. Tem uns laterais bons também, um deles, o Moubandje, é um jovem que foi lançado por mim quando estive a treinar o Servette. Tem o Sferovic que é um bom finalizador e que está no Benfica atualmente. Essencialmente é um equipa que joga junta há muitos anos, são quase sempre os mesmos jogadores.

João Alves quando treinava o Servette
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Essa é a grande mais valia dos suíços?
Também é uma mais valia, como é obvio. São jogadores evoluídos, rápidos. A Suíça alia bem a parte física à parte técnica e criativa de jogo. É um pais onde há muita nacionalidade. Os jogadores são suiço-africanos, albaneses, suiço-alemães, suíço-franceses, suíço-italianos, há ali uma mescla de nacionalidades que a torna muito especial. Por outro lado, é um país com excelentes condições para a prática do futebol, tem muitos relvados, qualquer equipa de terceiro ou quarto plano tem campos para a prática do futebol. Aliás tem sido campeã da Europa e do mundo em camadas jovens. Fizeram uma aposta no futebol e tem sido um país que tem vindo a desenvolver-se e neste momento ocupa a quarta ou quinta posição no ranking mundial.

Conhecendo como conhece o futebol suíço, qual seria a sua estratégia para vencermos?
Primeiro que tudo está a nossa equipa. Temos uma belíssima equipa que, como é óbvio, tem de jogar melhor do que no último jogo - embora em Andorra tenha sido um jogo especial, até pelo próprio piso. Mas temos que ter cuidado com o contra-ataque, é matar logo essas situações que os suíços vão tentar fazer, porque têm jogadores rápidos. Não vamos ver aqui uma Suíça metida na sua defesa, a não ser que seja obrigada a isso. É uma equipa que se estiver a jogar baixa no terreno, vai ter mais espaços nas costas dos jogadores portugueses. É nesse equilíbrio do posicionamento da nossa equipa que tem que residir uma das preocupações, que tem de ser importante para o jogo. A Suíça é uma equipa que sai bem de trás para a frente - e há que ter cuidado com isso.

Porque é que acontece esta dependência de Ronaldo e como se dá a volta a isso?
O futebol às vezes tem situações estranhas e bizarras. Isto para dizer que nós ganhámos a final do Europeu com o Ronaldo fora de campo. E fomos capazes. Temos uma enorme capacidade de auto superação, faz parte dos portugueses. A seleção portuguesa tem uma mistura de juventude com veteranismo, está bem equilibrada, temos talento. Temos uma história, e portanto há que acreditar nas nossas capacidades. No cômputo geral, se colocarmos as duas equipas no prato da balança, a nossa equipa com Ronaldo é melhor, porque ele é aquele quilo a mais que se põe no prato. Mas isso aconteceu sempre, veja-se o Maradona, o Pelé, as equipas têm sempre o seu peso extra.

O Portugal-Suíça joga-se esta terça-feira, a partir das 19h45, no Estádio da Luz, com transmissão na RTP1.

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