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As ideias de uma campeã europeia: “Prefiro ganhar 4-2 do que 2-0. Ainda temos de conquistar adeptos, não podemos simplesmente ficar na área”

As ideias de uma campeã europeia: “Prefiro ganhar 4-2 do que 2-0. Ainda temos de conquistar adeptos, não podemos simplesmente ficar na área”
Soccrates Images/Getty

Sarina Wiegman tem 48 anos e lidera a seleção feminina da Holanda há pouco mais de um ano, tempo suficiente para conquistar o Europeu, pela primeira vez na história, e deixar o país em êxtase com uma forma de jogar que fez jus à tradição do futebol holandês. "O primeiro objetivo é ganhar, mas para ganhar temos de jogar bem. Prefiro ganhar 4-2 do quer 2-0. É muito melhor para o público, especialmente no futebol feminino, porque ainda temos de conquistar os adeptos. Não podemos simplesmente ficar em frente à área a defender", diz a treinadora que não sabia que podia sê-lo: "Desde muito nova, sabia que queria ser professora de educação física. Treinadora não, porque as mulheres não eram treinadoras naquela altura"

As ideias de uma campeã europeia: “Prefiro ganhar 4-2 do que 2-0. Ainda temos de conquistar adeptos, não podemos simplesmente ficar na área”

Mariana Cabral

Jornalista

No verão de 2017, a Holanda recebeu um Europeu feminino que se esperava que fosse conquistado pela Alemanha, tal como aconteceu nas seis edições anteriores. O que ninguém sabia é que a seleção holandesa, naquela altura liderada por Sarina Wiegman há meia dúzia de meses, se agigantasse em campo e pusesse os jornais locais a falar de "laranja mecânica no feminino" e os adeptos a encher estádios.

A Holanda tornou-se campeã europeia pela primeira vez, vencendo a Dinamarca na final (4-2), perante 29 mil pessoas, e Sarina Wiegman conquistou o maior título de uma carreira que só começou a sério em 2007, quando largou "o emprego seguro" como professora de educação física e arriscou ser treinadora a tempo inteiro - um emprego que não sabia que podia ter, quando era mais nova, como confessou à Tribuna Expresso numa conversa no Algarve, onde a seleção holandesa está a participar na Algarve Cup 2018, para preparar a qualificação para o Mundial 2019 feminino.

O que se seguiu foi uma conversa sobre futebol - futebol que, como diz Sarina Wiegman, não tem sexo para quem gosta do jogo: "Claro que há diferenças entre equipas femininas e equipas masculinas em alguns fatores, mas acho que a visão do treinador ou da treinadora, a forma como trabalha com a equipa, isso é algo que é do treinador, da forma como vê o jogo e como quer que ele seja jogado. Isso não tem sexo."

Que tal a Algarve Cup?
Gosto muito, claro.

O tempo é que não está a ajudar muito, este ano.
É a primeira vez que nos acontece, mas tivemos sorte na quarta-feira, porque choveu muito antes do jogo, mas quando começámos a jogar o sol apareceu e o relvado ficou bom. Conseguimos jogar bem, por isso ficámos contentes.

Como é que se encara o grupo depois de ganharem um Europeu? Preparam algo diferente ou os métodos continuam iguais?
Bom, é claro que as coisas mudaram um pouco depois do Europeu, porque a equipa passou a ser muitíssimo popular na Holanda, todos ficaram a conhecer-nos e a querer acompanhar-nos. Antes do Europeu, as expetativas eram poucas, controladas, mas agora são obviamente bem mais altas. O que se compreende, porque estivemos muito bem no Europeu, mas agora estamos numa fase completamente nova, em que queremos conseguir a qualificação para o Mundial. Também é preciso ver que as outras seleções agora tentam adaptar-se um pouco à nossa forma de jogar, defendendo mais contra nós do que aquilo que faziam antes. Por isso temos de arranjar outras soluções para conseguir ultrapassar essas muralhas defensivas.

Quando eras jogadora, o estilo ofensivo, de ataque posicional, era o teu preferido?
Sim, claro. Infelizmente, na altura em que era jogadora, não éramos tão boas como somos agora. Havia muitas seleções melhores do que nós, por isso não conseguíamos atacar tanto quanto queríamos. Ao longo dos anos, fomos ficando cada vez melhores e agora estamos numa fase em que conseguimos fazer o que queremos quando temos a bola e é disso que gostamos. Mas, quando temos de defender, obviamente também defendemos.

Aqui em Portugal quando se perdiam jogos dizia-se que era pela falta de físico. Também diziam o mesmo na Holanda?
Não, isso não é desculpa. É uma combinação de fatores. Quando eu jogava, a seleção tinha jogadoras muito boas, mas as condições de treino e preparação não eram como são agora. Não podíamos ser apenas jogadoras de futebol, como acontece hoje. Tínhamos de trabalhar muito para ganhar dinheiro e só jogávamos no resto do tempo, porque o futebol não nos dava o suficiente para nos sustentarmos. Isso já mudou. É claro que alguns dos outros países podiam ser mais fortes fisicamente, mas nós simplesmente não conseguíamos ter a bola tanto e tão bem como queríamos. Agora temos jogadoras melhores, no seu todo. Não podemos falar em "físico" e em "futebol", como se fossem duas entidades diferentes.

Há uma grande diferença entre o teu tempo como jogadora e agora?
Oh, sem dúvida alguma. O jogo no feminino melhorou muito, não só na Holanda mas em muitos países. As jogadoras agora estão muito melhores, em todos os aspetos, e sentem-se mais confortáveis e as condições são melhores. Tudo isso melhorou muito o futebol feminino.

Eras médio centro, portanto imagino que fosses boa com a bola.
Não era má tecnicamente. Tinha uma boa visão de jogo. Fisicamente é que não era grande coisa, mas era inteligente.

Como começaste a jogar?
Comecei a jogar com os rapazes. Naquela altura ainda não havia futebol feminino.

Foi um processo normal?
Sim, era só mais um dos rapazes. Jogava e eles viam-me como "a Sarina que gosta de jogar futebol". Fazia parte da malta, da equipa.

Os teus pais não se importavam?
Oh, nada. Eles apoiavam-me imenso. "Se é isso que gostas de fazer, então faz" - era isso que me diziam. Nunca foi um problema para mim. Aliás, eu nem tinha noção que uma rapariga estar a jogar com rapazes poderia ser problemático para alguém. Só percebi isso quando os pais dos jogadores das outras equipas começaram a queixar-se por estar uma rapariga entre os rapazes.

Queixavam-se?
Sim, achavam estranho. Naquela altura, diziam sempre: "O futebol não é para raparigas". Bom, felizmente os tempos já mudaram. Acho que isso já não é um problema. As pessoas já percebem que as jogadoras são atletas, que são bem treinadas, que gostam de futebol, que são profissionais no que fazem. O mundo do futebol feminino mudou e isso também mudou o mundo, um pouco.

Quando jogavas, pensavas em ser jogadora ou não tinhas noção que esse sonho te era permitido?
Só gostava de jogar. Para mim, ser jogadora não era um objetivo, porque eu não tinha perspetivas nenhumas de futuro, naquela altura. Não sabia que podia ser jogadora. Não havia alguém que eu pudesse ter como exemplo. Só quando fiquei um pouco mais velha é que soube que nos EUA havia muitas equipas femininas, com jogadoras que tinham bolsas para estudar, num ambiente mais profissional e mais aceite, e quis ir para lá. Fui e foi ótimo.

O jogo nos EUA é mais focado no aspeto físico. Tiveste dificuldades?
Tive algumas, mas a verdade é que tive sorte, porque fui para a Universidade da Carolina do Norte e o treinador queria um jogo mais baseado na posse da bola, por isso fazíamos muitas coisas táticas e técnicas. Foi um ótimo ambiente para me desenvolver, também porque estava rodeada de grandes jogadoras.

Quando jogavas já pensavas em ser treinadora?
Desde muito nova, sabia que queria ser professora de educação física. Treinadora não, porque as mulheres não eram treinadoras naquela altura. Não sabia que podia sê-lo. Por isso, queria ser professora e queria estar no desporto. Foi assim que me tornei professora de educação física. Só depois disso é que o futebol feminino começou a crescer mais e, em 2007, foi criada a Eredivisie Frauen [Liga Holandesa Feminina]. Na altura, eu era professora numa escola e ia treinando equipas femininas de formação. Quando fui convidada para treinar a equipa feminina do Den Haag, nessa Liga, deixei o meu trabalho como professora e tornei-me treinadora profissional.

Foi uma decisão difícil?
Não. Vi a situação como uma oportunidade, não tive medo. Quando quero muito algo, vou atrás do que quero e depois logo se vê o que acontece. Portanto, sim, larguei o meu emprego fixo e seguro para entrar no futebol. Quis arriscar.

Com quem aprendeste?
Fui aprendendo enquanto professora a... bom, como ensinar, claro [risos]. E depois tirei os cursos de treinadora, falei com muitas pessoas, li livros - quer dizer, ainda leio muitos livros -, falo com muitos treinadores, psicólogos... Tento sempre aprender um pouco de tudo e ver o que posso utilizar no meu ambiente. Também vejo muitos jogos, claro. Mas ultimamente tenho estado tão ocupada com a equipa que nem tenho tempo para ver nada.

Quando pensamos em futebol holandês, há um nome que surge sempre: Cruyff.
Sim, é claro. Tenho muita sorte por ter conhecido Cruyff e por falado com ele algumas vezes. Marcou o futebol, com o seu tempo no Barcelona e não só. Também gosto muito do Louis Van Gaal, da forma como trabalha. No ano passado também trabalhei com o Foppe de Haan, um treinador muito experiente com quem aprendemos muito a conversar e a refletir. Acho que se estivermos sempre abertos ao diálogo, isso fará de nós melhores treinadores. De alguns tiras algumas coisas, de outros pensas que nunca farias aquilo daquela forma, mas dá-te outra perspetiva diferente.

Estagiaste na equipa masculina do Sparta de Roterdão e foste adjunta da equipa B. É tudo igual, com exceção do lado físico dos homens, que torna o jogo mais rápido?
A forma como o Sparta, com o Alex Pastoor, treinador da altura, trabalhava com a equipa, é igual, porque o jogo é o mesmo. É futebol. É claro que o jogo anda mais depressa, devido ao físico dos homens, mas o lado tático e técnico do jogo, no modo como se trabalha com a equipa, é o mesmo. Não há grandes diferenças nisso. Claro que há diferenças entre equipas femininas e equipas masculinas em alguns fatores, mas acho que a visão do treinador ou da treinadora, a forma como trabalha com a equipa, isso é algo que é do treinador, da forma como vê o jogo e como quer que ele seja jogado. Isso não tem sexo.

Tal como Cruyff ficou na história do futebol masculino na Holanda, achas que o teu nome pode ficar associado à história do feminino? Como uma espécie de mentora.
Acho que sou mentora para algumas pessoas, especialmente treinadoras. Falamos muito. Claro que sei que quando trabalhas a este nível, és selecionadora de um país e ganhas o Europeu, tornas-te...

Uma estrela.
[risos] Em parte. Tornas-te uma treinadora que as pessoas admiram. Obviamente não estou focada nisso, mas sei que é algo normal, que vem com as vitórias, e gosto de tentar ajudar as pessoas e conversar com jovens treinadoras. Espero - e acho que consigo - inspirá-las. Arrisquem, agarrem as oportunidades. Se querem ser treinadoras ou outra coisa qualquer no futebol, atirem-se de cabeça.

Sarina Wiegman com o troféu do Euro 2017. A Holanda derrotou a Dinamarca na final, por 4-2
VI-Images/Getty

Foi difícil para ti entrar no mundo do futebol?
Enquanto crescia, sabia que o futebol era um mundo maioritariamente masculino, mas gostava tanto do jogo que simplesmente fi-lo. Não é que tenha pensado "ok, quero estar num mundo de homens". Simplesmente gostava do jogo e fi-lo. Enquanto tirava os cursos, sabia que tinha de estar a um bom nível, para estar preparada e para ser respeitada.

Havia mais mulheres a tirar cursos?
Só três mulheres na Holanda têm o UEFA Pro [IV nível de treinador, o nível máximo]. Espero que dentro de dez anos tenhamos pelo menos dez mulheres com esse nível. Não sei ao certo quantas mulheres temos com os outros níveis de treinador, mas sei que devíamos ter bem mais do que o que temos. Lembro-me que quando tirei o UEFA A [III nível], fui a 13ª mulher a consegui-lo. Mas isso já foi em 1996, portanto já passou muito tempo desde então. Neste momento estamos a tentar que mais mulheres tirem os cursos e se envolvam, é um dos objetivos da Federação holandesa.

O número de treinadores de futebol com curso em Portugal, em 2017
Infografia de Carlos Esteves

Agora a pergunta para um milhão de dólares: assumes a liderança da seleção seis meses antes do Europeu e pensas "vamos ganhar o Europeu"?
Não pensei isso, não. Já estava a trabalhar com a seleção há dois anos e meio, como adjunta, e quando comecei como principal não mudámos muitas coisas. Já estávamos a preparar o Europeu e só mudámos coisas pequenas. Primeiro, reunimo-nos, o staff, e falámos uns com os outros, para percebermos bem quem tinha quais tarefas e responsabilidades, para que ficasse tudo claro. Abrimos um pouco a comunicação. Já tínhamos um plano de trabalho para as semanas em que íamos estar juntas, nas datas FIFA, para desenvolvermos a forma como queríamos jogar, para melhorar a nossa comunicação em equipa. Tínhamos muitos cenários sobre os quais falámos e debatemos isso com a equipa. Claro que tínhamos um objetivo claro: queríamos mostrar aos holandeses o quão bem podíamos jogar. Acho que não foi um objetivo muito esperto, mas era o que queríamos, queríamos que o público ficasse connosco. E, claro, para isso é preciso ganhar jogos. Foi assim que abordámos o torneio: queríamos mostrar às pessoas que sabemos jogar bem e quando fazemos isso as probabilidades de ganharmos os jogos são maiores, porque jogamos bem.

Então, primeiro jogar bem, depois ganhar?
Não. O primeiro objetivo é ganhar, mas para ganhar temos de jogar bem. E para jogar bem, todas as jogadoras têm de saber bem que tarefas e responsabilidades têm, consoante as posições em que jogam no campo, para que possamos todas contar umas com as outras. Isso dá confiança à equipa e temos mais probabilidades de ter sucesso. Mas se só nos focamos no resultado, então não estamos a pensar no que temos de fazer no jogo, em todos os cenários que encontrarmos, e isso não funciona. Se olhássemos para a história do futebol feminino, as probabilidades de ganharmos o Euro eram minúsculas. Mas decidimos lutar por essas probabilidades. Se dás o teu melhor e te preparas bem, todos os dias, antes do torneio e no torneio, então podes ganhar. Mas também podes perder, porque também tens um adversário. O que nos interessava era que todas estivessem focadas no que tinham de fazer e logo se via o que acontecia, sabendo que podíamos estar sempre orgulhosas de nós próprias no final. Se calhar isto soa demasiado simples, mas foi assim que abordámos o Europeu.

Se, por alguma razão, as jogadoras não estivessem num bom dia e não fizessem mais de três passes seguidos, jogassem mal, mas no final ganhassem 1-0, ficarias contente?
Sim, claro que fico contente pelo resultado, mas sabendo sempre que as hipóteses de ganhar o jogo seguinte passam a ficar mais pequenas, porque não jogámos como nós queremos jogar. Depois disso, temos de avaliar o que fizemos, para corrigirmos e aumentarmos as probabilidades de ganharmos o próximo jogo. E depois falamos das tarefas que cada uma tem na equipa.

Vamos supor que esta semana jogarias com os EUA, as campeãs mundiais. Seria uma semana mais baseada no treino da organização defensiva?
Sim, em parte. Obviamente treinamos os vários momentos do jogo: organização defensiva, organização ofensiva e transições, e às vezes damos mais ênfase numas coisas do que noutras. Provavelmente com os EUA antecipamos que elas tenham um bocadinho mais bola do que nós e aí se calhar temos de preparar bem a nossa organização defensiva, mas também espero que nas transições ofensivas sejamos muito perigosas para elas. Depois podemos falar de outras coisas, ofensivamente, mas de forma mais geral, porque não podes querer falar de tudo de uma vez às jogadoras, se não é demasiada informação para elas, tens de selecionar bem. Mas claro que ao longo dos meses e dos anos repetes muitas coisas e elas absorvem isso.

Dizias que as equipas agora defendem mais atrás, resguardam-se quando jogam contra a Holanda. Procuras outras soluções para atacar?
É natural que elas o façam, também viram o Euro e analisaram o que se passou no torneio. Claro que tentam arranjar uma estratégia para jogar contra nós, seria uma loucura se não o fizessem. Para nós é um novo problema, menos espaço, para o qual temos de encontrar soluções. E, no final, se tudo correr, todas as equipas vão ficando cada vez melhores e o nível do futebol feminino evolui ainda mais. Isso é benéfico para todos.

És selecionadora, foste campeã europeia... Ainda há mais objetivos?
Sem dúvida alguma. Agora o que queremos é conseguir a qualificação para o Mundial. É muito mais difícil do que a qualificação para o Europeu, porque naquela altura as pessoas não nos conheciam e não tinham expetativas sobre a nossa prestação. Depois disso, temos de nos desafiar a nós próprios novamente, sabendo que as expetativas agora são bem mais altas e que precisamos de novas estratégias para atacar e contornar as muralhas defensivas que vamos apanhando.

Quando vais na rua, abordam-te a dizer que agora esperam que a seleção ganhe tudo?
Ah, sim, veem-me e dizem: "Já fomos campeãs europeias, agora temos de ser campeãs do Mundo". E eu digo que não, que primeiro temos de nos focar em conseguir a qualificação. É que só estivemos num Mundial uma vez, portanto queremos estarmos sempre em Mundiais, de forma regular. E depois nos Jogos Olímpicos. É por isso que estamos aqui no Algarve, para nos prepararmos bem.

Já há críticas à seleção?
Oh, claro que sim. Mas isso é bom, significa que nos veem, que interessamos. As críticas também fazem parte do sucesso. Se queremos estar no mais alto nível, temos de nos aguentar ao mais alto nível e trabalhar nisso diariamente.

Aqui em Portugal temos muitos programas sobre arbitragem mas poucos sobre futebol. Como é na Holanda?
Temos muitos programas sobre futebol. Claro que também se fala dos árbitros, fazem parte do jogo, é normal, mas fala-se muito de futebol, temos bons programas com análises táticas, normalmente com ex-jogadores que entretanto se tornaram treinadores.

Imagino que já tenham notado a ironia de ter o futebol holandês no masculino mal e o feminino muito bem.
Sim, é claro. Foi irónico porque na altura em que mais crescemos, a seleção masculina teve mais dificuldades. Não conseguiram a qualificação para o Mundial na Rússia, infelizmente. Obviamente queremos ter as duas seleções bem, mas as pessoas estão sempre a comparar ambas e não queremos que nos comparem. Queremos é ter ambas bem. Temos uma população tão pequena e somos conhecidos pelo nosso futebol, pelo nosso estilo de jogo, por isso seria perfeito termos ambas as seleções em grande. Se tudo correr bem, em breve poderemos dizer: "Sim, os holandeses estão muito orgulhosos dos jogadores e das jogadoras".

Não sei se tens essa visão, mas fora da Holanda temos a ideia de que os holandeses defensivamente não são tão bons.
Falando da nossa equipa, da forma como defendemos no Euro e contra a Noruega e contra a Irlanda, já na qualificação para o Mundial, acho que estivemos bem defensivamente. Em geral, penso que talvez seja algo cultural: os holandeses são sempre muito aventureiros na forma como jogam...

Estão ao contrário. Hoje em dia parece que se pensa mais em como não deixar o adversário marcar do que em marcar.
Claro que se a tua organização defensiva não for boa, tens um problema, por isso precisas de ambos os lados: queres ganhar, mas também queres impedir que os outros marquem. Mas eu prefiro ganhar 4-2 do que ganhar 2-0.

Porquê?
É muito melhor para o público que vê o jogo. Claro que queremos ganhar e jogar bem, mas, especialmente no futebol feminino, ainda temos de conquistar os adeptos. Por isso não podemos simplesmente ficar em frente à área a defender. Acho que isso não é nada bom para o futebol feminino.

Conheces a equipa portuguesa?
Não conheço muito bem. Jogámos com elas na qualificação para o Mundial, em 2014, foi o meu primeiro jogo oficial como adjunta da seleção, ganhámos 3-2 e foi um bom jogo. Depois disso não vi muito mais, mas sei que estiveram no Europeu pela primeira vez e isso é muito bom para a equipa, para a evolução das jogadoras, e também é muito bom para o país, para verem: "Ei, estamos aqui pela primeira vez na história". Espero que dê um empurrão ao futebol feminino em Portugal.

Um dia destes também vamos ganhar o Europeu.
Ok, ok. Então nessa altura voltamos a falar [risos].

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