Foi o terceiro treino de conjunto com bola. Como estão os jogadores?
Nunca é fácil trabalharmos uma pré-época, é uma novidade para todos, mas tivemos que nos adaptar a estas coisas que estão a acontecer. Claro que o jogador gosta de ter contacto com a bola, fazer treinos coletivos, ter treinos de setores, foi muito tempo a trabalhar individualizado, mas foi para o nosso bem, era por uma causa que todos sabemos. Agora vamos ver como nos vamos apresentar, nós e as outras equipas, porque isto não é uma lotaria. O mais importante é que, em termos psicológicos, os jogadores também estejam a 100%, porque isto vai ser um desgaste tremendo. Vamos fazer 13 meses de época, começámos em julho e vamos terminar em julho. Mas o que tenho sentido dos jogadores, mais o feedback que nos têm dado, é que estão com disponibilidade, com desejo de começar, faltam oito dias [quinta-feira] para fazer o que mais gostamos, que é jogar e ter jogo, porque depois o treino começa a ficar um pouco cansativo. O mais importante é estarmos pronto para o primeiro jogo contra o Desportivo das Aves.
Voltaram com mais fome de bola agora para esta mini-pré-época, do que se fosse uma pré-época normal?
São situações diferentes, não estava cá a trabalhar quando eles regressaram. Mas, normalmente, quando acaba o campeonato, têm um período de quatro, cinco semanas de férias e nas primeiras três estão ao sol, vão a restaurante com as famílias, fazem o que têm a fazer, porque temos de desligar, também fui jogador e sei o que é o sofrimento de 10 meses e meio de competição, a jogar de três em três dias e com viagens no meio. Há um desgaste muito grande nos jogadores e é importante que, quando termina a época, têm essas três semanas de descanso para na quarta começarem, aos poucos, a trabalhar, para depois na quinta se apresentarem com alguns índices físicos dentro do que pedimos. Esta foi completamente diferente. Não sabíamos quando poderia começar, íamos dando algum trabalho para fazerem em casa, mas a ansiedade deles podia ser prejudicial em termos físicos e psicológicos. Trabalharam ao longo de 40 dias em casa, iam recomeçar para a semana, depois era só na outra, e isto foi-se prolongando. Dentro disso, quem tiver as melhores condições para trabalhar e a tecnologia que hoje nos permite avaliar individualmente o jogador, para depois, com bola e no treino coletivo, podermos retirar o melhor rendimento de cada um para o coletivo ser mais forte. Dentro da nossa experiência, com os meios que temos, tentámos que os jogadores atingissem alguns patamares físicos, técnicos e também táticos. Mantivemo-nos em contacto, desde que entrámos a 12 de janeiro proposemo-nos a ter uma ideia de jogo, um modelo, uma metodologia de treino diferente, onde houvesse a atenção dos jogadores. Fomos sempre enviando alguns momentos de jogos, com aquilo que achássemos essencial eles reforçarem. Trabalha-se muito no campo, mas, às vezes, visualizar é muito importante para os jogadores verem os seus movimentos e os dos companheiros. Fomos trabalhando com eles os aspetos em que podiam melhorar com reuniões, depois fica mais fácil ajustar com eles no campo, tanto aspetos técnicos como táticos, mas também em vídeo, para poderem sentir e analisar o que, de semana para semana, vão evoluindo. Nesse sentido, estão a evoluir nestas três semanas e meia que temos de trabalho.
Dedicaram muito tempo ao pré-treino de alongamentos dinâmicos e ativação muscular. É a pensar naquela fase em que haverá jogos a cada quatro dias?
É como disse, vão ser 13 meses de temporada, haverá um desgaste, ainda por cima após 40 e tal dias em casa e treinar em casa não é igual a treinar no campo. Isso notou-se logo nos primeiros treinos individuais que fizemos, houve jogadores que ao fim de três, quatro ou cinco minutos sentiram logo o desgaste, porque na relva é diferente, as temperaturas também. Este pré-treino que damos é para não ter um período tão longo de treino e para que cheguem preparados à fase do treino com bola para não terem lesões. Isto vai ser novidade para todos. Já temos um exemplo, às vezes falo com pessoas que estão na Alemanha, já houve várias lesões em jogadores alemães, mas também é uma situação diferente, porque lá fizeram três pré-épocas - em junho, em janeiro e agora em março. Vamos tentando ver e aprendendo com os outros, sabendo também da nossa experiência como treinadores. O feedback dos jogadores também permite que sejam o personal trainer deles próprios, são quem mais conhece o seu corpo e os mais experientes podem dar-nos essa informação. Aos mais jovens, vamos aconselhando e tentando melhorar com eles.
Em termos de toque e relação com a bola, os jogadores voltaram muito enferrujados?
Trabalharam com a parede para melhorar um bocadinho a técnica [ri-se]. Em casa não é treino, podes fazer uns abdominais, uns trabalhos de prancha que hoje em dia toda a gente faz, mas correr dois ou três minutos na relva é logo diferente do que correr em casa. É normal que o jogador nos primeiros dias de treino com bola, no coletivo, tenha alguma dificuldade. Mas, à medida que os treinos e as semanas passam, eles vão ganhando confiança e isso permite, também, que melhorem em termos técnicos, táticos, de pensamento e de ler mais rápido o jogo, e podemos ir buscar isso mais rapidamente ao melhorar a condição física.
Já se habituaram a virem equipados de casa e a lavar os próprios equipamentos?
Sim, é mais fácil quando vivemos com a nossa família e temos sempre a nossa esposa a tratar disso. Acho que já nos adaptámos durante estas três semanas e meia, já nem olhamos para os balneários, toda a gente chega ao carro e vai embora. Somos mais nós, equipa técnica, a trabalhar aqui, o jogador quando acaba o treino vai diretamente para casa, toma banho em casa. Tentamos que em casa possam fazer gelo. Agora, não sei é se podemos ir para o jogo oficial já equipados.
[versão completa da entrevista publicada a 29 de maio, na edição impressa do Expresso, com a reportagem "Só quando saem daqui é que se lembram de estar a viver uma pandemia".]
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