Manuel Cajuda vai aprender a ser presidente do Olhanense: “Diziam que sou um mestre do treino, e depois: ‘Mas ó mister, você tem 70 anos’”

Editor
Vestindo a capa de bom matreiro e decidindo para os seus botões, Manuel Cajuda chegou ao último 25 de março e saiu de fininho de cena. Cumpria, nesse dia, uma efeméride muito dele, eram quatro décadas feitas desde que entrara no defunto Estádio da Antas para defrontar o FC Porto e estrear-se como treinador. De lá saiu com a bagagem pesada, um 7-1 para o Farense levar para o Algarve em 1983, mas ele não fez, nem hoje faz caso disso. Afinal, “nunca” se considerou um treinador, “mas um gestor da competência dos outros”. Maior e melhor fosse a labuta dos jogadores, mais o técnico brilhava.
Di-lo com um sorriso na voz, à distância e a falar de Olhão, cidade onde nasceu e à qual retornou durante a pandemia. Vendo o clube da terra a perecer, caindo há meses para as divisões distritais pela primeira vez na sua história, onde jogará na próxima época, coincidentemente 100 anos após ser campeão português, as suas gentes urgiram-no a chegar-se à frente. Com o incentivo da família, o histórico treinador aceitou ser candidato à presidência do Olhanense. Ganhou o voto e agora concede que piorar o estado atual do clube será difícil, diz ter ideias, mas ainda está a apalpar terreno para “saber a realidade” da tarefa que o espera.
A sua passagem do banco de suplentes para os gabinetes deveu-se, no cerne, à sua vontade em ajudar, porque ele é “o ‘Cajuda’”. Bem-disposto, ávido falador e sempre com uma história pronta a disparar, uma entrevista sobre o Olhanense não demorou a evoluir para uma conversa a versar acerca da carreira de um dos técnicos mais emblemáticos do futebol português que, nos últimos anos, se recusou a trabalhar na bola cá do burgo por não poder mais com a “filosofia de viver o futebol em Portugal” que hoje impera. Não devido a isso, mas por isso o ajudar a perceber, Manuel Cajuda é do tempo em que, se os seus jogadores se comprometessem a ganhar à equipa que dali por meses ia ser campeã nacional, dava-lhes uma semana “recreativa” de treinos onde eles mandavam. E depois, ganhavam mesmo.
São histórias-mil do treinador virado presidente de clube, mas ele avisa: “Não são paródia, estão enganados. São páginas do livro da minha vida.” E Manuel Cajuda garante que se “divertiu imenso” a “especializar-se em gerir o insucesso”.
Porquê voltar agora, com 71 anos, ao Olhanense para assumir o cargo de presidente?
Porque o Olhanense está numa situação dramática, é o pior momento da vida do Olhanense e com a perspetiva que tenho dos anos que trabalhei, apercebi-me que se não tomasse esta decisão o Olhanense acabava mesmo, ia para o fim e não duraria muito mais tempo. Não estou a dizer que não pode acabar, digo que estou a tentar que isso não aconteça. Depois, houve um envolvimento muito grande à volta do meu nome, um apoio que me deixou feliz, mas estranhei, porque há mais de 40 anos que estava fora de Olhão. E porque a minha família... [faz uma pausa].
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