Atrás de Fernando Pimenta, que era desengonçado e gosta de comer bem, há um treinador a recusar convites para “ganhar 3x mais” lá fora

Jornalista
Veio sozinho a conduzir a carrinha da equipa portuguesa de canoagem, desde Duisburgo, na Alemanha, até Portugal, logo a seguir ao Fernando Pimenta conquistar a sua terceira medalha nos Mundiais. Não é uma tarefa que esperamos do treinador mais medalhado de um país.
[Risos] Teve a ver com duas situações. Tivemos connosco, em Portugal, uns atletas da Argentina de quem me socorri para ajudar na preparação do Fernando, e como eles depois precisavam fazer um estágio na Alemanha, combinei com a federação articular de forma a que eles pudessem levar a nossa carrinha. Assim, durante o mundial, em vez de usarmos os transportes da organização, que eram autocarros com toda a gente, podíamos usar a carrinha. É que nos Jogos Europeus quase toda a equipa apanhou covid-19, foi também uma forma de proteger um bocadinho a equipa e todos os atletas puderam beneficiar. Podíamos gerir os horários conforme as nossas necessidades, acho que estávamos mais tranquilos. Só que alguém depois tinha de trazer a carrinha [risos].
Voluntariou-se?
Sim.
Entretanto, já comprou bilhete para ir ter com o Fernando Pimenta à Dinamarca, onde ele vai disputar o Mundial de Maratona?
Vou ser sincero, agora mesmo estava a comprar o bilhete e tinha acabado de surgir a mensagem “confirme o seu pagamento”, mas como me ligou, eu disse: “Olha, já não vai ser”; mas não faz mal, eu volto a fazer.
Não seja por isso, desligamos, compra o bilhete e eu ligo daqui a 15 minutos.
Não se importa?
Claro que não.
[Passados 15 minutos, nova chamada.]
Já comprou o bilhete?
Está feito, obrigado.
Ainda parte esta terça-feira?
Vou amanhã. Sabe, a nossa preparação foca-se mais para a pista. Ele vai lá mais porque gosta de competir e gosta da maratona. Ele vai fazer a short-race, que tem pouco mais de 3.000 metros, e depois vai fazer K3, com o José Ramalho, e aí são 30 quilómetros. Ele faz tudo, 500, 1000, 5000 metros e agora maratona. É um polivalente.
O Hélio faz 50 anos na sexta-feira, vai festejar os anos na Dinamarca?
Nos meus anos, normalmente costumo estar em provas e ando sempre numa correria. Mas desta vez, como são 50 anos, vejo a short-race dele, na quinta-feira ao final da tarde, e venho embora na sexta-feira para vir jantar com os meus irmãos.
Pode ser que o Fernando lhe dê uma prenda antecipada na prova de quinta-feira…
Já deu bastantes. Curiosamente, o primeiro título individual de campeão da Europa, que ele ganhou quando era júnior, tinha 18 anos, foi no dia do meu aniversário. Ele chegou à minha beira e disse: “Olha, Lucas, para ti”. Foi o primeiro título. Campeão da Europa de juniores em Belgrado, na Sérvia, em 2007.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: AAbreu@expresso.impresa.pt