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Entrevista a José Mota, o treinador mais velho da I Liga: “Tem-se retirado muito do protagonismo que o ‘mister’ tinha”

Entrevista a José Mota, o treinador mais velho da I Liga: “Tem-se retirado muito do protagonismo que o ‘mister’ tinha”
NUNO BOTELHO

O técnico do Farense, de 59 anos, reflete sobre a maior atenção que os jovens treinadores recebem agora, sobre a justiça ou merecimento desse mesmo facto, e sobre como vê o ideologicamente afunilado futebol e as consequências dessa tendência. Ao longo da conversa, que decorreu no São Luís, em Faro, José Mota fala ainda sobre a nova ordem dos descontos de tempo, o espírito dos anos 90 que quer resgatar para este estádio e ainda sobre o papel do treinador nos clubes, muito diferente de quando começou a carreira

É exatamente como imaginamos. Primeiro, austero e desconfiado. Depois, falador e com uma normalidade admirável. José Mota, de 59 anos, é o treinador mais velho da I Liga. Devolveu o Farense ao primeiro escalão do futebol português e venceu há dias o SC Braga no São Luís (esta conversa aconteceu na véspera do jogo), o lugar para onde agora convoca “a mística” e os ensinamentos dos tempos de Paco Fortes, Hassan e companhia

Dá-lhe mais gozo lutar para não descer ou para subir? Ou como é que sofre menos?
Acho que trabalhar sobre vitórias, com certeza, dá mais gozo. Dá mais alegrias, como é óbvio.

Melhores noites.
Dá menos preocupações também. Sem dúvida alguma e percebo a pergunta, mas quando se luta por objetivos maiores dá mais gozo trabalhar.

São já cinco subidas de divisão. Sente-se um sucessor de Vítor Oliveira? Tem aí um filão para explorar?
Não. Percebo perfeitamente que fui sempre um treinador que trabalhou muito na 1ª Liga e, cá está, sempre com objetivos de manutenção. Nunca tive um projeto que se enquadrasse, por exemplo, com um objetivo europeu, ou então para ser campeão. Os projetos e trabalhos que tive foram sempre pela manutenção. Claro que isso desgasta muito. Desgasta muito. Foram trabalhos muito difíceis, alguns deles com excelentes prestações, penso que três sextos lugares, vários sétimos, oitavos, nonos. Foram trabalhos em que se conseguiu ir à Liga Europa. Mas é verdade que trabalhar para a manutenção é sempre difícil, em termos psicológicos é extremamente, extremamente complicado.

Há uns tempos fizemos um trabalho pegando no exemplo do Vítor Manuel, para tentar perceber se há uma moda dos treinadores jovens e esquecimento dos outros. O José Mota, quando ele treinou na 1.ª Liga pela última vez, era o mais novo com Mourinho. Isso acontece ou não?
Agora há realmente maior atenção sobre os jovens, há alguns que chegam à 1ª Liga sem terem trabalho feito. Quando cheguei à 1ª Liga era realmente o treinador mais jovem, com 34 anos, penso eu, e recordo-me ainda hoje de quem eram os treinadores que enfrentei. Vítor Manuel no Salgueiros, o segundo jogo foi com o professor Neca, do Aves, o terceiro foi com o Fernando Santos, do Porto. Depois, o Quinito no Estrela da Amadora, o Vítor Oliveira no Gil Vicente, o Manuel Cajuda no Braga, o Manuel Fernandes no Campomaiorense. Ou seja, todos estes treinadores tinham sido meus ídolos e pessoas que eu sempre admirei. Como atleta, nunca tive o privilégio de os defrontar. Era extremamente difícil chegar à 1.ª Liga e impor-nos. Primeiro, porque não se davam oportunidades. Eram sempre os mesmos a ocupar as cadeiras, era difícil. Era preciso conhecimento, ter arcaboiço para chegar à 1.ª Liga.

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