Como olha para a entrada de investimento estrangeiro nas SAD?
Para mim é o caso evidente da falência dos modelos operacionais anteriores. Para mim não é um passo para a modernidade e não o entendo como um passo para a modernidade, entendo como uma falência das gestões anteriores, que podem ter trazido sucesso desportivo mas acabaram por arrasar os seus clubes do ponto de vista financeiro, metendo a sua sustentabilidade financeira e a sua viabilidade e sobrevivência em causa. O recorrer a vendas de capitais e linhas de crédito não passa, no fundo, de tentar salvar anos de gestão que não funcionaram.
É o que está a acontecer ao FC Porto neste momento? Já olhou para o último Relatório e Contas da SAD?
No fundo, sim. O FC Porto juntou a sua dívida financeira €150 milhões de prejuízo nos últimos 10 anos e tem capitais próprios negativos de 175 milhões de euros. O que é um bom cenário futuro? É a nova regulamentação sobre o fair play financeiro que obriga os clubes a constantemente, anualmente, evoluírem sobre os capitais próprios. O estádio do FC Porto, por exemplo, ainda pertence ao seu clube e poderá ser transitado para a SAD e a partir daí haver logo um benefício em termos de capitais próprios, um pouco em linha com o que se passa no Sporting. Há maneiras de fazer os capitais próprios negativos do FC Porto evoluírem e não parecerem tão drásticos e chocantes como estão atualmente. Agora, o FC Porto tem um passivo absurdo e o que é claro é que os modelos operacionais que estão em funcionamento nos últimos 10, 12 anos não funcionam, porque levam o FC Porto a um ponto sem retorno e penso que é isso que deixa os sócios cada vez mais desgastados e a razão pela qual se revoltam. Eu acho que enquanto há normas e normativas externas ao FC Porto que obrigam o FC Porto a reformatar-se sob a boa governança, as mesmas não deviam ser só externas, deviam ser internas. E o FC Porto tem que se perspectivar daqui para a frente para uma nova fase da sua vida onde os seus modelos organizativos e operacionais funcionem de modo a que os mesmos tenham sustentabilidade dentro destes modos do associativismo, que é o que todos nós queremos.
Olhando para a equipa do FC Porto que levou à conquista da Liga Europa, há nomes como James Rodríguez, Falcao ou Hulk, jogadores desejados por outros clubes cá e que escolheram o FC Porto, dando depois retorno financeiro na venda. O que é que se passou daí para a frente para o FC Porto ter deixado de ter tanta capacidade de convencer estes talentos a ir para o Dragão e não para outros clubes?
Isso poderá ser um dos campos onde há muito espaço de evolução. O FC Porto sempre marcou a diferença pelo seu scouting, por encontrar os melhores nos diferentes sítios do planeta, nomeadamente na América do Sul, na América Central, e trazê-los para o FC Porto. Algumas situações destas ainda acontecem mas cada vez com menos frequência, muito provavelmente por perda de capacidade competitiva financeira, isso não há dúvida. Outra das razões é o crescimento monstruoso das estruturas que estão nos grandes clubes europeus. Ou seja, encontrar talento agora é muito mais difícil. Um Endrick ou um Vinicius Jr. neste momento já não fazem ponte num clube português, vão diretamente para o Manchester City, Real Madrid ou Barcelona. O acesso ao talento é cada vez mais competitivo e difícil, porque os outros clubes vão-se tornando cada vez mais fortes e poderosos e com redes de observadores e de scouts em todo o mundo. Acresce ao facto dos campeonatos brasileiro, mexicano e norte-americano estarem também eles em crescimento de valor e terem muito mais capacidade de reter talento em vez de os exportar. Antes nós competíamos a nível salarial ou oferecíamos melhores condições salariais aos jogadores brasileiros e vinham os melhores jogadores brasileiros para Portugal. Agora isso já não acontece porque o mercado brasileiro começa a pagar muito mais do que o mercado português. Temos que nos renovar sobre a nossa capacidade de scouting, as redes de scouting e saber precisamente onde é que nos podemos antecipar.
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