As peças têm movimentos limitados quando restritas a um tabuleiro. Sabendo o que cada uma delas faz dentro das regras do jogo, fica fácil ler os cenários. A cada drible, Toney Douglas ganha tempo para cimentar o raciocínio quanto à jogada seguinte. A proteção no joelho direito tornou-se praticamente requisito para entrar no court, mas as boas decisões tomam-se com a cabeça, esse motor que dá longevidade ao corpo.
Não há nada num jogo de basquetebol que um jogador de 38 anos possa ainda não conhecer. Toney Douglas nem sempre foi assim, ponderado. Antes, queria entrar no campo e defender o melhor jogador do adversário em todo o lado. É uma estafa desgraçada quando se está numa temporada com 82 jogos como a da NBA. Mike D'Antoni, antigo treinador dos New York Knicks, teve que lhe colocar um travão. Porém, era assim que o norte-americano esperava conseguir ficar no melhor campeonato do mundo. E ficou. Ficou durante oito anos e percorreu sete equipas.
Na noite do draft de 2009, foram os Los Angeles Lakers de Kobe Bryant a chamarem o nome de Toney Douglas ainda na primeira ronda. Nos bastidores, David Falk, o agente que também tinha trabalhado com Michael Jordan, já lhe tinha antecipado que os Knicks iam pagar três milhões de dólares e que seria Nova Iorque o local onde passaria a temporada de rookie. Após três anos na cidade que nunca dorme, fez um périplo pela liga. Seguiram-se os Houston Rockets e os Sacramento Kings até ingressar, em 2013/14, nos Golden State Warriors. Durante a primeira metade da época, encarregou-se de, nos treinos, defender Steph Curry. Depois, a carreira seguiu nos Miami Heat onde boa companhia não lhe faltou. Na Flórida, ao serviço dos bicampeões, esteve ao lado de Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh no caminho até à final que os Heat perderam para os San Antonio Spurs.
Toney Douglas deixou definitivamente a liga norte-americana em 2017. Juntou ao currículo passagens pela Turquia, onde jogou na EuroLeague, a mais importante competição europeia, Espanha, Itália, Grécia e Israel. O Benfica, atual bicampeão nacional, contratou-o em 2022. Desde aí, a equipa de Norberto Alves somou duas presenças na Liga dos Campeões e prepara-se para atacar os play-offs em busca de mais um título.
Quando o Benfica jogou contra o Hapoel Jerusalém na Liga dos Campeões, Aleksandar Džikić, que foi teu treinador em Espanha, disse que te perguntou se, aos 38 anos, ainda ganhavas dinheiro com o basquetebol.
É um bom treinador e uma boa pessoa, especialmente fora do campo. Antes do jogo, disse-me: “Olha o Toney Douglas ainda a fazer dinheiro no court.”
Chegaste com 36 anos. O que te trouxe a Portugal?
Não sabia nada sobre Portugal. Estava a pensar em ir para Espanha ou para a Turquia. Fiz alguma pesquisa e as pessoas com quem falei disseram-me que gostavam da cidade e do clima. Para mim, é um dos melhores sítios da Europa.
O que gostas mais?
Gosto do clima, da variedade de comida e de restaurantes. Vivo em Cascais, gosto muito. É bom para famílias. Estive em bons países. No geral, Portugal está no top-2, porque também estive em Itália.
Planeias ficar em Portugal depois de deixares de jogar?
Não estou a pensar em deixar de jogar, para ser honesto. Pode ser, a família e eu adoramos. O meu filho está na escola em Cascais. A minha filha tem quase dois anos. Não consigo prever o futuro, mas este é um sítio que a minha família gosta muito.
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