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Claire Bloomfield, líder do futebol feminino na ECA: “Ainda há futebolistas mulheres a jogarem com chuteiras de criança”

Claire Bloomfield, líder do futebol feminino na ECA: “Ainda há futebolistas mulheres a jogarem com chuteiras de criança”
NUNO BOTELHO

Chegou à Associação Europeia de Clubes em 2020 e é com ela que a ECA tem dado força a investigações que procuram ajudar as futebolistas a jogarem com as melhores condições possíveis, nomeadamente na área da produção de chuteiras exclusivas para mulheres e dos efeitos do ciclo menstrual na performance. Em Lisboa para uma reunião com staff de alto rendimento no futebol feminino, que juntou vários clubes europeus, Claire Bloomfield elogia o trabalho das equipas, que têm deixado de lado rivalidades para desenvolverem da melhor forma o futebol jogado por mulheres, onde a ciência ainda dá os primeiros passos

Está em Lisboa para uma reunião de alto rendimento no futebol feminino, algo que, suponho, há 10 ou se calhar até cinco anos era território completamente por explorar.
Sim, claramente. É uma das razões pelas quais estamos a fazer o que estamos a fazer. Quando lançamos a nossa primeira estratégia para o futebol feminino, decidimos atacar seis áreas distintas e uma delas era a alta performance. E a ideia era juntar os clubes, partilhar as melhores práticas, o conhecimento, desenvolver o pensamento em pontos fulcrais. Sabemos muitos dos desafios que os clubes enfrentam, que as atletas mulheres estão a enfrentar. Não vamos ser capazes de os resolver sozinhos, vai ser preciso um esforço coletivo e este Grupo Consultivo de Alto Rendimento é uma maneira fantástica de juntar os melhores especialistas que trabalham especificamente com mulheres futebolistas. Acredito que alguns dos ensinamentos que vamos reunir a partir das investigações onde estamos a investir ou deste grupo vão ajudar não só o futebol feminino, mas com certeza serão também traduzíveis para outros desportos femininos. Um dos pontos fulcrais dos estudos que estamos a fazer é disponibilizá-los à indústria e à comunidade do futebol feminino. É um projeto fantástico para desenvolver e tens muita razão: há cinco, 10 anos isto não estaria a acontecer, não existia este interesse no futebol feminino que temos agora.

É muito importante ter cada vez mais raparigas e mulheres a jogar, mas se elas não tiverem condições também não vão evoluir, certo?
Sim, exatamente. E temos cada vez maior fisicalidade, intensidade. O ritmo das partidas que as principais jogadoras têm agora significa que precisam do melhor em termos de alta performance, de tratamento e prevenção de lesões. Mas não podemos simplesmente replicar tudo que resultou no futebol masculino. Há imensos dados para construir programas específicos para o corpo masculino, mas a fisiologia das futebolistas é muito diferente. É muito importante investirmos em programas de treino e de prevenção de lesões especificamente para atletas mulheres. Um dos grandes desafios é a participação das atletas nestes estudos e isso é algo que, através deste grupo consultivo, temos conseguido fazer muito bem: no nosso grupo de estudos para o futebol feminino temos quase 300 futebolistas de toda a Europa e números desta monta dão-nos muito conhecimento no sentido de moldar estes projetos e mudanças às práticas dos clubes, para garantir que as atletas serão tratadas da melhor maneira possível.

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