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Pedro Proença e a defesa das ligas domésticas: “Não podemos permitir que o futebol europeu se torne num clusterzinho da elite”

Pedro Proença e a defesa das ligas domésticas: “Não podemos permitir que o futebol europeu se torne num clusterzinho da elite”
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O presidente da Liga Portugal é desde novembro também líder da European Leagues, a associação de ligas europeias. O objetivo nos primeiros meses passou pela recuperação da credibilidade da organização que vivia, até então, tempos turbulentos, numa altura em que a possibilidade da criação da Superliga e as mudanças de formatos das competições internacionais ameaçam as ligas nacional. Em abril, em Londres, o dirigente esteve na primeira Assembleia Geral da organização desde que chegou à presidência

Dentro das diversas associações e organizações do futebol europeu e mundial, qual é a importância e o papel da European Leagues neste ecossistema?
Basicamente a UEFA e a FIFA sentiram-se obrigadas, nos últimos quatro anos, a ter que incorporar um conjunto de stakeholders que não eram reconhecidos ou aceites. O que a UEFA fazia era: tinham as federações locais dos 52 países da Europa e, portanto, só os reconhecia a eles como parceiros deste negócio. Depois começam a aparecer a European League, como os representantes das ligas, depois a Associação Europeia de Clubes (ECA), como representante dos clubes. Depois o representante dos adeptos. Começa-se a construir esta pirâmide e é aí que a European League aparece. E é com este aparecimento do nosso caderno de encargos - nós representamos as ligas domésticas - que a UEFA se vê na obrigação de ter de reconhecer isto no tal ecossistema e onde nós passámos a ter parte. A UEFA está composta por um conjunto de comités, comités de arbitragem, por exemplo, e nós temos lugar em alguns comités, nomeadamente no mais importante que é o Comité Executivo da UEFA. O presidente da European League tem assento. Onde é que está? Está ao lado do Aleksander Ceferin, do Nasser Al-Khelaifi, etc. O Comité Executivo da UEFA é quem toma as decisões finais no mundo da UEFA.

Esta incorporação no Comité Executivo da UEFA é recente ou vem desde o início da European League?
Não. É reconhecida há 4 anos. Foi um movimento político. Tentou-se, de alguma maneira, controlar estes stakeholders que fazem muito barulho quando estão sozinhos. Só que, é evidente, depois isto vai mudando. Nós vamos querendo e tendo um caderno de encargos e, portanto, começamos a ser parceiros que nos mexemos e que mobilizamos, que suscitamos dúvidas e questões que queremos ver contempladas. O tema dos calendários, o valor de distribuição das competições europeias, os novos formatos e quantas equipas é que entram, tudo isto é discutido no Comité Executivo onde nós temos assento e agora temos uma voz.

É líder da European Leagues desde novembro. Tem sido difícil desdobrar-se perante tantas questões prementes da Liga Portugal e de uma European Leagues que precisa desta revitalização e deste diálogo mais permanente depois de um período tumultuoso?
Tem sido muito desafiante, por um lado, mas também muito difícil, obviamente. Encontrei uma organização que estava muito carente de organização e de metodologia e de reconhecimento, nomeadamente dos parceiros. Havia dois grandes objetivos que me tinham solicitado neste mandato: primeiro, a recuperação da credibilidade da própria organização, conseguir fazer pontes e aí obviamente a minha carreira como árbitro ajudou, reconhecendo e sendo reconhecido por todos estes parceiros, além do trabalho que estava a fazer também na Liga Portugal que era para a European League um cartão de visita neste processo de poder aproximar-nos da UEFA, da ECA, etc. Nós conseguimos desde dezembro até hoje, com uma série de reuniões que eu tive viajando por este mundo inteiro, estabelecer relações com toda esta gente que conseguimos que viessem, por exemplo, a esta Assembleia Geral. Portanto, esta é já uma grande vitória da European League. O segundo grande objetivo era nós podermos mudar o modelo de governação, torná-lo muito mais executivo e muito mais ágil, algo que foi consumado nesta AG com as alterações que nós aprovámos, quer nos estatutos da própria European League, quer nos regulamentos, o que nos vai permitir ser muito mais dinâmicos nos objetivos que temos pela frente. Eu direi que nestes poucos, mais de cinco meses, conseguimos estes dois objetivos que me tinham solicitado.

Estava à espera que fosse tão absorvente?
É evidente que isto consumiu muito mais tempo do que eu estava à espera, não deixando nunca de descurar aquilo que são, para mim, as minhas prioridades, que são os assuntos locais, internos e domésticos, que é a Liga Portugal. Mas também consegui fazer estas pontes e, portanto, estou muito satisfeito com o que conseguimos fazer até agora. Há um trabalho grande pela frente, mas acho que nesta AG ficou claro, e até internacionalmente, pelo Ceferin, Nasser Al-Khelaifi, pelo Richard Masters [CEO da Premier League], todos aqueles que são os players importantes do futebol europeu, que a nossa presidência tem sido fundamental para conseguir posicionar outra vez a European League.

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