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Jorge Braz, o selecionador que vai tentar ganhar outro Mundial de futsal: “Eu tento não me distrair nunca. O copy paste dá mau resultado”

O selecionador nacional de futsal, fotografado dias antes da partida para o Usbequistão, onde se jogar o Mundial de 2024.
O selecionador nacional de futsal, fotografado dias antes da partida para o Usbequistão, onde se jogar o Mundial de 2024.
Portugal é hoje, de caras, o alvo a abater no futsal: ganhou os últimos dois Europeus e também o Campeonato do Mundo que houve pelo meio. Desde 2010 e em todas essas conquistas este Jorge Braz, o pacato transmontano que é selecionador nacional e para quem “é questão de honra” preservar “os comportamentos exemplares” em quem joga na seleção, porque “não vale tudo para ganhar”. Em entrevista à Tribuna Expresso antes da partida rumo ao Usbequistão, onde Portugal se estreia no Mundial na segunda-feira (contra o Panamá, às 13h30, RTP), o treinador explica como faz por manter a bitola da exigência bem lá em cima

Jorge Braz é calmo na fala, também nos gestos. Leva o seu tempo a caminhar, demora o tempo justo a explicar-se, cada resposta precisa a ir dar ao seu sítio. Transmontano de gema e com o ser selecionador bem entranhado, está no cargo desde 2010, ano em que a miríade de sucessos começou: antes de se agarrar, em definitivo, às conquistas com o Europeu de 2018, cinco anos antes já mudava mentalidades quando até ganhou um leitão ao apostar com quem não acreditava que Portugal fosse ganhar, pela primeira vez, à Itália. Entretanto, o difícil é encontrar quem ganhe a Portugal.

Mais do que nunca, a seleção tem um alvo nas costas. Venceu o último Mundial, em 2021, pouco antes de um calendário atravancado devido às baldrocas da pandemia a fazer revalidar o título de campeão da Europa meros meses depois. O pacato e sereno Jorge Braz orquestrou todas as conquistas, provavelmente da mesma forma com que se senta no lobby de um hotel em Porto Salvo, Oeiras, na véspera de viajar com os jogadores para o Usbequistão, na Ásia Central, onde se vão estrear no Mundial na segunda-feira (13h30, RTP) contra o Panamá.

Com discurso pausado e em aparente controlo de todas as variáveis, Jorge Braz explica ser um servente atento às distrações dos jogadores que ganharam calo às derrotas: desde o Campeonato do Mundo de 2016 que Portugal apenas perdeu duas partidas oficiais, sem contar com penáltis. “Ser treinador é servir. Não é ‘sou o campeão do mundo’, não, não, eles é que são. Ser treinador é servir e, consequentemente, também temos direito à medalha. Mas primeiro eles, é a minha forma de olhar para as coisas”, expõe, no seu tom de auto-subestima e arremesso constante dos louros na direção de quem está dentro da quadra.

Quase um senhor futsal, por supervisionar todas as seleções nacionais, Jorge Braz confessa que o tanto trabalho “esfola a alma” e lamenta que este ano, pela primeira vez, não foi às festas de Sonim, a sua terra que é uma aldeia de Trás-os-Montes, por o tempo escassear. Repete, mais do que uma vez, o exemplo que vê o futsal a dar e ao qual mantém a rédea curta, segurando a trela com pega firme porque “não vale tudo para ganhar”. No Usbequistão, defende, “temos de ser exemplares na imagem e nos comportamentos que transmitidos”. Esse é o “ponto de honra” do selecionador nacional.

A última publicação que fez no Instagram não tem nada a ver com futsal: é um vinho com o nome da sua terra.
[Solta uma gargalhada] Tive que pedir à minha filha que eu nem sei publicar. Sim, é o nome da minha aldeia, o vinho é de pessoas amigas, de infância, o senhor Fernando e agora a filha, a Dina, e o Hélder, que têm este projeto de vinhos lá na aldeia, chamados ‘Encosta de Sonim’. É uma marca de vinhos que produzem já há uns anos e a seguir ao Campeonato do Mundo queria muito estar com o Hélder, queria dar-lhe uma prenda e ele queria muito falar comigo pessoalmente. Apresentou-me o projeto de um casta, de uma produção limitada que eles tinham de vinhas velhas, ele queria muito que tivesse o meu nome. O conceito deles é muito de família e amigos e como eu falo muitas vezes do sentido de família eles associaram ali uma história muito gira. E perguntou-me se eu me importava de ter um vinho de 'Família e Amigos Jorge Braz'. Disse logo que sim, ainda por cima quando é um projeto de 2 mil garrafas, de edição limitada, em que 50% das vendas irá reverter para uma causa social da aldeia. Ainda não está bem decidido o quê.

Sobra-lhe muito tempo para ir à terra no meio da azáfama toda de ser selecionador nacional?
Não, pouquíssimo. Este ano foi a primeira vez na minha vida que não fui à festa da aldeia. É aquele fim de semana que nunca falho, mas, este ano, não consegui com imensas tarefas de preparação para o Campeonato do Mundo e de terminar a época desportiva. É sempre o último fim de semana de julho e eu entrava em estágio a seguir - e, acima de tudo, por causa da minha família. Se não tenho tempo para ir à aldeia, também tenho pouquíssimo para estar com a minha esposa e a minha filha. Queria estar com elas algum tempo, pelo menos uma semana, porque praticamente não estive durante o ano inteiro, antes de entrar em estágio. Dentro do pouco tempo que sobra, optei por ficar com a minha esposa e filha a tratar de algumas coisas do estágio. E não fui à festa da aldeia este ano.

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