As palavras desatam-se melhor sempre que João Correia usa as peças linguísticas para montar um discurso sobre o sítio de onde vem. Até lhe perguntámos pelo bis na primeira jornada da Liga Conferência, mas nada o encanta tanto como discorrer sobre o Bairro da Bela Vista, em Setúbal.
De Pafos, a cidade cipriota onde estão a morar as suas habilitações futebolísticas galopantes, vertiginosas e concretas, destaca as “praias bonitas” e a imagem de um “país organizado”. Porém, foi o local onde cresceu que lhe mostrou “a realidade, tudo um pouco daquilo que se pode encontrar na vida”.
Estar a disputar a Liga Conferência com o Pafos FC é uma consequência das escolhas certas. “Fui uma das pessoas que seguiu a bola e abstrai-me dos outros problemas.” O futebol foi para João Correia “um refúgio”. Mesmo para ele “foi difícil seguir o rumo certo”. Entre daqueles com quem partilhou a meninez, foi “o único a seguir uma carreira”. Ainda que existissem “bastantes a jogar futebol”, os outros “acabaram por ir pelo caminho mais fácil e desistirem”.
“Toda a gente sabe como são as coisas nos bairros sociais pelo que se ouve e vê na televisão e nos jornais. É bastante complicado. Tenta-se melhorar o dia a dia da comunidade, mas não tens muitas ajudas, olham para ti de maneira diferente, a verdade é essa”, afirma o jogador de 28 anos, internacional por Cabo Verde, à Tribuna Expresso.
O futuro de João Correia não esteve sempre plasmado à sua frente. “Todos os jovens que gostam de futebol no bairro acabam por se desleixar na escola e passam pouco tempo em casa, querem é estar na rua a jogar à bola ou a fazer qualquer coisa com os amigos.” Ele não era diferente.
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