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Ser louco aprende-se: uma lição de Kristensen, o guarda-redes ilógico que quer ser tão “estável” no Mundial de andebol como é no Sporting

Ser louco aprende-se: uma lição de Kristensen, o guarda-redes ilógico que quer ser tão “estável” no Mundial de andebol como é no Sporting
Gualter Fatia
Tinha uma pequena esperança de ser convocado, mas “não esperava de todo” estar no Mundial de andebol. Acabou por ser chamado para representar a Noruega, um dos países organizadores. No último jogo da fase de grupos vai defrontar Portugal (domingo, 19h30, RTP2), seleção onde jogam seis colegas de equipa do Sporting. “Quando o jogo começar, com muitos adeptos e tensão, acho que ninguém terá vantagem”, diz em entrevista à Tribuna Expresso o jogador de 24 anos, um dos cúmplices da época surpreendente dos leões na Champions League

Um louco é um desapegado de amor à sua anatomia, um ser eufémico que camufla riscos convencendo-se da inexistência de ameaças. Se é ou não a conduta adequada para uma permanência alongada neste mundo, terão os especialistas que avaliar. Pelo menos, é a maneira mais divertida.

A plácida figura de André Kristensen é disfarce para a natureza que o inspira a executar bravas tarefas de guarda-redes desde os oito anos. A mãe era treinadora e, sem comiseração pela meninez do descendente que fielmente a acompanhava, fez dele em alguns treinos o último obstáculo dos golos. André deixava de ser um mero contemplador e tinha hipótese de pôr em prática o que aprendeu nas dezenas de horas que passava a assistir ao trabalho da mulher da qual é descendente.

Na maioria das vezes, recai sobre o rematador o egoísmo estatístico de ter nas mãos, literalmente nas mãos, a maior probabilidade de sucesso. A proximidade do atacante e a tenacidade dos arremessos faz depender da audácia do guarda-redes o aproveitamento dos resquícios de chances para defender. Trata-se de um exercício de posicionamento e gestão de quatro membros colocados em posições acrobáticas, tudo para que a bola embata na barreira humana e seja recambiada para outro lugar que não a baliza, independentemente dos prejuízos que isso possa ter para o corpo.

“Não faz sentido, de forma alguma. O lógico é evitar que a bola nos bata. Temos que ser um pouco loucos para tentarmos aprender a fazer o oposto.” Foi uma lição que André Kristensen assimilou em Sandefjord, uma “cidade de verão” no sul da Noruega que nos vende como sendo uma espécie de Algarve nórdico uns pisos acima no globo. Para ele é o clima “perfeito”, visto que, em certas circunstâncias, acha Portugal “demasiado quente”.

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