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De mão quente no Mundial de andebol, Martim Costa quer “evoluir” mais para não chegar “aos 30 e tal anos com coisas por fazer”

De mão quente no Mundial de andebol, Martim Costa quer “evoluir” mais para não chegar “aos 30 e tal anos com coisas por fazer”
Beate Oma Dahle
“Ninguém é perfeito”, nem mesmo Martim Costa que não se contenta com pouco. Considerado o melhor jogador jovem da Europa em 2024, é um dos atacantes primordiais na seleção nacional de andebol que espera chegar pela primeira vez aos quartos de final do Mundial. Não se considera mais do que ninguém, até porque os restantes jogadores portugueses “não são toscos nenhuns”. Em entrevista à Tribuna Expresso, o lateral do Sporting diz-se “muito contente” nos leões e não tem “pressa de sair” do clube onde é treinado pelo pai, Ricardo Costa, e é colega do irmão, Kiko Costa. Quando deixar de os ter na mesma equipa, “sem dúvida que vai ser diferente”

Martim Costa faz mea culpa. Confessa que ainda se agarra demasiado à bola. Para quem vê de fora, muitas vezes parece ser a bola, peganhenta, por sinal, que se cola à mão calibrada à medida dos momentos decisivos e frequentemente requisitada. Num caso ou no outro, com recurso à sua fisga de cinco dedos, o internacional português marcou nove golos frente ao Brasil (30-26), prestável auxílio para a vitória que colocou a seleção nacional na main round do Mundial de andebol, que Portugal disputa nos arredores de Oslo. Antes disso, para arrumar o grupo E, a equipa treinada por Paulo Pereira vai ainda defrontar a Noruega, tendo em mente que os pontos angariados serão reaproveitáveis na fase seguinte.

O telemóvel está a dizer-me que estão 2.ºC em Oslo. Ainda assim, contra o Brasil, estiveste de mão quente…
No início do jogo, não estava fácil. Estava com a mão fria, mas quando se aquece é difícil arrefecer. Correu muito bem. Fizemos uma segunda parte espetacular. Soubemos sofrer. Estivemos por baixo quase 50 minutos do jogo. Conseguimos aguentar-nos bem e não perder a cabeça. Estamos de parabéns.

A segunda metade da segunda parte é o que querem levar para o resto do Mundial?
Acho que podemos pegar no jogo todo. Na primeira parte, mesmo estando a jogar mal, mantivemo-nos dentro do jogo. Isso é muito importante no andebol. Fomos para o intervalo a perder por quatro golos e tivemos algum azar, com algumas bolas no poste. Sofremos muito, mas aguentámos o resultado. Na parte final, passámos para a frente e aí já não era possível o Brasil dar a volta.

O Brasil derrotou a Noruega, Portugal derrotou o Brasil. Depois do jogo de ontem, a vossa ambição de terminar a fase de grupos com o pleno de vitórias acabou por sair reforçada?
Antes de virmos, já queríamos passar em primeiro lugar e levar os quatro pontos possíveis para a main round, o que seria muito importante para irmos aos quartos de final. Estamos na luta. Já ganhámos ao Brasil, mas sabemos que não vai ser nada fácil contra a Noruega. Eles estão a jogar em casa e são uma grande equipa, com grandes jogadores. Acredito mesmo que, se fizermos as coisas bem, podemos ganhar. Temos um grupo muito bom. Mais do que colegas de equipa, somos amigos. A relação que temos tem muita influência dentro de campo.

Depois de teres sido o melhor marcador do Europeu, tens a ambição de seres o melhor marcador do Mundial?
Não vivo obcecado com isso. Quero é chegar o mais longe possível com a seleção. Obviamente, se for o melhor marcador, não fico triste, mas não é esse o meu objetivo. O meu objetivo é ganhar e ajudar a seleção, seja a marcar golos, seja a fazer outra coisa qualquer.

Lembras-te quantos golos marcaste no último Mundial, em 2023?
Foram dois ou três, nem me lembro.

Foram dois em seis jogos. Neste Mundial já levas 16 em dois jogos. São apenas números, mas diz algo sobre a tua evolução?
Faz parte. Nessa altura, tinha 20 anos. São dores de crescimento, é normal. Não correu como estava planeado, mas ajudou-me a evoluir para estar preparado quando chegasse a altura certa. O ano passado, no Europeu, correu bem. Este ano, esperemos que corra ainda melhor. É para isso que cá estamos.

Tens recebido múltiplos reconhecimentos pelos teus desempenhos. Foste o melhor jovem para a EHF, integraste a equipa ideal e foste o melhor marcador do Europeu 2024. Notas que as equipas têm cuidados especiais contigo?
Se sou um atleta preponderante no ataque, que remata mais, obviamente, vão estar preocupados comigo. Depois, se estiverem preocupados comigo, os meus companheiros de equipa não são toscos nenhuns, são tão bons jogadores como eu. Eles sabem exatamente o que fazer e têm muita qualidade. Caso não seja eu a marcar golos, vão ser eles. Os outros também sabem jogar andebol. É como tudo, as outras equipas também têm grandes jogadores e não nos podemos focar só num. Se estão numa seleção, é porque são bons.

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