Foi preciso convencer a Jéssica Rodrigues a passar dos patins com rodas para os de gelo?
Eu não acho que é uma questão de convencimento. Esta situação de ir ao gelo é uma situação que eu já ambicionava há muitos anos, desde 2012. Porque percebi que alguns atletas adversários nos Campeonatos da Europa e do Mundo das rodas também faziam gelo, porque no país deles havia gelo. Claro. Apercebi-me que alguns deles conseguiam ter sustentabilidade para fazer rodas e para serem atletas através do espírito olímpico e do gelo. Porque também nos outros países acontece um bocado aquilo que acontece em Portugal, não tão radicalmente, mas acontece um pouco isso. E achava que a solução para nós conseguirmos ter alguma sustentabilidade e conseguirmos praticar o desporto ao mais alto nível, era entrarmos nos gelos. Já é uma coisa, desde a altura, por exemplo, de um atleta que tive, foi vice-campeã da Europa de rodas em 2010. E depois, entretanto, andei um pouco na tentativa disso, só que com o Diogo Marreiros, que é o primeiro atleta a atender o aproveitamento para os Jogos Olímpicos, a Federação dos Desportos de Inverno acabou por abraçar a modalidade e por nós fazermos parte. Quando este processo faz parte da Federação Internacional, eu, como estava na tentativa de tentar ir lá e ter verba para ir lá, acabo por conseguir introduzir isso. E, através de um estágio fomos para a Holanda durante três semanas.
Em 2021, com a Jéssica Rodrigues.
Sim, durante 14 dias. E logo nos primeiros 14 dias obtivemos tempos, ou seja, não considero que tenha sido necessário eu incentivar a Jéssica, mas sim porque a Jéssica faz parte de um processo, de uma série de atletas e encarregados de educação, que fomos construindo - este trabalha muito mais das rodas do que no gelo. O que aconteceu foi que no gelo nós acabamos por depois ter acesso, por exemplo, a bolsas olímpicas, começámos a ter que realizar estágios de forma regular ao gelo, mas a base do trabalho, quer a nível fisiológico, quer a nível técnico, quer a nível de perceção de movimento, tudo isso foi feito nas rodas e todo o seu percurso como atleta foi feito nas rodas. Dela e de todos os outros atletas.
Mas depois é fácil passar todo esse conhecimento técnico e essa bagagem para o gelo?
Não é muito fácil. O que começou a acontecer foi a forma como nós construímos, a Jéssica e outros, em atletas um pouco mais completos, com alguma atenção para a questão das prevenções de lesões, da sua própria recetividade, ou seja, perceção do movimento. Quando um atleta é rico, tem um padrão motor bastante rico, a passagem acaba por ser um pouco mais fácil. Se o atleta não tem um padrão motor que seja viciado, ou seja, que faça só aquilo, o atleta não é só bom a fazer aquilo. Quando o atleta tem um padrão motor um bocado abrangente, todos os outros movimentos novos são de aquisição muito mais facilitada. E é o que acaba por acontecer na Jéssica. Claro que a Jéssica, tecnicamente no gelo, falando, é uma atleta de nível baixo.
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