UEFA Euro 2024

Dois dias depois de ser convocado, Emre Can fechou a vitória da Alemanha no jogo inaugural do Euro contra a Escócia

Dois dias depois de ser convocado, Emre Can fechou a vitória da Alemanha no jogo inaugural do Euro contra a Escócia
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No princípio do fim da carreira, Toni Kroos esteve como sempre foi e ainda ensinou os pequenos a não terem medo de estarem em casa sozinhos. Wirtz e Musiala, jovens menos experientes nestas andanças, tornaram-se na primeira dupla de 21 anos ou menos a marcar num encontro do Euro pela mesma equipa. E não foi um jogo qualquer. A Alemanha realizou uma demonstração de força e goleou a Escócia por 5-1 na estreia na competição que organiza

A cerimónia inaugural em Munique foi colorida, animada por alguns hits musicais que tiveram a sorte de não serem abafados pelos adeptos escoceses, pujantes no tom de voz e na manifestação descomplexada do sotaque, mas colaborativos com o bom funcionamento da celebração que homenageou Franz Beckenbauer. Se calhar, até um pouco em excesso. Uma coisa é querer entrar no clima animado, outra é querer ser a pele do bombo, massacrada com a percussão do músico.

Obviamente, ninguém sofre cinco golos por querer, muito menos à vista de um mundo ansioso pelo pontapé de saída do Euro 2024. É mais uma questão de incapacidade de uma seleção que, não abundando no talento individual, é confrontada com o azar de dois dos melhores jogadores munidos da certificação necessária para ser considerado cidadão do país jogarem na mesma posição. Quantas equipas no mundo sobreviveriam a ter Andy Robertson e Kieran Tierney a jogar de braço dado? Não é ergonómico e prejudica os dois.

Oxalá, Steve Clarke chegasse ao ponto de ser obrigado a pensar nisso ou não tivesse a Alemanha feito da cabeça do selecionador escocês um amontoado de neurónios espalhados pelo chão. Legítimo é também dizer que há problemas sem soluções e a Alemanha, que realizou um período de preparação inconstante (não participou na fase de qualificação e por isso teve margem de manobra) e que nas vésperas da estreia, num amigável contra a Grécia, esteve longe de ser asfixiante, chegou ao Euro a jogar um suspiro de futebol.

Em relação ao tal ensaio geral frente aos gregos, Julian Nagelsmann repetiu o onze e grande parte das dinâmicas. As diferenças estiveram naquilo que faz a própria da diferença: o abraço quentinho do contexto, o instinto de sobrevivência de quem, no meio do labirinto, só sai se encontrar a saída.

Toni Kroos seria capaz de trabalhar num campo agrícola de sapatos de vela. Podia tocar música clássica num festival de rock. Podia ir para a rua vender champagne em canecas. Então porque não podia ser magistral a jogar em cima de patins, mesmo que tantas vezes o faça de pantufas? Ao centrocampista que vai terminar a carreira quando for eliminado do Euro 2024, saltou-lhe uma roda e deslizou no relvado enquanto a bola seguia a trajetória aérea perfeita, hipnotizadora, irrefutável. Kimmich tinha o controlador ligado e não estranhou quando um passarinho lhe aterrou no pé pouco antes de mudar de poleiro e rumar a Wirtz, que inaugurou o marcador.

Soccrates Images

A Alemanha começou então a produzir golos em série. Toni Kroos lateralizava a posição para construir a três com os centrais, Tah e Rudiger. Andrich, correndo o risco de ser forçado a jogar de costas em situações que a sua falta de qualidade malabarística não permite, posicionava-se numa zona mais adiantada. Gundogan era um dos muitos elementos que se colocava entre a linha média e defensiva da Escócia. Enfiado na caixa de fósforos, o médio do Barcelona abriu-a, pegou num e espalhou labaredas que ajudaram os meninos a explodir. Musiala fez o 2-0 a partir daí e formou, em conjunto com Wirtz, a primeira dupla de jogadores com 21 anos ou menos a marcar no mesmo jogo de um Euro pela mesma equipa.

A Escócia era desmontada por toda e qualquer tentativa de atração da Mannschaft, com McGinn e McTominay, por vezes, a encabeçarem a desorganizada pressão. Tudo ficou ainda pior quando Porteous foi expulso devido a uma dura entrada sobre Gundogan que ainda por cima enviou Havertz para a marca de grande penalidade de onde não desperdiçou.

Craig Williamson - SNS Group

Julian Nagelsmann geriu a situação. Colocou Pascal Gross no lugar do amarelado Andrich (não era necessário correr riscos), mas foram outros dois nomes lançados a partir do banco que dilataram o marcador. Fullkrug, que já teve um desentendimento com Rudiger no decorrer do estágio, desculpou-se com uma bomba no fundo das redes do escocês Angus Gunn. Já Rudiger fez o contrário, cabeceando para a própria baliza na sequência de um livre lateral despejado na área praticamente desde o meio-campo. Emre Can, o médio do Dortmund que não marcaria presença no Euro caso Pavlovic não estivesse a contas com uma amigdalite, fez o 5-1.

A Escócia acabou por levar um resultado em promoção. Um golo anulado a Fullkrug e um penálti revertido podiam ter inflacionado os números ainda mais. Lado positivo? Finalmente, podem respirar, mas a Hungria e a Suíça, restantes elementos do grupo A, que se preparem. Talvez esta Alemanha não esteja assim tão longe de se poder tornar na primeira seleção a conquistar quatro Europeus como se pensava.

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