Desportivamente, Portugal é um país de futebol. Não há uma modalidade que se lhe aproxime, sequer, em importância social, mediática, cultural e comunitária. Mas, há 90 anos, num país a entrar em longas décadas de ditadura, o cenário não era este.
O Estado Novo, ao contrário dos regimes fascistas de Itália (sobretudo) e Espanha, nunca viu na bola um veículo de promoção e prestígio. Como recorda Miguel Lourenço Pereira, historiador e autor, os escalões de formação chegaram mesmo a estar proibidos num país cujas autoridades só promoviam a ginástica como prática desportiva.
É a esta nação fechada que começam a chegar jogadores e treinadores húngaros. E protagonizam uma revolução.
Os resultados do impacto dos húngaros em Portugal são facilmente resumido em troféus: oito técnicos do país foram campeões nacionais em Portugal por 16 vezes, o número mais alto entre os treinadores estrangeiros; a isto juntam-se, por exemplo, três campeonatos de Portugal e oito Taças; entre 1934/35 e 1944/45, passaram-se 11 épocas seguidas em que só técnicos húngaros venceram o título.
Juntando as competições distritais, que durante muito tempo eram de grande importâncias, os treinadores húngaros, numa contabilidade feita por Miguel Lourenço Pereira, ergueram 57 títulos em Portugal; são magiares o primeiro treinador remunerado no nosso país (Akös Teszler, no FC Porto), o mais vencedor da história do Sporting (Joseph Szabo) e o bicampeão europeu pelo Benfica (Béla Guttmann).
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