No belo centro de Leipzig, pintalgado com edifícios vestidos de gótico, barroco e de arte deco, pouco se dá pelo grande clube da cidade. Caminha-se pelas calcetadas ruas e o único vestígio está numa loja de vestuário que reivindica o estatuto de marca oficial da equipa que o grupo Red Bull criou a golpe de cheque há 15 anos. De resto, nem um cartaz, alguém passeando uma camisola, nada.
O facto do RB Leipzig ter 15 anos explicará muita coisa, neste país onde a cultura do futebol vai para lá do vulgo pontapé na bola. O futebol em Leipzig, aliás, não nasceu há 15 anos. Foi na cidade que vai receber a estreia de Portugal neste Campeonato da Europa, na terça-feira, frente à Chéquia, que nasceu a Federação Alemã de Futebol, em 1900. O primeiro campeão nacional da Alemanha foi o VfB Leipzig, em 1903. A complexa história política deste canto oriental da Alemanha promoveria o paulatino desaparecer do futebol de elite na cidade de mais de 600 mil habitantes, até à chegada da Red Bull, em 2009.
Mas o futebol enquanto manifestação de uma identidade, e não de uma empresa de bebidas energéticas, existe e sempre existiu em Leipzig.
Apanha-se um comboio na estação central de Leipzig e segue-se para o bairro de Leutzsch, uns 15 minutos sob carris para oeste. Ali, onde a cidade já foi tomada pela vegetação, é a casa do Chemie Leipzig, um dos históricos clubes locais, que nas suas diversas vidas no caótico futebol do leste alemão, feito de fusões, aglutinações e mudanças de nome, tem origens que remontam ao início do final do século 19, então como TuRa Leipzig.
Na caminhada até ao tão decadente quanto charmoso Alfred-Kunze-Sportpark, feita de linhas de pequenas vivendas de primeiro andar com cuidados jardins, sente-se, finalmente, a paixão: os postes de electricidade estão pejados de autocolantes do Chemie, as paredes paralelas à linha do comboio pintadas com grafittis alusivos ao clube. As mensagens contam muito daquilo que é o Chemie na comunidade do futebol de Leipzig: há frases contra o racismo, de denúncia ao antissemitismo.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: lpgomes@expresso.impresa.pt