No Europeu, a seleção francesa é um descampado de conquistas desde o ano em que a mão de Abel Xavier foi a palmatória de Portugal. A competição continental tornou-se numa colheita de glórias inacabadas a partir daí. O ano de 2000 preambulava um século XXI em que as gerações gaulesas não haveriam de perder engenho futebolístico. Só que a geração Z quis primeiro ir ver o mundo antes de saber o que há ao fundo da rua.
Didier Deschamps foi um dos últimos campeões europeus franceses. Deu um salto na pirâmide etária e no cargo que ocupa. O atual selecionador pode tornar-se apenas na segunda pessoa a conquistar a prova como jogador e treinador – para já, só Berti Vogts (1972 e 1996), com a Alemanha, o conseguiu fazer. Tem 26 jogadores e, por isso, 52 mãos cheias de talento para o alcançar. Porém, alguns dos quais podem ter mais dedo num eventual triunfo no Euro 2024.
Kylian Mbappé, se já era uma superestrela, a partir do momento em que reforçou oficialmente o Real Madrid, desbloqueou todo um novo nível de protagonismo. Já campeão do mundo em 2018, na Rússia, momento em que se estreou em grandes provas, o estatuto na seleção acompanhou a ascensão meteórica que teve. Aos 25 anos, pela primeira vez neste tipo de palcos, vai ser o capitão de la sélection na Alemanha.
Concluída que está a transferência mais mediática dos últimos tempos, Mbappé diz estar “muito feliz, aliviado e extremamente orgulhoso” com a mudança para o Real Madrid que considera “um sonho tornado realidade”. Após um ano conturbado no Paris Saint-Germain, em que foi ameaçado de não jogar até ao final do contrato com o emblema da capital, o extremo recebeu um presente com que ainda não pode brincar. “Espera-nos um ótimo verão”, apontou.
As responsabilidades como capitão impedem Mbappé de chamar a si o protagonismo. O internacional francês assumiu a liderança de uma equipa em missão e não quer tornar o Real Madrid no centro da conversa. “Prefiro proteger a minha seleção”, assumiu. “É um capitão e um líder fantástico”, descreveu Didier Deschamps. “Ele sabe que vamos precisar dele no seu melhor”.
Até o sorriso de Mbappé mereceu escrutínio. Afinal, a alegria transbordava-lhe pela cara. “Uma pessoa feliz tem mais hipótese de jogar bem”, esclareceu. “Quando chego à seleção, tenho vontade de dar o máximo, dou tudo pela camisola”. Assumindo a “ambição de marcar a história do futebol francês”, Mbappé pode levar os bleus a uma conquista adiada.
Em 2016, ainda sem o atual capitão, os gauleses discutiram o título com Portugal. O formulário de adesão à eternidade de Éder adiou novamente o título. Nos últimos 24 anos, a final disputada em casa, no Stade de France, foi a única em que os bleus estiveram presentes no que ao Euro diz respeito. Na edição seguinte, ficaram-se pelos oitavos de final. No Mundial, a França esteve nas últimas duas finais, vencendo em 2018 e perdendo em 2022.
A última derrota da França em jogos oficiais aconteceu no Mundial 2022, contra a Tunísia. Na fase de qualificação para o Euro 2024, a equipa de Didier Deschamps realizou um percurso praticamente perfeito, deixando apenas dois pontos pelo caminho – num empate contra a Grécia –, marcando 29 golos e sofrendo apenas três. Pelo meio, em dois jogos particulares, a França perdeu duas vezes contra a Alemanha.
O volumoso 14-0 aplicado a Gibraltar durante a qualificação tornou-se na maior vitória de sempre dos bleus. Enquadrada junto das principais equipas favoritas a ganhar, será com força em igual proporção que a França vai abordar o Euro.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: fsmartins@expresso.impresa.pt