UEFA Euro 2024

Granit Xhaka ainda está a aprender como controlar as emoções mesmo sendo, literalmente, um treinador em campo

Granit Xhaka ainda está a aprender como controlar as emoções mesmo sendo, literalmente, um treinador em campo
Nicolò Campo

Durante a época, o médio suíço dedicou-se a treinar a equipa do quinto escalão do futebol alemão onde alinha o cunhado. Ao mesmo tempo que tinha, dentro de campo, um papel importante na época histórica do Bayer Leverkusen, Granit Xhaka orientava o Union Nettetal uma vez por semana. No Euro 2024, espera liderar a Suíça que, este domingo, joga com a Alemanha (20h, RTP1) e na edição anterior eliminou a França, a um novo desempenho surpreendente

A chegada ao Euro 2024 da seleção suíça não correu como imaginado. O relvado esburacado do campo onde realizava a preparação afetou a equipa helvética nos primeiros dias na Alemanha. O conjunto de Murat Yakin apresentou queixa à UEFA e, a poucos dias da estreia, mudou de laboratório, transferindo-se do recinto do Stuttgarter Kickers, clube da quarta divisão alemã, para o centro de treinos do VFB Stuttgart, emblema da Bundesliga.

Um comité de jogadores trintões ajuda a amenizar os solavancos do percurso. Xherdan Shaqiri, Ricardo Rodríguez, Remo Freuler, Fabian Schär e Yann Sommer são membros honorários desse núcleo que não se dá ao luxo de abdicar de alguém que modere a relação entre as pretensões dos jogadores e as opções táticas do selecionador Murat Yakin. É aí que cresce o protagonismo de Granit Xhaka.

Campeão da Alemanha pelo Bayer Leverkusen, o médio não é a extensão do treinador em campo: é mesmo um treinador em campo.

Quando ainda representava o Arsenal, Xhaka deu início à sua formação como técnico que continuou quando se transferiu de volta para a Bundesliga. Como parte do trabalho prático para obter a licença de nível A da UEFA, o internacional suíço desempenhou o papel de adjunto no Union Nettetal, do quinto escalão do futebol germânico.

Teria sido mais prático realizar o estágio nas camadas jovens do Bayer Leverkusen. Segundo consta, oportunidades para isso não faltaram. No entanto, o Union Nettetal é um clube do qual Xhaka tinha conhecimento prévio, visto que o cunhado, Leonard Lekaj, é um dos jogadores.

“Parecemos ainda mais confiantes em campo, temos mais tranquilidade com a bola e sabemos o que fazer em quase todas as situações. O nosso jogo melhorou, principalmente no meio-campo. Isso é certamente o mérito do Granit”, partilhou Leonard Lekaj numa entrevista ao “Fussball.de”. Se a dar treinos uma vez por semana a uma equipa da quinta divisão o resultado foi este, então não tem como não ajudar os companheiros quando patrulha o meio-campo dentro das quatro linhas.

Granit Xhaka a dar indicações aos colegas na estreia no Euro 2024, contra a Hungria
Stu Forster

Não faltam referências para que, no dia em que decidir avançar com a carreira de treinador, Xhaka o possa fazer com base nas melhores inspirações. Arsène Wenger, Mikel Arteta, Unai Emery e Xabi Alonso foram todos técnicos que orientaram o médio helvético ao longo de um percurso que começou no Basileia, passou pelo Borussia Mönchengladbach e ainda no Arsenal até ter atracado no Bayer Leverkusen.

As questões que os suíços levantam sobre a liderança do seu capitão não dizem respeito ao conhecimento. Preocupa os helvéticos a impetuosidade na disputa dos lances e os preços baixos a que costuma conceder emotivos pareceres aos árbitros sobre lances em relação aos quais não concorda. Devido a essa situação, o jogador de 31 anos, no Euro 2020, falhou os quartos de final do Euro 2020 depois da Suíça ter eliminado a França nos ‘oitavos’.

Murat Yakin parece identificar-se com a forma como Xhaka gere o calor do jogo. “Ele tem raízes familiares no Kosovo, eu tenho raízes na Turquia. Nas nossas culturas, as pessoas por vezes falam alto e de forma direta, o que pode parecer violento”, desvalorizou o selecionador ao jornal suíço “Neue Zürcher Zeitung”.

Um ano no futebol alemão deu a Xhaka ferramentas para ter uma postura mais tranquila. O centrocampista assumiu uma “mentalidade completamente diferente” e está “mais calmo” desde que rumou ao Bayer Leverkusen. Numa entrevista ao “The Athletic”, o jogador com mais internacionalizações pela Suíça diz ter passado a jogar de maneira “mais ponderada” em comparação ao que fazia quando chegou a Inglaterra em 2016.

Longe de atritos, a Suíça entrou a vencer no Euro 2024. Os helvéticos derrotaram a Hungria, por 3-1. O momento do jogo ficou a cargo de Kwadwo Duah, avançado de 27 anos do Ludogorets, que se estreou a marcar numa grande competição ao segundo jogo ao serviço da seleção. Para alguém que admite ler livros de banda desenhada do Rato Mickey e do Pato Donald não deixa de ser uma história de fantasia.

Seguiu-se um (sofrido) empate com a Escócia (1-1) que arrasta para a última jornada, contra a Alemanha, as decisões da passagem aos oitavos de final do Euro 2024.

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