Wirtz e Musiala, os rapazes alemães sem medo do drible que têm o potencial para marcar uma década
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Campeão do mundo em 2014 e embaixador deste Europeu, Philipp Lahm derrete-se em elogios aos dois jovens craques da seleção alemã, jogadores que não tem medo de ir para cima, driblar o seu caminho para fora de problemas e empolgar quem os vê
Este campeonato está a ser inspirador, e de que maneira! Estávamos no minuto 10 do jogo de abertura quando o golo de Florian Wirtz contra a Escócia nos levou à loucura. A minha filha de sete anos tapou os ouvidos porque achou o barulho no estádio ensurdecedor. Mas foi consolada por um adepto escocês que lhe deu um pin e, agora, esse é o seu tesouro.
Desde então a Alemanha tem estado numa autêntica festa. Alguns dias depois, estive em Dortmund para ver o jogo entre a Turquia e a Geórgia. A atmosfera era indescritível. Foram poucas as vezes que vivi algo parecido. Os adeptos de ambos os lados levaram as suas seleções ao limite. Até a tribuna principal estava de pé. Não conseguíamos desviar o olhar por um segundo. Estou muito feliz por ter lá estado.
Até agora, a qualidade deste Euro tem sido excelente. Estamos a viver um futebol extremamente apaixonado porque cada uma das 24 nações tem uma forte comunidade do seu lado. Vi fotos de Tbilisi na internet. Um estádio cheio assistiu à equipa georgiana quase a lutar por um empate no seu primeiro jogo num Campeonato da Europa. Essa é a realidade europeia em ação. Assistir aos jogos em locais públicos é uma invenção genial.
Os meus olhos estão postos na Alemanha, claro. A equipa está novamente na competição após três fracassos consecutivos. Graças a Deus, é importante a equipa anfitriã estar na corrida. Agora vemos qualidades que há muito tempo não se viam. O meu filho de 11 anos nunca tinha visto uma seleção nacional de sucesso. É um sentimento completamente novo para ele ganhar duas vezes seguidas.
Também vejo os jogos de futebol do ponto de vista profissional, observando as equipas e os jogadores individualmente. Quem se está a estabelecer no futebol mundial? Quem deixará a sua marca no campeonato? Quem está a usar o Euro como plataforma? Como alemão, penso logo em Florian Wirtz e Jamal Musiala.
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A Alemanha tem sorte por ter estes grandes jogadores de futebol. São dois rapazes com enorme talento que inspiram e levantam a moral. As suas qualidades extraordinárias são evidentes. Ambos se atrevem a enfrentar o um contra um a qualquer momento e estão prontos para ganhar a bola. O Wirtz tem um excelente primeiro toque, muda de ritmo habilmente e tem uma ótima noção de posicionamento em campo, como se viu no seu golo contra a Escócia.
É praticamente impossível tirar a bola a Musiala. Consegue driblar o adversário mesmo parado. Quando todos os adversários se reúnem em frente ou dentro da área e estacionam o autocarro, ele encontra soluções para o contornar. No primeiro jogo foi eleito o melhor em campo e marcou o seu segundo golo contra a Hungria.
Jogam no meio-campo adversário, onde marcam e dão assistências para golos. Como se sabe, muitos adeptos identificam-se principalmente com jogadores atacantes, já que os passes e golos são mais apreciados do que os carrinhos. Especialmente entre as crianças.
Os ídolos do meu filho são o Musiala e o Wirtz. Atualmente, vai alternando entre as camisolas 10 e 17.
O que eu gosto particularmente em ambos é que são jogadores de equipa. Posso ver que mantêm uma ligação com todos os colegas em campo. Correm muito e ajudam na defesa. Nas suas entrevistas, fica claro que pensam em termos da equipa como um todo.
E têm sucesso nos seus clubes desde jovens. O golo de Musiala em Colónia, em maio de 2023, fez do Bayern de Munique campeão alemão. Wirtz conseguiu a dobradinha com o Bayer Leverkusen este ano. Ambos mostram responsabilidade pelos resultados, agora também na seleção nacional. No futebol, joga-se para ganhar.
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Nasceram com talento. São feitos para o futebol. Gosto de ver o seu desenvolvimento. As pessoas são moldadas pelo ambiente que as rodeia e, para os jogadores de futebol, esse ambiente é o clube onde jogam. Para ter sucesso é necessário ter um papel definido e excelentes colegas de equipa que tirem o melhor de cada um. Neste momento, parece estar tudo a correr bem com Wirtz e Musiala.
Às vezes, especialmente quando vejo os dois jogar, relembro a minha própria carreira. No meu primeiro campeonato, o Euro 2004 em Portugal, tinha 20 anos. Era apenas um pouco mais novo que os dois hoje. Não ganhámos nenhum jogo e fomos eliminados, mas consegui estabelecer-me internacionalmente como lateral-esquerdo. Musiala também já sentiu o fracasso. Foi eliminado na fase de grupos do Mundial de 2022. E Wirtz marcou o primeiro golo deste Euro 2024, como eu fiz em 2006.
Por estes dias, quando viajo pelo meu país e me sento nos estádios, fico um pouco nostálgico. Lembro-me das vitórias, das lesões e das derrotas. É provavelmente assim que todos os futebolistas se sentem quando veem a sua seleção e percebem: os grandes torneios são experiências únicas.
Desejo o melhor a ambos. Wirtz e Musiala têm o potencial para marcar uma década inteira, mas um jogador de futebol é apenas tão bom quanto o seu último jogo. É o aqui e agora que interessa. E este é um torneio onde as pessoas celebram e vivenciam juntas a realidade europeia. Isso motiva-me muito a continuar envolvido no futebol.