Os números do Portugal-Geórgia dizem que moer não é partir. Por isso se notou falta de criatividade no último terço
Eurasia Sport Images
A seleção nacional endereçou 294 passes para os últimos 30 metros do campo e apenas conseguiu entrar 29 vezes na grande área. O número mínimo de recuperações em meio-campo ofensivo (oito) demonstra que a reação à perda da bola não foi suficiente para evitar que os georgianos esticassem o jogo através de Kvaratskhelia (100% de sucesso em dribles). Palhinha estava a ajudar nesse aspeto até sair ao intervalo
Portugal conviveu estranhamente bem com os apuros. Encontrando-se a perder desde o minuto dois, a seleção nacional não provocou grandes chances para inverter a situação, nem levantou o dedo para questionar a vitória georgiana.
A seleção completou 611 dos 656 passes que tentou (uma taxa de acerto de 93,1%) contra a Geórgia, de acordo com a Driblab Pro, empresa especializada em estatística avançada. Todos estes registos constituem recordes em relação aos restantes jogos em que Portugal esteve envolvido durante a fase de grupos do Euro 2024. No duelo contra a Turquia, unanimemente considerado pela crítica o melhor até agora na prova, a equipa de Roberto Martínez teve números inferiores (477 passes concretizados em 538 tentados, 88,7% de acerto).
Gonçalo Inácio foi o jogador que mais canalizou o fluxo de jogo da equipa de Roberto Martínez. O central do Sporting entregou a bola com sucesso aos colegas 106 vezes, a uma larga distância do segundo classificado nesta lista (Danilo Pereira, 81). No duelo com os georgianos, a diferença esteve naquilo que Portugal não conseguiu fazer com os 72,3% de posse de bola.
Foram contabilizados 19 remates de jogadores portugueses dos quais apenas cinco foram à baliza. Tendo em conta o menor domínio territorial que teve, a Geórgia fez muito com pouco. Dois remates à baliza, dos seis tentados, foram suficientes para marcar dois golos. Isto significa que a equipa de Willy Sagnol, rentabilizou ao máximo os 14 toques dentro da grande área portuguesa.
Chris Brunskill/Fantasista
Portugal direcionou 294 passes ao último terço e apenas por 29 vezes os jogadores lusos conseguiram ter a posse de bola dentro da área contrária numa demonstração de incapacidade para encontrar soluções desbloqueadoras. Os extremos tentaram ser chaves de fendas numa equipa a apostar nos corredores laterais e muito pouca na zona central do campo. João Félix foi o jogador que mais risco colocou no passe e deixou Nélson Semedo perto do golo. Francisco Conceição apostou mais no um para um, tendo sido o português com mais dribles tentados (16 e foi eficaz em 50%).
Para conterem os escassos momentos de rasgo da seleção nacional, os georgianos tiveram que sofrer sem bola. Em média, a equipa em estreia num Europeu permitiu 43,6 passes antes de recuperar a bola, capítulo em que Guram Kashia esteve em evidência (sete recuperações sem nenhuma falta).
Um contraste total com os jogadores de Roberto Martínez que não deixaram o adversário trocar mais de seis passes antes de readquirirem os direitos de propriedade do esférico, situação que não impediu Kvaratskhelia (quatro dribles bem-sucedidos em quatro tentados) e Mikautadze (três em quatro) de carregarem o jogo até à frente.
Ainda assim, tendo Portugal um ascendente territorial tão vincado, seria de esperar um maior número de recuperações de bola no meio-campo ofensivo. Acontece que tal aconteceu apenas oito vezes, o que significa que a reação à perda nem sempre foi suficientemente eficaz para evitar contra-ataques e o recuo do bloco português. João Palhinha destacou-se na tarefa de recuperar a posse em zonas adiantadas. Fê-lo por duas vezes durante a primeira parte, o mesmo número que João Neves durante os 75 minutos em que esteve em campo.