Em tempos idos, a zona mista de um estádio de futebol numa grande competição era uma lotaria. O espaço, colocado geralmente entre os balneários e a área onde está o autocarro das equipas, está ali pela democracia: todos os jogadores têm de passar por aquele labirinto e era o único momento em que se quebravam barreiras e distâncias entre jornalistas e jogadores.
Estando tão perto uns dos outros, os jogadores ouviam as perguntas dos jornalistas e faziam a sua escolha: ou paravam para falar, ou seguiam a sua vida. Esse era o contrato social (e não só) vigente e qualquer repórter terá uma ou várias excelentes histórias sobre zonas mistas: poderão ser de entrevistas inesperadas e maravilhosas, de surpresas ou, por outro lado, de esperas intermináveis, de desencontros, de um qualquer jogador que o ignorou friamente. Quando não falavam, havia os jogadores que explicavam o porquê, outros simplesmente passavam sem sequer olhar. Para tudo um jornalista tinha de estar preparado. Às vezes, uma simples questão de localização era o bilhete dourado.
Mas esses tempos quase acabaram.
Agora, já nem uma lotaria é, é saber-se que podemos jogar, mas nunca teremos prémio. A zona mista deixou de ser um espaço de mistério, do inesperado, porque agora todos os jornalistas sabem o que vai ali acontecer. E o que está a acontecer neste Euro 2024 são portas ainda mais fechadas, quase o fim do contacto entre jornalistas e jogadores, até no sítio que foi criado para tal.
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