

Estádio: Allianz Arena (Munique)
Região: Baviera
O informático Marcel Lutz, 31 anos, leva quatro camisolas da seleção alemã de futebol nas mãos e uma pendurada ao ombro. O artigo está prestes a esgotar no enorme outlet da Adidas: “A Alemanha vai deixar de ser Adidas”, diz o cliente. “Daqui a uns anos, estas camisolas vão ser peças raras e valer bom dinheiro.”
Na véspera, uma notícia caiu como uma bomba em Herzogenaurach, sede da marca das “três riscas”: a Mannschaft (seleção alemã) assinara contrato com a Nike para vestir equipamentos da marca norte-americana a partir de 2027, pondo fim a uma relação de 77 anos com a companhia bávara. A Federação Alemã de Futebol (DFB) lamentou o fim de uma união recheada de momentos especiais: “A Nike fez, de longe, a melhor proposta financeira num processo transparente e não discriminatório.” Os americanos terão oferecido cerca de 100 milhões de euros, o dobro dos seus rivais.
Muitos alemães apressaram-se a acusar a DFB de traição. Porquê? Não é normal as seleções olharem a vantagens financeiras nos seus contratos com os patrocinadores? Sim. Mas a Alemanha é um caso especial.
“Esperava maior patriotismo”, comentou o ministro da Economia, Robert Habeck. “Não consigo imaginar a camisola alemã sem as três riscas.”
O problema não é somente que os alemães se habituaram a reconhecer um símbolo nacional na junção do logótipo da Adidas às cores da seleção. A própria história desta aliança mexe com a reconstrução da economia e da identidade coletiva do país depois da derrocada causada pela Segunda Guerra Mundial. É difícil precisar o momento em que a Alemanha ressurgiu. Mas, provavelmente, o despertar deu-se num jogo de futebol.
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