Estádio: Merkur Spiel-Arena
Região: Renânia do Norte – Vestfália
Aos 8 anos, Christian Lasch entrou para as escolas do Fortuna Düsseldorf, o maior clube da sua cidade, por influência do avô materno. Como era gordinho, foi para a baliza. Percorreu todos os escalões de formação até parar de jogar, aos 19 anos, passando automaticamente para o corpo técnico. Hoje, é o principal responsável pelo treino dos guarda-redes do clube, e está prestes a completar 37 anos ininterruptos de casa, o que faz dele um dos profissionais do futebol alemão há mais tempo continuamente ligado a um só emblema.
“O Fortuna é um dos meus grandes amores e teve uma grande importância na minha vida, pois permitiu-me conhecer muita gente e construir uma espécie de segunda família”, diz Christian, após uma temporada especialmente angustiante (terceiro classificado da segunda divisão, o Fortuna disputou um play-off contra o Bochum, antepenúltimo do primeiro escalão, para decidir quem jogaria na Bundesliga na próxima temporada – após vencer por 3-0 no estádio do adversário, a equipa de Düsseldorf perdeu 3-0 em casa, acabando derrotada no desempate por grandes penalidades).
O futebol foi um escape para o guarda-redes. Os seus pais separaram-se quando ainda era bebé e ele ficou a viver com a mãe e com o padrasto numa aldeia das cercanias de Düsseldorf. O pai, Patrick, levava-o aos treinos uma vez por semana, mas nunca conseguiu construir uma ligação emocional com ele; sentia-o sempre frio e distante, incapaz de lhe dar conselhos e orientação e a saltar desenfreadamente entre relações amorosas, que resultavam em mais famílias disfuncionais e no nascimento de irmãos que mal chegava a conhecer.
“Tornei-me numa criança tímida, fria, sentimentalmente vulnerável. Não tinha a autoestima e a confiança necessárias”, diz, à Tribuna Expresso, o técnico, que para além do Fortuna trabalha com a Federação Alemã de Futebol (DFB) e tem a sua própria escola, onde leciona cursos pedagógicos de construção da personalidade e de responsabilidade social para menores dos 10 aos 18 anos.
Christian acabou por casar, teve dois filhos. Mas viveu mais de trinta anos com a amargura de não perceber os motivos da insensibilidade e do desinteresse do pai. “A minha luta foi sempre educar os meus filhos de uma maneira diferente daquela que o meu pai me educou. Ele nunca me disse para ter cuidado, para fazer isto ou aquilo, nunca falou comigo de temas sérios, não me deu carinho. Por oposição, quis sempre dar aos meus filhos a oportunidade de falar comigo e, sempre que tenho tempo, tento fazer coisas com eles”, diz.
Finalmente, “há oito ou nove anos”, o pai revelou-lhe um segredo obscuro, que ocultara desde o berço, nos sombrios anos da vigência nazi. A revelação pode não lhe ter chegado para apagar todos os rancores. Mas serviu-lhe para explicar muita coisa. “Durante muitos anos, pensei que ele era apenas mau. Agora entendo que quando não recebes amor na infância, também não consegues dá-lo aos teus filhos mais tarde”, diz Christian.
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