Espanha: Renovar, renovar, renovar

Os homens que tudo ganharam estão envelhecidos e há uma nova geração à espreita da glória
Os homens que tudo ganharam estão envelhecidos e há uma nova geração à espreita da glória
A seleção espanhola de futebol aspira a revalidar a sua condição de campeã da Europa no campeonato que começa, em França no próximo dia 10. Não vai ser tarefa fácil. Apesar das duas vitórias consecutivas nas edições anteriores (em 2008 contra a Alemanha e em 2012 face à Itália), tem muito peso no moral dos jogadores e equipa técnica o estrondoso fracasso no Brasil, no Mundial de 2014, quando Espanha defendia o troféu conquistado na África do Sul em 2010.
Este é, além disso, o ano da renovação. Uma brilhante geração de futebolistas, que granjeou grandes triunfos para “La Roja”, retirou-se ou está prestes a fazê-lo, abrindo caminho às figuras emergentes do futebol nacional. A garantia de ligação entre o novo e o velho é estabelecida pelo selecionador Vicente del Bosque, que manifestou a intenção de abandonar o posto quando o Europeu de França terminar. Se foi autorizado a cumprir o desejo de retirada, Del Bosque terá deixado uma seleção nacional válida para os próximos oito ou dez anos, capaz de prolongar o indiscutido reinado do futebol espanhol no continente.
Dos 23 atletas que Del Bosque escolheu, apenas uma minoria tem o estatuto dos históricos da equipa nacional: Casillas, Piqué, Busquets, Iniesta, Ramos, Silva e Pedro representam a tradição triunfante na nova etapa da seleção. Em solo francês já não jogarão futebolistas espanhóis tão conhecidos como Puyol, Torres, os dois Xavi (Hernández e Alonso), Arbeloa, Mata, Navas, Cazorla, Llorente...
Os adeptos estão a habituar-se às novas figuras, pouco conhecidas do grande público fora do âmbito dos seus clubes locais, mas que representam o futuro e a renovação: De Gea, Bellerín, Bartra, Azpilicueta, San José, Vázquez, Bruno, Thiago, Koke, Nolito, Morata, Adúriz. À exceção deste último, que chega ao seu primeiro Europeu perto de se jubilar, aos 35 anos, os restantes, encabeçados por Bellerín (21 anos), oferecem juventude exultante e um amplio horizonte de anos pela frente, para se consolidarem como futebolistas de elite. Um sinal inequívoco deste espírito de renovação será a opção que Del Bosque vier a tomar relativamente ao guarda-redes titular da equipa nacional: Iker Casillas poderá ser substituído, neste torneio, por De Gea, que é hoje um dos quatro melhores do mundo à baliza.
Apesar das rivalidades, apesar de tensões como as que põem frente a frente o Estado central e os independentistas da Catalunha, o Barcelona é o clube que contribui com mais jogadores para a seleção: cinco (Piqué, Alba, Bartra, Busquets e Iniesta), contra dois vindos do Real Madrid: Sergio Ramos e Lucas Vázquez. O Atlético de Madrid entra com dois, Juanfran e Koke; o Athletic de Bilbau envia San José e Adúriz; do Sevilha vem Sergio Rico; do Celta, Nolito; e do Villarreal, Bruno. Os demais são atletas espanhóis presentes nas ligas europeias: Casillas é do Porto; De Gea, do Manchester United; Silva, do Manchester City; Bellerín, do Arsenal; Azpilicueta, Fábregas e Pedro, do Chelsea; Thiago, do Bayern; e Morata, da Juventus.
Com este cenário, o selecionador espanhol quer construir uma equipa forte na defesa, rápida no meio-campo e com pontaria na grande-área. Del Bosque potencia o quase esquecido jogo de extremos, pelos flancos, com figuras como Nolito e Lucas Vázquez destinados a ser protagonistas. Isco (Real Madrid) e Saúl (Atlético de Madrid) são os únicos “seguros”, a priori, que acabarão por não estar no grupo cujo estágio que se instalará na tranquila ilha atlântica de Ré.
No domingo, 26 de junho, quando os espanhóis voltarem às urnas para escolher um Governo, a seleção começará a disputar (se chegar a essa fase, passado o desafio do grupo inicial) os oitavos de final do Europeu 2016. Desta vez, por motivos de calendário, será difícil os partidos políticos apropriarem-se dos êxitos da seleção nacional de futebol, caso estes, bem entendido, venham a acontecer.
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