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Euro 2020

Christian Eriksen está vivo

Bruno Vieira Amaral tinha pensado escrever sobre Pohjanpalo. Ou sobre Kieffer Moore. Ou sobre Romelu Lukaku. Ou sobre Haris Seferovic. Mas depois do que se passou este sábado em Copenhague, no Dinamarca-Finlândia, este é o tema obrigatório que não nos sai da cabeça

Christian Eriksen está vivo. Repito: Christian Eriksen está vivo. Eu queria escrever sobre Pohjanpalo, avançado finlandês, ou Kieffer Moore, jogador do País de Gales, que me lembraram que um dos grandes prazeres das competições internacionais de seleções é a descoberta de nomes semi-obscuros mesmo numa época em que tratamos por tu as sobrancelhas das maiores estrelas da modalidade; queria escrever sobre Romelu Lukaku (haverá uma língua em que Lukaku significa “montanha que corre”), um prodígio de força, explosão e precisão; queria escrever sobre Haris Seferovic, um ponta-de-lança com o adjetivo “perdulário” colado ao apelido; mas esta frase – Christian Eriksen está vivo – continua a intrometer-se.

Hoje, tudo poderia ser diferente e estaríamos a falar de mais uma tragédia no futebol, do absurdo que seria a morte repentina de um jovem desportista, do sofrimento de todos os que o amam e admiram e dos desconhecidos que assistiram ao desenrolar angustiante do episódio no campo ou através da televisão.

Estaríamos a falar de morte, de tristeza, de luto, de raiva, e esqueceríamos o resto, avançados finlandeses e montanhas que correm, contos de fada galeses e suíços perdulários.

Assim, é da vida que temos de falar. Da vida, da ação dos médicos que assistiram o jogador dinamarquês, da dignidade e sangue-frio dos companheiros de equipa, da solidariedade do mundo inteiro. E também da sorte, do acaso e, para aqueles que acreditam, de Deus.

Acima de tudo, temos de declarar uma e outra vez que Christian Eriksen está vivo.

Dita ontem, minutos antes do jogo entre Dinamarca e Finlândia, a frase seria estúpida de tão evidente. Hoje soa a festejo, a afirmação universal da felicidade, porque temos a consciência, dada pela sombra da morte, de que bastaria um segundo, uma vírgula, uma hesitação, para que não a pudéssemos dizer.

Christian Eriksen está vivo. Tudo acabou bem.

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