Se há uma bola, Renato não vai desistir dela

Jornalista
Falemos de momentos decisivos. Ronaldo a respirar fundo, enfrentando Hugo Lloris sem tremer um segundo que fosse apesar da solenidade da situação, a enganar o capitão francês. Duas vezes. A última com direito a recorde. Depois, ***aquela*** defesa de Rui Patrício. Voo danado, mão lá em cima, tendões quase a rebentar, todo o tamanho do Mundo e ainda o discernimento de afastar a recarga de Griezmann.
Sem eles, talvez o jogo não tivesse terminado empatado.
Mas é possível que a grande diferença entre o desalinhar total e completo dos astros que foi o jogo com a Alemanha e este com a França tenha sido algo bem mais prosaico, que não dura uma fração de segundos, para lá de um momento instintivo. Algo chamado atitude. E nesse particular, ninguém personifica mais essa mudança que Renato Sanches. É possível que João Moutinho tenha sido o homem que nos deu o equilíbrio que tínhamos desbaratado em Munique. É certo que Cristiano Ronaldo bisou. Mas Renato… enquanto houver uma bola, Renato Sanches não vai desistir dela.
Se Moutinho deu a Portugal a dimensão tática, o critério com bola e o posicionamento certo sem ela, Renato ataviou-nos com a expressão física, do homem que aguenta o choque, que resiste à pressão, que pode não ganhar à primeira, mas vai atrás para ganhar à segunda. Que quebra linhas com as suas cavalgadas. Que nos dá peso, força, os dentes cerrados. Que nos dá a tal atitude, que não chega para ganhar jogos, isso é certo, mas ajuda a tornar melhores aqueles que já são bons.
Dele não se viram passes para golo, assistências, remates perigosos - nesse particular até esteve desastrado - mas foi com ele que ganhámos tantas vezes o meio-campo, foram dele várias recuperações de bola decisivas a travar ataques azuis, brancos e vermelhos e, apesar de algumas bolas perdidas, mais difícil ainda é tirar-lha.
Diz-nos o Sofascore que Renato Sanches, saído aos 88’ sem o ar de quem iria desfalecer nesse preciso segundo, ao contrário de quase todos os colegas e rivais depois de intensas correrias entre a noite escaldante de Budapeste, tocou 95 vezes na bola, teve um acerto no passe de 93%, falhando apenas cinco dos 74 tentados. Ganhou nove dos 15 duelos que disputou, recuperou oito bolas, sofreu três faltas e ainda contou três desarmes. Não se vêem aqui muitos remates, ocasiões promissoras criadas foi apenas uma, não houve, lá está, momentos decisivos. Mas é uma estatística de trabalho, de 88 minutos de esforço, de atitude, de quem foi para o campo com a faca entre os dentes, porque contra Mbappés e Griezmanns, Benzemas e Pogbas, tem mesmo de ser assim.
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