Consequência das sanções impostas aos desportistas russos após a invasão da Ucrânia, a Haas decidiu cortar laços com a Uralkali, empresa russa de químicos e, por arrasto, com Nikita Mazepin, filho de Dmitry Mazepin, dono da companhia. Nikita foi na última temporada um dos pilotos da equipa e a frustração de deixar a Fórmula 1 levou-o a dar uma entrevista em vídeo, a partir de Moscovo, à imprensa internacional. “Sei como está o mundo, mas deram cabo do meu sonho desportivo, sem avisar”, desabafou.
O piloto de 23 anos queixa-se ainda da atuação da ex-equipa: “Não me disseram nada sobre isto e soube que iam despedir-me no mesmo dia que a imprensa. Ninguém está preparado para isto. (…) Não me deram apoio”. E para que não falte apoio a outros desportistas que se vejam na mesma situação, Mazepin pretende agora criar uma fundação chamada “We Compete as One”, talvez em resposta ao motto que a Fórmula 1 adoptou na luta contra o racismo e desigualdade social, “We Race as One”. Grande parte dos fundos será proveniente da fortuna do seu pai.
“Não há razão legal para que a equipa termine o contrato, a partir do momento em que a FIA nos deixava correr com uma bandeira neutral”, sublinhou o russo. “Eu aceitei ser neutral e queria assinar um documento para tal, mas não me deram tempo. Fiquei sem o sonho por que lutei durante 18 anos”, lamentou.
Nikita Mazepin não quis valorizar o facto de ser neutral, mesmo que o seu pai seja próximo de Vladimir Putin. “O mundo não é o mesmo de há duas semanas, sei e entendo-o. É um tempo difícil, tenho amigos nos dois lados do conflito e nada se compara a isso”, referiu o piloto, que negou os rumores de que Mick Schumacher ou algum dos patrocinadores do alemão tenham algo a ver com o seu despedimento, sublinhando ainda que vários pilotos da grelha, como Sérgio Pérez, Valtteri Bottas, Charles Leclerc e George Russell, enviaram-lhe mensagens a mostrar apoio.
Uralkali quer dinheiro de volta
Entretanto, a Uralkali anunciou que iniciou procedimentos legais para reaver fundos que diz ter já investido na Haas para a temporada de 2022.
“Tendo em conta que o patrocínio para a época de 2022 já foi transferido para a Haas e que a equipa terminou o contrato ainda antes da primeira corrida, a Haas falhou as suas obrigações para com a Uralkali”, pode ler-se num comunicado da empresa russa, que pede “reembolso imediato do dinheiro recebido” pela equipa norte-americana.
A Uralkali frisa ainda que a decisão da Haas de terminar o acordo de patrocínio na sequência da invasão russa à Ucrânia foi “despropositada” e que a Fórmula 1 deve permanecer neutral “em questões políticas” e livre de “pressões de factores externos”.
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