É quase um segundo mundial de Fórmula 1. Os adeptos acompanham toda a temporada ao longo do ano e depois têm a oportunidade de rever as corridas, voltar a vibrar – ou não – com os resultados e ainda ter acesso ao que se passa para lá do que as televisões mostram quando transmitem os fins de semana de corrida.
A ideia convenceu de tal forma que a série conseguiu empurrar a popularidade da própria modalidade para níveis mais elevados e para um público mais jovem. Lançada no início de 2019 e agora na sua 4.ª temporada, que estreia esta sexta-feira, mais de 50 milhões de pessoas assistiram à série só em 2021. Ao mesmo tempo, a Fórmula 1 ganhou no ano passado cerca de 73 milhões de fãs em mercados que incluem o Brasil, China e França.
“Quando terminámos a primeira temporada, penso que não tínhamos quaisquer expectativas”, disse Paul Martin, um dos dois produtores executivos da série, ao website Insider. “Esperávamos que as pessoas fossem gostar e que a vissem como uma lufada de ar fresco neste mundo”.
O sucesso é inquestionável, mas não demorou muito até que os criadores do programa percebessem que é mesmo impossível agradar a todas as pessoas. A parte técnica da modalidade é deixada de fora, não se explica como é feito o carro, como funcionam os regulamentos ou outros pontos mais específicos da categoria-rainha. O foco aqui é a ação, o drama e o conflito. Algo que não é do agrado de todos os adeptos.
“Foi definitivamente uma tentativa deliberada de nos afastarmos do lado técnico. E isso não é porque não estejamos interessados nessas coisas, mas é difícil retratá-las. O público não precisa de saber e compreender essas coisas para apreciar F1. Se o fizer, tenho a certeza que melhora a experiência se isso for uma área que gosta, mas a maioria dos espectadores não quer saber”, disse Martin.
Rivalidades entre pilotos, como a de Sebastian Vettel e Charles Leclerc enquanto colegas de equipa na Ferrari, problemas dentro das equipas, como a procura de um novo patrocinador por parte da Haas, ou experiências pessoais de cada piloto, como a luta de Lewis Hamilton contra o racismo ou o acidente de Roman Grosjean, são alguns dos temas já abordados na série. Um produto que James Gay-Rees, outro dos produtores executivos, descreve como “uma novela”.
Chegar a este produto final não foi tarefa fácil, uma vez que para mostrar tudo aquilo que se passa onde geralmente as câmaras não chegavam é necessário ganhar a confiança dos pilotos e equipas. Inicialmente, a Mercedes e a Ferrari recusaram-se a participar e só mais tarde mudaram de ideias. Max Verstappen, piloto da Red Bull, também não quis aparecer nas últimas temporadas, com medo que algumas falsas narrativas fossem criadas – o atual campeão do mundo criticou, aliás, esse lado menos real da série.
“Tudo isto é um exercício de construção de confiança”, disse Gay-Rees. “Os pilotos mais jovens estão mais sensibilizados a nível social, eles entendem, porque toda a gente está a filmar tudo o tempo todo nos dias de hoje. Mesmo aqueles de quem não se esperaria, como Charles [Leclerc] e Carlos [Sainz] na Ferrari, estão totalmente envolvidos, apesar de fazerem parte desta equipa enorme. São os pilotos mais velhos que dizem: “Não preciso disso”. Mas, ao mesmo tempo, precisas de ganhar a confiança e é aí que entra o equilíbrio”.
A temporada 4 vai mostrar um lado ainda mais humano do universo da Fórmula 1. Entre os temas abordados está (spoiler alert!) a relação entre Lando Norris e Daniel Ricciardo no primeiro ano como colegas de equipa ou o mundo de Nikita Mazepin, da empresa Uralkali, do seu pai, e da Haas.
Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt